A peça “Partida ou a mulher sem medo”, inspirada na figura da secretária de Humberto Delgado Arajaryr Campos, da autoria de Armando Nascimento Rosa, subirá sexta-feira ao palco do Omnibus Theatre, em Londres, disse o dramaturgo à agência Lusa.
Com estreia em 2016, como exercício final dos alunos da licenciatura em teatro da Universidade de Évora e nova apresentação em Setúbal, em 2018, a peça põe em palco a reunião impossível, e que não foi feita em vida, entre “a corajosa” Arajacyr Campos e sua filha, acrescentou o dramaturgo.
A apresentação da peça em Londres — com o título “Departure — A woman without fear“, que repete no dia seguinte, resulta de uma colaboração entre o dramaturgo e professor e a tradutora e dramaturga britânica Susannah Finzi, que viveu em Portugal nos anos 1970 onde aprendeu a falar português.
A tradutora, que tem feito algumas conversões para inglês de dramaturgias portuguesas, terá também no palco do mesmo teatro inglês a sua peça “Uma reputação” (“A reputation“, na versão original) na qual “efabula um diálogo entre António de Oliveira Salazar e o seu confessor”, acrescentou o autor.
Trata-se de duas peças “breves”, “muito diferentes ao nível das opções teatrais”, já que a da tradutora britânica tem um “registo mais realista” e a do dramaturgo português “é mais metateatral”, disse.
Em Londres, as duas peças surgirão com o título “Two stories from the time of Salazar”, referiu.
“Partida ou mulher sem medo” é inspirada num pequeno livro de memórias escrito por Arajaryr Campos, que foi secretária e companheira de Humberto Delgado no exílio e com quem foi assassinada pela Pide em 13 de fevereiro de 1965.
A obra da “corajosa Arajaryr”, uma figura que ficou sempre na sombra, foi um testemunho que quis deixar à filha, que na altura era uma criança, para que um dia pudesse compreender a missão da mãe, observou.
“Através do teatro faço a reunião da mãe e filha, que não foi possível em vida”, frisou.
Com uma colaboração com Susannah Finzi desde que, há 10 anos, integrou como cantor o elenco da sua peça “Blind Eye”, na companhia Lisbon Players, Armando Rosa regressa agora àquele teatro em Londres onde, em 2019, apresentara outra peça.
Susannah Finzi parte de um projeto chamado “Out of the Wings” que está ligado ao King College, e no qual um grupo de estudiosos que integra pessoas que fazem tradução de dramaturgia ibero-americana para inglês.
E este projeto, que é organizado pela estrutura Modern Culture, tem por hábito, realizar um evento anual com espetáculos e leituras encenadas em tradução inglesa, indicou, acrescentando que o evento também abrange a realização de colóquios sobre escrita e tradução para teatro.
Em Lisboa, no Museu do Aljube, em outubro, haverá uma iniciativa “em espelho” com a que se realiza agora em Londres, com a apresentação dos dois textos dramáticos, que surgirão com o título “Duas peças em Estado Novo”, revelou Armando Nascimento Rosa.
Em Lisboa, a peça terá um elenco composto por alunos e antigos alunos da Escola Superior de Teatro e Cinema, onde o dramaturgo leciona, como no Instituto Politécnico de Lisboa, e será dirigida, tal como em Londres, por Mariana Aristizábal Pardo, co-fundadora e co-diretora da Mariana Malena Theatre Company , companhia de teatro latino-americana liderada por mulheres, com sede em Londres.
Após a apresentação das peças, Armando Nascimento Rosa irá ainda apresentar algumas canções do repertório do seu álbum com edição digital “O fado é estranha alegria” — a sair em breve noutro formato.
Acompanhado pelo guitarrista Alfredo Almeida, o autor interpretará ainda temas de outros compositores, como “Cantares do Andarilho” de José Afonso, “Novo Fado da Severa”, com letra sua e composição original do maestro Frederico de Freitas e dois temas de Carlos Ramos serão também interpretados por Armando Nascimento Rosa, adiantou à Lusa.
A apresentação das peças e o apontamento musical em Londres decorrem no evento “Viva Portugal”, que assinala os 50 anos do 25 de Abril de 1974.