A inesperada forma eliminava volumes em voga, e se à partida o resultado destoava dos preceitos da época, a verdade é que a protagonista era pouco dada a inconsistências em matéria de gostos. Para a história passou o seu fluído vestido slip-style, neste caso com assinatura de Narciso Rodriguez, amigo da noiva e designer ainda em busca de nome firme na praça.

A simplicidade triunfou e faria escola, muito para lá dessa cerimónia em 21 de setembro de 1996, na costa da Geórgia na ilha de Cumberland. It girl por excelência, o vestido do casamento de Carolyn Bessette-Kennedy coroa o seu guarda-roupa de looks icónicos, entre o clássico e o sedutor, para um minimalismo que sobrevive aos mais exigentes testes do tempo — basta percorrer a fotogaleria em cima para confirmar.

Que a fórmula funciona deixou de ser um segredo bem guardado — muito menos bem guardado que os detalhes em torno da boda do casal, o que na altura acicatou ainda mais a legião de fotógrafos. Passados 25 anos sobre o trágico acidente que vitimou John Kennedy Jr, a sua mulher Carolyn, então com 33 anos, e ainda a irmã desta, Lauren, do Pinterest aos feeds de Instagram, multiplicam-se as contas e imagens que revisitam o estilo de um dos casais mais famosos dos EUA nos idos de 90 (imaginamos que podiam ser muitíssimas mais se por acaso a era dos smartphones já tivesse sido inaugurada).

O célebre vestido de casamento Narciso Rodriguez © DENIS REGGIE 1996

A década em questão foi marcada por uma atrevimento criativo e abolição de regras, que vemos ressurgir nas ruas de hoje, mas foi a sofisticação sem grandes ruídos que contribuiu para a lenda. Optando por escolhas intemporais, e confiando quase sempre na infalibilidade do binómio preto e branco, Carolyn transformou as principais artérias de Nova Iorque numa passadeira a céu aberto fiel ao lema “less is more”. A captá-la, encontrava-se quase sempre o “rei das ruas”, o fotógrafo freelancer Lawrence Schwartzwald.

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Apanhada pelos paparazzi a entrar ou sair de casa, num look descontraído, ou pronta para um evento formal, raramente Carolyn terá dececionado os seguidores, ainda a léguas do universo dos cliques e likes. De forma involuntária tornou-se precursora de uma série de tendências correntes, dos óculos escuros com lentes ovaladas às bandoletes, dos jeans às saias midi, dos maxi casacos de inverno e malhas à camisa branca estruturada, e o ominipresente preto em todas as suas declinações, cortes e decotes (com o little black dress à cabeça). Falta mencionar o seu não menos emblemático “no make-up make-up” look.

Com um acervo cápsula muito focado, Carolyn era conhecida pelas modestas (e sensatas) dimensões do armário. Segundo uma antiga assistente, nada de walk in closets no apartamento nova-iorquino do casal, apenas algum espaço reservado a uma prateleira superior para camisolas e carteiras, uma área para pendurar itens e, em seguida, sapatos e botas na parte inferior. E para evitar conflitos de interesse com as marcas publicitadas na George, a revista lançada por John Kennedy Jr., elegia etiquetas que não surgiam de todo na publicação, como alguns nomes de vanguarda.

Na obra CBK: Carolyn Bessette Kennedy, A Life in Fashion, de 2023, a autora Sunita Kumar Nair enquadra o estilo de alguém que personificou o conceito de “quiet luxury” muito antes de a expressão ser cunhada e apaparicada pelas redes sociais. Num artigo para a revista Vogue, Nair recordou o dia em que conheceu “a nova senhora Kennedy”, acabada de se casar com John John.

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Contenção nos acessórios mas efeito statemente, como com o uso da bandolete ou bandana © Getty Images

“Cada roupa capturada pelos paparazzi foi valorizada e analisada, fosse um look noturno imaculado, como um cai-cai e um conjunto de saia-casaco Yohji Yamamoto, ou o top preto, os Levi’s 517s e sandálias Prada que ela usava para passear com o seu cão, Friday.”, descreve a autora do livro, admitindo que alunos de moda da prestigiada Central Saint Martins continuam até hoje a escrutinar este conjunto finito de fotos em busca de inspiração.

“Ela sempre evitou os rótulos óbvios e complementar os looks de forma sentimental com as joias de sua sogra, Jacqueline Kennedy Onassis. Em vez disso, ela favoreceu principalmente as novas criações de vanguarda de designers como Yamamoto e Ann Demeulemeester: camisas de smoking brancas, jaquetas peplum e saias assimétricas. Os seus casacos? Bem, eles eram todos Prada, Prada, Prada. Toda a gente estava encantada.”, remata Sunita. “O estilo dela não era opulento, mas era luxuoso. O fato de ter apenas algumas peças mostra o quão moderna ela era”, distingue ainda a designer Gabriela Hearst na obra citada, associando a espontaneidade das escolhas ao carisma granjeado por Carolyn. Espaço para uma irupção de cor? Também o havia. Com selo Valentino, por exemplo, como o modelo em cima. Ou vintage, em animal print, comprado numa feira da ladra em Paris.

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Chegados a 16 de julho de 1999, nem tudo seriam rosas na relação entre o filho do 35.º presidente dos EUA e a antiga relações públicas da Calvin Klein — mas o mundo não deixou de chorar o desaparecimento do jovem e elegante par que encheu páginas e mais páginas de revistas ao longo de cinco intensos anos, desde que se conheceram, em 1994.

O casamento secreto, os looks icónicos e o fim trágico: a história de John F. Kennedy Jr. e Carolyn Bessette vai ser uma série

O intenso trânsito terá atrasado a descolagem do Piper Saratoga II pilotado pelo herdeiro do clã Kennedy, que naquela noite trágica mergulharia o aparelho em pleno Atlântico, na costa de Martha’s Vineyard, onde se esperava que Lauren Bessette, uma das irmãs de Carolyn desembarcasse. O casal seguia para o casamento do primo Rory Kennedy, em Hyannis Port. A inexperiência e a “desorientação espacial” de JFK Jr. seriam mais tarde apontados como principal causa do acidente, num voo cujas condições noturnas tornou a deslocação mais perigosa. Os passageiros tiveram morte instantânea mas os seus corpos foram recuperados apenas cinco dias depois.