Em junho, antes do início da Copa América, uma publicação de Ronaldinho Gaúcho nas redes sociais causou o pânico no futebol brasileiro. Com frases muito claras e até agressivas, o antigo jogador sublinhava a “falta de amor à camisola, a falta de garra” da seleção do Brasil e garantia que nem sequer iria assistir a qualquer jogo da competição. Tudo não passava de uma polémica campanha publicitária — contudo, menos de um mês depois, as palavras de Ronaldinho Gaúcho são o sentimento transversal no Brasil.

Os brasileiros foram eliminados nos quartos de final da Copa América no passado sábado e na decisão por grandes penalidades contra com o Uruguai, sendo que passaram 22 minutos a jogar em superioridade numérica depois de Nahitan Nández ter sido expulso com cartão vermelho direto. O Brasil volta assim a passar ao lado da competição, que não conquista desde 2019, e termina a participação no torneio com apenas uma vitória em quatro jogos.

As responsabilidades sobre a prestação pobre na Copa América têm sido apontadas a vários fatores: a ausência de Neymar, que ainda está lesionado, a quebra de rendimento de Vinícius, que cobrou a fatura de uma temporada exigente no Real Madrid, ou até a ausência de ligação atual entre o fim da geração anterior e o início da seguinte. Ainda assim, praticamente todos os analistas concordam com a ideia de que Dorival Júnior, selecionador que em janeiro sucedeu a Fernando Diniz depois de a opção Carlo Ancelotti ter caído, tem muitas justificações a dar.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

E nem sequer é preciso fazer análises táticas e técnicas aos jogos da Copa América para chegar a essa conclusão. Basta ver um vídeo. No momento em que Brasil e Uruguai preparavam a decisão por grandes penalidades e enquanto Marcelo Bielsa era atentamente ouvido pelos jogadores uruguaios, Dorival Júnior surgia totalmente de fora da roda dos brasileiros, a tentar ouvir o que os próprios jogadores combinavam entre si e sem possibilidade de opinar ou dar indicações.

Foi despedido por causa de Neymar, treinou 20 clubes, foi jogador de Scolari. Dorival Júnior, o selecionador que só fazia “feijão com arroz”

Depois da eliminação e apesar de ter assumido a “responsabilidade”, o selecionador brasileiro apontou ao futuro e à importância da qualificação para o Mundial 2026. “Este tipo de trabalho exige muita paciência. Há que tê-la. Tenho de reconhecer que estes não foram os resultados esperados e assumo total responsabilidade por eles, mas também acho que esta equipa tem muito espaço para crescer, evoluir e melhorar”, começou por dizer.

“Considerando o que tenho visto todos os dias no treino, acho que ainda podemos crescer como equipa. Muitas pessoas podem não entender, as coisas são assim quando se faz tudo do zero. Há altos e baixos no futebol. Ficar de fora da roda? Já tínhamos definido as cinco posições iniciais. Fiquei de fora porque já tinha falado com cada um deles”, acrescentou Dorival Júnior.

“Projeto de fracasso bem elaborado.” Brasil leva o pior ano desde 1968, sofreu primeira derrota em casa numa qualificação e ouviu olés

Em sentido contrário, as críticas mais amargas à participação do Brasil vieram de Galvão Bueno, mítico jornalista e narrador de jogos que é uma das vozes mais respeitadas do futebol brasileiro. “Estou profundamente dececionado com esta Copa América. É melhor até voltar para casa do que correr o risco de ir a uma final e tomar uma goleada da Argentina. Providências urgentes. O Brasil não mostrou um futebol digno à altura da seleção brasileira em nenhuma apresentação”, começou por dizer, vincando depois o facto de a maioria dos internacionais brasileiros atuar em “equipas de médio para pequeno”.

“A verdade é a seguinte: essa Copa América faz parte da pior fase da história da seleção brasileira. O ano de 2023 foi uma vergonha. Todos os jogadores do meio-campo do Brasil jogam em equipas de médio para pequeno no futebol. É uma vergonha para a história da seleção brasileira. ‘Ah, mas é a Premier League!’. Mas é em equipa pequena”, acrescentou, sublinhando os casos de Bruno Guimarães (Newcastle), João Gomes (Wolverhampton), Lucas Paquetá (West Ham) e também Andreas Pereira (Fulham).