Durante o ataque do Hamas, a 7 de outubro, as Forças de Defesa de Israel (IDF, em inglês) utilizaram o chamado “protocolo Hannibal”, uma política militar israelita controversa que tem por objetivo impedir a todo o custo a captura de soldados israelitas, mesmo que isso implique a vida de reféns. A informação foi revelada numa investigação do Haaretz publicada este domingo.

De acordo com o meio de comunicação israelita, a diretiva foi aplicada em três localizações distintas, pondo potencialmente em perigo também civis. Escreve o jornal que, cerca de cinco horas após o início do ataque do Hamas a 7 de outubro, uma mensagem enviada à divisão israelita de Gaza ordenava: “Nem um único veículo pode regressar a Gaza.” “Toda a gente sabia que esses veículos podiam transportar civis ou soldados raptados… Toda a gente sabia o que significava não deixar nenhum veículo regressar a Gaza”, disse uma fonte do comando sul ao mesmo jornal.

O Hamas capturou dezenas de israelitas, muitos dos quais ainda estão em cativeiro ou foram mortos em ataques aéreos israelitas em Gaza, segundo o grupo armado palestiniano.

Reporta o Haaretz que não é claro se civis ou soldados foram feridos em resultado da aplicação do “protocolo Hannibal”, mas documentos e testemunhos de soldados e oficiais superiores das Forças de Defesa de Israel sugerem que a prática foi utilizada de forma “generalizada” a 7 de outubro, num contexto de falta de informação em que as IDF se esforçaram por responder ao ataque.

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Em resposta à reportagem supracitada, um porta-voz das forças israelitas afirmou ao jornal que estão a decorrer investigações internas sobre o que aconteceu a 7 de outubro e no período anterior. “O objetivo destas investigações é aprender e tirar lições que possam ser utilizadas para continuar a batalha. Quando estes inquéritos estiverem concluídos, os resultados serão apresentados ao público com transparência”, refere o comunicado, citado pelo diário.

O “protocolo Hannibal”, recorda o Haaretz, foi originalmente redigido em meados de 1986 por Yossi Peled, então chefe do Comando do Norte das IDF, poucos meses depois de o Hezbollah ter capturado dois soldados israelitas no sul do Líbano. A diretiva original, redigida em conjunto com o oficial de operações do Comando do Norte, Gabi Ashkenazi (que viria a ser Chefe do Estado-Maior das IDF) e o oficial dos serviços secretos, Coronel Yaacov Amidror (mais tarde Conselheiro de Segurança Nacional), afirmava que “em caso de captura, a principal missão passa a ser salvar os nossos soldados dos captores, mesmo à custa de atingir ou ferir os nossos soldados”.

Ao longo dos anos, a diretiva tem sido objeto de diferentes interpretações e alvo de discussão entre militares. De acordo com o meio de comunicação social israelita, “soldados e oficiais do exército chegaram mesmo a informar os seus comandantes de que se recusariam a cumprir tal ordem que poria em perigo a vida dos seus amigos”. Outros consideraram “que pôr em risco a vida de um soldado israelita era uma medida razoável a tomar para evitar que [este] caísse nas mãos do Hamas ou do Hezbollah”.

Foi em janeiro que surgiram as primeiras alegações de que as IDF poderiam ter utilizado o este protocolo para impedir que os combatentes do Hamas regressassem a Gaza com reféns, chamou a atenção a Aljazeera, na sequência da reportagem publicada este domingo.

Na semana passada, a Divisão de Informação das IDF apresentou as conclusões preliminares de uma investigação que analisa as ações israelitas nas vésperas do 7 de outubro. A investigação concluiu que as forças israelitas tinham informação suficiente para tentar impedir o ataque de 7 de outubro, o mais mortífero em solo israelita desde a fundação do Estado em 1948.