Enviado especial do Observador em Paris, França

Aqui sim, uma espécie de mini cidade do desporto. Há um enorme aro com a marca Paris-2024 numa praça central, várias lojas de venda de artigos oficiais dos Jogos Olímpicos, ainda mais “quiosques” para comprar comida (não falemos de preço para não chocar, fiquemos pela inovação em relação a outras edições de não serem vendidas bebidas em garrafas mas sim em copos de plástico grandes que depois podem ficar para quem compra ou serem devolvidos por troca de dois euros), setas atrás de setas a indicar os caminhos para os vários recintos na South Paris Arena. Para um lado, o voleibol. Para outro lado, o andebol. Pelo meio, o ténis de mesa (e depois halterofilismo). Recintos que estão sempre cheios e com um ambiente incrível.

Saídos do momento grande do dia em Roland Garros com o encontro entre Rafa Nadal e Novak Djokovic, há ainda um encontro a decorrer da sessão da tarde. Apenas uma das quatro mesas da sala está ocupada, com os olhos centrados na meia-final de pares mistos entre China e Coreia do Sul. O pavilhão não só está cheio como fica até demasiado ruidoso quando um dos conjuntos consegue maior ascendente com as palmas e os gritos a darem lugar também a um bater de pés que com bancadas amovíveis tem outro impacto. Se Tóquio não teve público, Paris é parecido com Londres-2012 e mostra uma coisa: a cultura desportiva em modalidades como o ténis de mesa está longe de chegar a Portugal, havendo apenas o bom exemplo do Europeu por equipas organizado na agora Altice Arena que terminou até com um título para a Seleção Nacional.

Há novidades, como a máquina que atira as bolas para os jogadores que vão servir, o espírito bom é aquele de sempre. No final, a China vence a Coreia do Sul por 4-2 e marca encontro na final da competição diante da Coreia do Norte, um conjunto pelo qual ninguém dava nada mas que conseguiu eliminar Taipé na “negra” por 4-3. Uma pequena paragem, bancadas sem ninguém, limpeza do piso e das mesas, uma nova remessa de jogadores e adeptos que voltam a encher todas as cadeiras. Há menos asiáticos, há muito mais franceses, há alemães, neerlandeses, americanos e portugueses nas bancadas (e muitos mais mas seguimos as bandeiras e as cores das camisolas). Há, logo a abrir a sessão da noite, um atleta gaulês. Chega e sobra para a festa.

Os adeptos da casa não são por exemplo como os chineses, que torcem pelos seus nas bancadas mas depois querem ir a correr para a primeira fila filmar a festa dos vencedores. Ficam nos seus lugares, são muito mais ruidosos, gritam de forma constante o nome de Felix Lebrun que joga contra o sueco Anton Kallberg, têm um cântico aos saltos (é recordar a questão do bater dos pés para imaginar a vibração), explodem de alegria com o triunfo por 4-2 que deixa o jovem gaulês deitado no chão sem saber ao certo o que fazer e como fazer no meio do turbilhão de emoções. Sobra, tão ou mais importante do que isso, a manifestação de todo o pavilhão após a festa, com os adeptos a levantarem-se para saudar o escandinavo (que até parecia meio surpreendido com essa reação) antes de aplaudirem mais um pouco Lebrun pela passagem à fase seguinte.

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Seguia-se mais um duelo com uma atleta da casa, curiosamente na mesma mesa onde Lebrun tinha ganho, com Pavade Prithika  a defrontar a indiana Batra Manika. Aqui, tudo foi diferente. Nem o apoio conseguiu ser tão estridente para evitar o 4-0 da asiática mas não demoraria uma versão 2.0 daquele ambiente tipo claque com o regresso de Lebrun, que venceu na mesma mesa o croata Tomislav Pucar por claros 4-0 e selou da melhor forma aquele que será um dia que não esquecerá na carreira pelo ambiente que se criou.

Era também na altura desse encontro que entrava em ação Jieni Shao, portuguesa que ocupa o 51.º lugar do ranking mundial (30.º nos Jogos) e que teve uma boa entrada no quadro de singulares femininos com uma vitória diante luxemburguesa Sarah de Nutte. Agora seguia-se Sofia Polcanova, austríaca melhor cotada (29.ª da hierarquia, 15.ª nos Jogos), também canhota e que em Tóquio-2020 terminara na nona posição, tendo ainda um quinto lugar por equipas no Rio-2016. E cedo se percebeu que não seria tarefa fácil.

Apesar de ter uma má entrada no encontro, com uma desvantagem de 8-3 que já não parecia ser recuperável, Jieni Shao conseguiu virar e ganhar o primeiro encontro por 12-10. Podia ser uma espécie de clique com o condão de mexer na lógica em termos de favoritismo, não foi: Polcanova diminuiu o número de erros com um triunfo por 11-9, foi começando a jogar com cada vez mais confiança, ganhou também o terceiro jogo por 11-7 e o seguinte por claros 11-3. Entretanto Lebrun tinha fechado a sua partida e o contexto em que se jogava já tinha mudado (não que seja mau tanto apoio mas que o barulho dos festejos acompanhavam apenas o que se passava noutra mesa). Aliás, coincidência ou não, foi aí que Shao reapareceu no jogo, ganhando a quinta partida nas vantagens por 14-12, antes de ceder por fim e ser mesmo eliminada por 11-7.