O Paraguai pediu formalmente aos Estados Unidos que retirem o embaixador do país, após Washington ter imposto sanções mais severas contra uma tabaqueira controlada pelo ex-presidente Horacio Cartes, acusado de corrupção e ligação ao terrorismo.

“Pedimos ao Governo norte-americano que acelere o processo de saída do embaixador e assim evite que a perda de confiança numa pessoa prejudique as relações que temos mantido historicamente”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Paraguai, aliado dos EUA.

Na terça-feira, o Departamento do Tesouro norte-americano anunciou sanções mais duras contra os interesses e ativos da Tabacalera SA, tabaqueira ligada ao ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018).

“Aceitamos com relutância a cobertura mediática e a politização das sanções administrativas” contra a Tabacalera, disse a diplomacia do Paraguai, num comunicado divulgado na quinta-feira.

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Marc Ostfield, embaixador dos EUA em Assunção desde março de 2022 e que está a chegar ao fim da missão, tem sido uma voz crítica da corrupção no Paraguai.

O sucessor de Ostfield já foi nomeado, mas o Senado norte-americano ainda não iniciou o processo de confirmação, que poderá ser longo.

O país de 7,5 milhões de habitantes, situado entre a Bolívia, a Argentina e o Brasil e com fronteiras porosas propícias ao tráfico de droga, está classificado em 136.º lugar (em 180) no índice de perceção de corrupção da organização não-governamental Transparência Internacional.

Na quinta-feira, Ostfield foi chamado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros do Paraguai, onde defendeu as sanções contra a Tabacalera, como uma “empresa que ajuda materialmente, patrocina ou fornece apoio financeiro, material ou tecnológico” a Horacio Cartes.

Após o anúncio das novas sanções, na terça-feira, a administração da Tabacalera defendeu-se, afirmando que Horacio Cartes já não tem ações da empresa e as medidas impostas pelos Estados Unidos têm “fins comerciais”.

Cartes, de 68 anos, continua a ser o presidente do conservador Partido Colorado, no poder há 76 anos no Paraguai, com exceção do período entre 2008 e 2012. É também padrinho e mentor de Santiago Peña, de 45 anos, eleito chefe de Estado no ano passado.

Em janeiro de 2023, Washington já tinha imposto sanções contra o magnata da indústria do tabaco, acusando Cartes e o atual vice-presidente, Hugo Velázquez Moreno, de participarem em esquemas de corrupção e de ligações a membros de uma organização terrorista.

O Departamento do Tesouro norte-americano indicou que o ex-presidente esteve envolvido “em corrupção sistémica que colocou em risco as instituições democráticas no Paraguai”, através do “suborno generalizado de funcionários do governo e legisladores”.

Cartes foi ainda acusado de ter ligações a membros do movimento xiita libanês Hezbollah, que os Estados Unidos consideram uma organização terrorista.