Enviado especial do Observador em Paris, França

Sentado, de frente para uma televisão que ia transmitindo o râguebi de sevens, José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, fez questão de cumprimentar os “visitantes” que entravam para a visita do edifício da Missão em Paris. A situação já era frágil mas nem por isso deixou de querer perguntar o que achavam, como estavam a correr as coisas, se poderia fazer algo para que também a quem só vinha cá fazer o seu trabalho não faltasse nada. Uns dias depois, regressou a Lisboa e foi de lá que falou de uma forma emocionada com Iúri Leitão numa chamada de vídeo quando ganhou a prata no omnium. À distância, a lutar contra um cancro que não lhe dava tréguas, fazia questão de estar mesmo sem estar. Hoje, deixou de estar. Morreu José Manuel Constantino na noite deste domingo, como confirmou como o COP. Tinha 74 anos.

Líder do órgão desde 2013 e a cumprir o último mandato, continuava a ter a força possível para também ele cumprir aquilo que desenhou sempre como a sua Missão. Ironia do destino, acabou por ser na noite da cerimónia de encerramento que consagrava a melhor participação de sempre de Portugal numa edição dos Jogos Olímpicos que partiu. Os Jogos do Rio-2016, apanhando o comboio do ciclo em andamento, serviu para ver, pensar, projetar, consolidar. Tóquio-2020, num contexto marcado pela pandemia que trouxe mais desafios a todos os que tinha, transformaram-se nos primeiros Jogos em que Portugal conquistou quatro medalhas. Agora, esse voltava a ser o objetivo. Agora, voltou a ser confirmado. Agora, foi melhor do que nunca com uma série de registos históricos entre a primeira edição com um ouro, duas pratas e um bronze, a primeira edição em que um atleta fez dois pódios na mesma edição e o primeiro ano em que uma modalidade conseguiu furar a hegemonia do atletismo nas medalhas de ouro (ciclismo de pista).

Licenciado em Educação Física no Instituto Superior de Educação Física, José Manuel Constantino teve atividade de docente ao longo de quase três décadas até 2002 antes de se tornar sobretudo um professor na forma como tentava pensar o desporto nacional. Entre o ensino básico e universitário, integrou a Comissão Instaladora dos Institutos Superiores de Educação Física do Porto e de Lisboa, integrou a Assembleia Estatuária da Faculdade de Motricidade Humana e ainda era membro do Conselho de Representantes da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, entre demais cargos nessa área.

Mais no plano desportivo, José Manuel Constantino foi presidente da Confederação do Desporto de Portugal entre 2000 e 2002, esteve no Conselho de Fundadores da Fundação do Desporto (2001), liderou depois o Instituto do Desporto de Portugal entre 2002 e 2005 ao mesmo tempo que chefiava o Conselho Nacional Antidopagem. Antes de ser eleito presidente do COP, cargo que ocupava agora pelo terceiro e último mandato, foi ainda presidente do Conselho de Administração da Oeiras Viva, E.E.M.

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“Faleceu este domingo o Presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino. É com grande pesar que o COP partilha esta notícia, num dia de grande tristeza para a sua família e amigos, e para o desporto português. O nosso Presidente há muito lutava contra a doença e foi-nos dando ano após ano, dia após dia, exemplos de grande tenacidade na liderança da organização. A todos os familiares e amigos apresentamos sentidas condolências”, confirmou o COP através de um comunicado que foi emitido no site oficial durante a cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Paris-2024, no Stade de France.

“É com profundo pesar que o Presidente da República evoca José Manuel Constantino, Presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), e apresenta à sua família e amigos, as mais sentidas condolências. Licenciado em Educação Física dedicou, após docência no ensino básico e universitário, grande parte da sua vida ao dirigismo desportivo, mas foi à frente do COP, que liderava desde 2013, que José Manuel Constantino granjeou deixar uma marca inesquecível no desporto nacional, sendo sob a sua liderança que Portugal obteve os seus melhores registos olímpicos. Condecorado em 2022 pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa com as insígnias da Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, José Manuel Constantino deixa uma enorme saudade a todos os tiveram o privilégio de consigo privar. A sua dedicação ao olimpismo manifestou-se até ao último momento, até ao encerramento dos Jogos Olímpicos de Paris”, destacou a Presidência.

“Foi com profundo pesar que tive conhecimento da morte do Prof. José Manuel Constantino, Presidente do Comité Olímpico de Portugal. Presto sentida homenagem à obra que deixa, evidenciada pelos recentes sucessos olímpicos portugueses. Em meu nome pessoal e do Governo, expresso condolências à Família e ao Comité Olímpico”, enalteceu Luís Montenegro, primeiro-ministro que esteve esta semana em Paris.

“José Manuel Constantino dedicou a sua vida ao desporto. Foi uma voz ouvida e acarinhada por toda a sociedade. Lisboa reconheceu-o com a Medalha de Mérito Desportivo da cidade. Deixa-nos um enorme trabalho feito pelo desporto português, do qual os nossos heróis olímpicos são o melhor exemplo”, destacou também Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa na rede social X.

“Foi com enorme tristeza que tive conhecimento da morte de José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal. Foi um dos grandes pensadores do Desporto em Portugal, um homem com profundo conhecimento da atividade desportiva e do dirigismo e que nunca deixou de defender as suas ideias. Constantino deu-nos grandes lições, com uma clareza e convicção notáveis na sua oratória, que sempre nos prendeu a atenção, tornando-se uma verdadeira fonte de inspiração. Tribuno brilhante e homem de caráter, o Desporto e o País perdem uma figura única e exemplar que nos ajudava a refletir e nos compelia a agir. Mantive com José Manuel Constantino uma relação institucional de enorme confiança e uma relação pessoal de grande amizade, pelo que é com profunda mágoa que assinalo o seu desaparecimento”, comentou Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, depois da confirmação da notícia.

“O Desporto Português chora a morte de um dos seus maiores pensadores e defensores, por quem tinha a maior estima pessoal e institucional. Uma vida dedicada a Portugal, um exemplo inspirador para todos os atletas, treinadores e dirigentes, mas, acima de tudo, para todos os cidadãos. Quis o destino que partisse no dia de encerramento dos Jogos Olímpicos que marcaram a melhor participação de sempre do nosso País. Obrigado por tudo, José Manuel Constantino”, escreveu Pedro Proença, líder da Liga de Clubes que decretou um minuto de silêncio para os próximos encontros dos dois escalões profissionais de futebol.

“É um dia muito triste para o desporto português. Parte um dirigente de excelência e insubstituível mas acima de tudo, uma pessoa incrível, com um sentimento de dever enorme e uma sensibilidade humana acima da média. Que teve a capacidade de fazer com que os atletas se sentissem vistos e ouvidos. Sinto-me muito privilegiada por todas as vezes que pude estar com ele. Serviu o desporto de uma forma exemplar e apaixonante. Obrigada por tudo presidente, Os meus sentimentos à família”, destacou Telma Monteiro, medalhada olímpica no Rio-2016. “Um dia muito triste para o desporto, um grande senhor, com quem tive o privilégio de estar em dois Jogos Olímpicos. Cumpriu a sua missão, descanse em paz presidente”, frisou Dulce Félix. “Que triste. Descanse em paz e muito obrigada”, escreveu a judoca Rochele Nunes.

“Em meu nome e em nome do FC Porto apresento à família de José Manuel Constantino as nossas sentidas homenagens. Portugal e o desporto português perderam hoje uma das personalidades que mais marcaram o seu desenvolvimento nas últimas décadas. Deixa-nos num dia de enorme simbolismo, o encerramento do ciclo olímpico, marcado por diversas conquistas que tiveram muito do seu empenho pessoal”, destacou numa nota André Villas-Boas, presidente do FC Porto. “O Benfica expressa sentidas condolências pela morte de José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal. A sua dedicação e paixão pelo movimento olímpico português serão um legado que perdurará para sempre na memória de todos os que com ele tiveram o privilégio de conviver. Nascido em 21 de maio de 1950, José Manuel Constantino era sócio número 24.197 do Benfica, desde março de 1994”, recordaram os encarnados. “O Sporting manifesta o seu pesar pela morte de José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal que faleceu aos 74 anos. Aos familiares e amigos, endereça as mais sentidas condolências, não deixando de enaltecer e agradecer os anos de dedicação ao Desporto nacional”, salientaram os leões.