Adrian Newey é um génio no que respeita à concepção de carros eficientes, com ênfase na aerodinâmica, a que alia chassis leves e suspensões eficazes. Este engenheiro britânico provou o seu valor na F1, concebendo carros campeões para a Williams e McLaren, antes de rumar à Red Bull, onde os seus fórmulas conquistaram seis títulos de Campeão Mundial para construtores e sete para pilotos. Mas Newey revelou há muito que, depois de dominar a tecnologia na F1, pretendia testar os seus conhecimentos a conceber um hipercarro que pudesse ser conduzido por qualquer um e não apenas por ases da F1.
Na realidade, Newey deu os primeiros passos fora da F1 quando, juntamente com o seu patrão, a Red Bull Advanced Technologies, concebeu o Valkyrie para a Aston Martin, um hipercarro com uma versão para estrada e outra, ainda mais radical, vocacionada para pista. E foi certamente recorrendo aos ensinamentos que recolheu na construção do Valkyrie, cujo código interno era AM-RB 001 (de Aston Martin-Red Bull 001), que avançou para o novo RB17. O hipercarro apresenta óbvias semelhanças com o Valkyrie, com muitas concessões à aerodinâmica, mas segue um rumo distinto em matéria de mecânica.
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Para o Valkyrie, foi encomendado um motor 6.5 V12 atmosférico com 1014 cv à Cosworth, cujas unidades motrizes animaram as corridas de F1 durante décadas. Para o RB17, o fornecedor voltou a ser o especialista britânico de motores, mas a opção de Newey apontou para uma unidade ligeiramente mais compacta, um 4.5 V10 atmosférico (com 1000 cv), mas capaz de girar até às 15.000 rpm, um valor impressionante — o 6.5 V12 atinge “apenas” 11.000 rpm — e um recorde para modelos de série para estrada ou pista.
Mas tanto o Valkyrie como o RB17 recorrem à electrificação para incrementar a potência total da mecânica e, com ela, a capacidade de aceleração. Se o hipercarro da Aston Martin “vitaminou” os 1014 cv do V12 com 160 cv fornecidos por um sistema KERS, similar ao instalado nos F1 actuais, o RB17 recorre a uma solução híbrida com um motor de 200 cv, o que perfaz uma potência total de 1200 cv. E a última criação do génio da Red Bull tem a vantagem de permitir que a caixa de velocidades (fornecida pela Xtrack) não necessite de primeira ou de marcha-atrás (que são asseguradas pelo motor eléctrico), utilizando todas as suas seis mudanças para andar para a frente, graças a uma tracção exclusivamente às rodas traseiras.
Se puxar só 900 kg com 1200 cv chega para impressionar qualquer um, o que mais promete surpreender o típico utilizador deste tipo de hiperdesportivos é o comportamento em curva, o domínio de Newey, com o RB17 a anunciar um apoio aerodinâmico de 1700 kg a 241 km/h, aproximadamente o dobro do peso do modelo, o que lhe deverá permitir percorrer um túnel mas deslocando-se colado ao tecto. Sem asas proeminentes, o RB17 tem um chassi concebido como um F1 onde cabem dois humanos lado a lado, deixando muito espaço disponível para controlar o fluxo de ar que passa sob o chassi, acelerando-o para criar uma depressão que cola o hiperdesportivo ao asfalto. E esta solução revela-se melhor do que as tradicionais asas, uma vez que gera a necessária downforce sem limitar a velocidade máxima do Red Bull.
O RB17 está a demonstrar todo o seu potencial este fim-de-semana, no Festival de Velocidade de Goodwood, o que certamente deverá levar os espectadores britânicos ao rubro. É claro que o hiperdesportivo inglês não deverá conseguir atingir os 350 km/h anunciados como a velocidade máxima, mas desfilará perante uma legião de adeptos. Contudo, por muito que os presentes adorem o RB17, não vale a pena sonharem adquirir um dos 50 exemplares que serão construídos. Isto porque todas as unidades estão já vendidas, embora cada uma custe 5,5 milhões de euros, um valor bem acima dos 2,5 milhões exigidos pelo Valkyrie de estrada (antes de impostos) ou os 3 milhões da versão de pista.