Três penáltis defendidos por Diogo Costa, duas razões opostas para Ronaldo ficar em lágrimas (primeiro pela tristeza de falhar uma grande penalidade, depois pela alegria de ver Portugal sair por cima no desempate), uma vitória que colocou a Seleção nos quartos para defrontar a França. Este poderia ser o resumo único do encontro da formação nacional diante da Eslovénia em Frankfurt. No entanto, há números que ajudam a perceber o resto, no bom e no mau, com destaque para as ações de Palhinha e a incapacidade ofensiva.

O dia em que as mãos de Diogo evitaram que Ronaldo chorasse pela última vez (a crónica do Portugal-Eslovénia)

3 De forma inevitável, as três grandes penalidades defendidas por Diogo Costa noutras tentativas da Eslovénia fizeram a diferença no resultado final e na passagem de Portugal aos quartos para jogar com a França. Com uma curiosidade: o guarda-redes do FC Porto teve apenas duas intervenções ao longo de 120 minutos, a primeira num remate forte mas ao meio da baliza de Sesko no final da primeira parte e a segunda a cinco minutos do fim do prolongamento depois de um erro de Pepe que deixou mais uma vez o avançado do RB Leipzig completamente isolado, mas defendeu depois três penáltis de forma seguida que ficam na história como a primeira vez em que um guardião travou tantas tentativas no mesmo encontro.

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6 O caudal ofensivo que Portugal foi tendo ficou mais circunscrito à posse, aos cruzamentos ou às incursões na área contrária do que propriamente aos remates enquadrados. Aliás, foi preciso ir até aos 90 minutos para haver uma oportunidade com concretização entre os postes de bola corrida, quando Ronaldo foi lançado em profundidade mais descaído para o lado esquerdo e atirou para defesa de Jan Oblak. Houve um livre de Ronaldo, houve a grande penalidade do capitão e houve um desvio de cabeça de João Palhinha após livre lateral, mas as 20 tentativas não levaram na sua maioria o destino desejado incluindo um remate de Palhinha que chegou a bater no poste mesmo em cima do intervalo.

21 Na altura foi entendido à luz da aposta num esquema de três defesas, depois foi-se percebendo que não fazia muito sentido. João Palhinha começou o Europeu como suplente mas demorou apenas uma partida a entrar na equipa para não mais sair e o encontro com a Eslovénia foi mais um exemplo da importância do médio, que voltou a bater o recorde de duelos ganhos (21) e desarmes (nove) num só jogo da competição, juntando a isso mais quatro interceções e o facto significativo de ter registado seis dessas ações defensivas no meio-campo contrário. O remate ao poste de fora da área e um desvio de cabeça para defesa de Oblak foram os “acrescentos” à parte mais defensiva.

29 Portugal carregou quase todas as ações ofensivas pelos corredores laterais, com ligeiro ascendente do lado direito (26) em relação ao esquerdo (22) com apenas quatro pelo meio, e conseguiu um total de 29 cruzamentos (66% do lado direito, entre João Cancelo, Bernardo Silva, Bruno Fernandes e Francisco Conceição). Resultados práticos? Nenhum. Ronaldo ainda teve um lance pelo ar em que desviou a meias entre ombro e cabeça mas se a solução dos cruzamentos mais por baixo ao segundo poste ficou duas vezes perto da finalização, por cima nunca tiveram qualquer sucesso. Um outro dado importante: desde o início do Europeu, Portugal já teve um total de 36 cantos, numa média de nove por encontro, mas, ao contrário do que se viu nos últimos particulares, continua sem criar perigo.

38 Quando se fala no “choque” da Seleção contra blocos mais baixos e as dificuldades que esse momento pode acarretar, a ideia que paira é que se torna complicado “furar” a defesa do adversário e que a única forma de chegar à baliza passa por testar a meia distância. Mais uma vez, não foi isso que aconteceu e Portugal conseguiu tocar 38 vezes na bola na área contrária, quase quatro vezes mais do que a Eslovénia. O que falhou? A intencionalidade que essas ações tiveram. E foi por isso que, nos 90 minutos regulamentares, foi numa meia distância de Palhinha que nasceu o principal lance de perigo até Ronaldo aparecer na área lançado em profundidade para o remate que ficou nas mãos de Oblak.