Coordenadores de cuidados de saúde primários da Unidade Local de Saúde (ULS) da Região de Leiria consideram urgente a criação de estratégias para fixar e atrair médicos.

“É urgente pensar-se em estratégias para fixar os médicos que temos e evitar que continuem a rescindir contrato, bem como estratégias para atrair médicos para a nossa ULS”, lê-se numa carta dirigida ao presidente do Conselho de Administração subscrita por 26 médicos com funções de coordenação em unidades de saúde familiar (USF), de cuidados de saúde personalizados e de saúde pública, à qual a agência Lusa teve acesso.

Através do documento reconhece-se que nos últimos concursos médicos “inúmeras vagas ficam por preencher” na ULS, quer nos cuidados de saúde primários, como em especialidades hospitalares, defendendo-se a necessidade de se refletir “sobre as razões para os jovens médicos não verem Leiria como um local apelativo para a sua formação e/ou carreira”.

Na carta, através da qual expressam as preocupações com a situação dos cuidados de saúde primários, os subscritores notam que a ULS da Região de Leiria está “entre as que têm maior número de utentes sem medido de família” e temem que “este cenário possa vir a agravar-se dada a progressiva insatisfação” destes profissionais.

“Um possível aumento do número de utentes sem médico de família, sem controlo das suas doenças crónicas, sem atuação ao nível da prevenção da doença e na promoção da saúde, inevitavelmente levará a uma maior afluência ao serviço de urgência, aumento dos internamentos hospitalares e a um aumento do pedido de primeiras consultas hospitalares”, advertem os médicos, adiantando que isto levará “ao aumento nos gastos em saúde”.

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Os coordenadores adiantam que “foi, ciente da necessidade de reforçar” os cuidados de saúde primários “e de manter os seus recursos humanos”, que a Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde implementou a generalização das USF modelo B (com incentivos financeiros por objetivos).

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Reconhecendo que “as mudanças organizativas levam tempo a ser implementadas”, os médicos referem, contudo, que “já passaram mais de seis meses”, mas nada veem “ser feito para continuar a motivar de forma a manter” os profissionais.

Nesse sentido, os subscritores pedem a “máxima atenção” às “preocupações e motivos de insatisfação”, uma das quais se prende com a “liquidação dos vencimentos e retroativos”, sustentando não se justificarem “os atrasos nos pagamentos” a médicos, enfermeiros e assistentes técnicos.

Por outro lado, no que se refere ao regime de dedicação plena, notam que os profissionais que o pediram “não obtiveram a devida atualização no mês seguinte ao pedido”.

Já no que diz respeito à “gestão verticalizada das ULS”, os subscritores frisam que esta “prejudica a atividade diária”, uma vez que é “extremamente burocratizada, tendo como consequência o aumento dos tempos de resposta e redução da capacidade de decisão” dos cuidados de saúde primários.

Os médicos, que manifestam disponibilidade para colaborar na implementação de medidas para ultrapassar estas situações, apontam ainda a “duplicação de tarefas desnecessárias” na sua prática clínica.

“(…) Com a insuficiência de recursos humanos e de recursos físicos hospitalares, somos constantemente solicitados para a prescrição de exames solicitados a nível hospitalar, bem como pedidos de fisioterapia, emissão de baixas e referenciações a consultas para as quais os colegas estão impedidos de fazer internamente”, escrevem, assinalando que se trata de uma “utilização de recursos inadequada e desgaste” dos cuidados de saúde primários.

À Lusa, fonte do Conselho de Administração da ULS da Região de Leiria revelou que nos próximos dias vai decorrer uma reunião com os subscritores para abordar estas matérias.

Em junho, após uma reunião com as comissões de utentes da área de influência da ULS, o presidente do Conselho de Administração, Licínio de Carvalho, citado numa nota de imprensa, declarou que 22% da população “não têm médico de família e 19% não têm médico assistente”, além de que há um défice de 100 médicos especialistas nas unidades hospitalares da sua área de influência.