O furacão Beryl continua no seu rasto de destruição, somando mais uma morte, na Jamaica, às nove provocadas nas Caraíbas. O furacão, que entretanto baixou para a categoria 3, deixou na madrugada desta quinta-feira o território jamaicano onde causou inundações e deslizamentos de terras, e dirigiu-se para as Ilhas Caimão, onde provocou fortes chuvas e ventos.

A zona sul do México e o Golfo do México estão agora no caminho do furacão, que poderá atingir o continente americano na noite de domingo ou na manhã de segunda-feira — algures na fronteira entre o norte do México e o estado americano do Texas.

O centro norte-americano relatou ainda uma redução na velocidade dos ventos do furacão, atingindo máximos próximos aos 200 km/h e passando para a categoria 3. Apesar disso, a tempestade continua “potencialmente letal”.

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Durante a sua passagem pela Jamaica, o Beryl danificou centenas de casas, deixou milhares sem energia, e cortou cerca de 80 estradas. A região de Santa Elizabeth, conhecida como o “celeiro” do país devido ao seu papel de fornecimento de alimentos, foi uma das mais afetadas.

“Sofremos alguns danos muito relevantes”, relatou o dirigente do maior grupo de agricultores da Jamaica, citado pelo The New York Times, explicando que algumas culturas como a da cenoura e a do café foram gravemente danificados. Vídeos publicados nas redes sociais, como o X (antigo Twitter) mostram a devastação causada no país.

Nesta quinta-feira, durante a noite, ainda são esperados efeitos da tempestade em território jamaicano, estando ainda previstos novos deslizamentos de terra e inundações.

O serviço de meteorologia da Jamaica suspendeu nesta quinta-feira o alerta para furacão, enquanto as Ilhas Caimão e partes da península de Yucatan, no México, ainda o mantêm, detalhou o NHC nas suas redes sociais.

A Jamaica começou a preparar-se para o pior ainda na terça-feira, quando parte da população se abasteceu de mantimentos.

“É melhor ter e não precisar, do que precisar e não ter”, resumia um residente da capital jamaicana ao New York Times, perante as ruas agitadas e supermercados lotados que estão a anteceder a chegada do furacão.

Furacão Beryl atingiu categoria de “potencialmente catastrófico” e aproxima-se da Jamaica após devastar Granada, nas Caraíbas

Numa atualização na rede social X, o NHC alertava, um dia antes, para a eminente chegada do Beryl à Jamaica na quarta-feira à tarde, onde era esperado que provocasse ventos e tempestades potencialmente fatais, e uma possível  subida do nível do mar de 2.7 metros de altura. Apontava também que o próximo alvo seriam as Ilhas Caimão, que deveriam ser afetadas a partir desta quarta-feira à noite, previsão que acabou por não se confirmar. Beryl só deve chegar esta quinta-feira à noite.

Em antecipação, na Jamaica, o primeiro-ministro Andrew Holness ordenou o recolhimento obrigatório e o fecho de todos os serviços governamentais esta quarta-feira entre as 6h00 e as 18h00 locais, expeto os serviços essenciais. Também os principais aeroportos do país fecharam na noite de terça-feira, segundo anunciaram os operadores responsáveis.

Numa conferência de imprensa esta semana, Holness também apelou à retirada dos cidadãos das áreas mais baixas, especialmente ao longo da costa sul, por onde Beryl deverá passar. Já  “compreendo perfeitamente que as pessoas não querem deixar as suas propriedades, mas o mais importante são as suas vidas”, sublinhou.

No últimos 40 anos, apenas dois furacões atingiram a Jamaica: Sandy, em 2012, e o Gilbert, em 1988, sendo este último o que chegou à região com maior intensidade, com ventos de 209 quilómetros por hora. Previa-se que Beryl ultrapassassem o recorde, com ventos a alcançarem os 233 quilómetros por hora, o que não se registou.

A destruição nas Caraíbas e Venezuela

“O furacão veio e partiu, e deixou para trás um rasto imenso de destruição.” As palavras são do primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas no dia em que o Beryl, o poderoso furacão de categoria 5, se começou a afastar da região. Na sua passagem por várias ilhas da região das caraíbas já tinha provocado, até àquele momento, seis mortos, segundo noticiou a imprensa internacional.

Na sua passagem por São Vicente e Granadinas na terça-feira, este furacão, o primeiro da temporada do Atlântico deste ano, destruiu uma série de infraestruturas, incluindo habitações, escolas e hospitais. Numa das ilhas do arquipélago, 90% das casas ficaram “severamente danificadas ou destruídas”, revelou o primeiro-ministro Ralph Gonsalves, citado pela agência Reuters.

Granada também foi duramente atingida. O primeiro-ministro, Dickon Mitchell, revelou que Carriacou e Petite Martinique, duas das ilhas que compõem o país, foram as mais afetadas. “A situação é sombria. Não há eletricidade. A maior parte das casas e edifícios foram destruídos”, disse na terça-feira numa conferência de imprensa.

O último furacão forte a atingir o sudeste das Caraíbas foi o Ivan, há 20 anos, que causou dezenas de mortos em Granada.

A ajuda humanitária começou a ser distribuída nas ilhas de São Vicente e Granadinas ainda na quarta-feira. A organização não-governamental World Central Kitchen está a distribuir apoio alimentar nas ilhas de São Vicente e Granadinas, após ter chegado de helicóptero à região. Num vídeo publicado pela ONG na rede social X (antigo Twitter), a equipa referiu que já conseguiu entregar fruta, água e sandes pela região.

“Estamos a mobilizar-nos em todas as Caraíbas para aceder às ilhas mais atingidas e prestar algum apoio à comunidade que sofreu uma tempestade de categoria 4”, afirmou Melissa Gluck, voluntária da ONG, na publicação.

Já ao passar pela Venezuela (cuja costa faz parte das Caraíbas), Beryl fez mais três mortos, quatro desaparecidos e danificou oito mil casas com os efeitos das chuvas associadas ao furacão. “Infelizmente, está confirmada a morte de três pessoas, dois homens e uma mulher (…) e quatro outras pessoas estão desaparecidas, dois homens e duas mulheres. Há 8.000 casas afetadas, com distintos níveis, e 400 casas com perda total”, anunciou o Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, na televisão estatal.

Delcy Rodríguez, vice-Presidente da Venezuela, também sofreu um acidente na localidade de Cumanacoa, no estado de Sucre, no leste do país. “Rodríguez teve um acidente em Cumanacoa” ao ser atingida por uma de várias árvores que caíram devido ao vento, disse o Presidente venezuelano, acrescentando que a equipa e várias pessoas da cidade também foram atingidas. De acordo com o ministro da Administração Interna e Justiça da Venezuela, Remígio Ceballos, as chuvas torrenciais afetaram pelo menos 25.000 pessoas no país.

Nunca um furacão se tinha intensificado tão rápido antes de setembro

A chegada anormalmente precoce e a rápida intensificação da tempestade para furacão deve-se, em parte, às temperaturas mais altas dos oceanos, têm indicado vários cientistas à imprensa, acrescentando que as alterações climáticas são parte do problema.

O Beryl, que começou como uma tempestade tropical, transformou-se no primeiro furacão da temporada do Atlântico de 2024. Nenhuma outra tempestade atlântica alguma vez tinha crescido para a categoria 5 tão cedo na época, destacou em declarações ao New York Times o meterologista Philip Klotzbach. É que o Beryl saltou de uma tempestade de categoria 1 para uma tempestade de categoria 4 em menos de 10 horas, segundo disse Andra Garner, meteorologista da Universidade Rowan, à Reuters. Isso marca a intensificação mais rápida alguma vez registada antes de setembro, o pico da temporada de furacões no Atlântico, explicou.

O furacão atingiu pela primeira vez a categoria 5, em que os ventos podem atingir velocidades de 253km/h, no final da tarde de segunda-feira. Na terça-feira chegou a enfraquecer e baixar de categoria, mas já retornou ao nível 5.

O fenómeno está a ser monitorizado por vários organismos, incluindo a NASA, que partilhou imagens do furacão captadas a partir da Estação Espacial Internacional na manhã de segunda-feira. Já a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos da América (NOAA) divulgou esta terça-feira um timelapse que dá conta da rápida evolução Beryl ao longo dos últimos quatro dias.