O Porto de Sines voltou a receber gás natural liquefeito (GNL) russo, no primeiro semestre, correspondente a 4,9% do total das importações, lideradas pela Nigéria (49,2%) e Estados unidos (45,9%), segundo dados da ERSE divulgados esta terça-feira.

“O aprovisionamento de GNL, durante os primeiros seis meses de 2024, teve três origens, designadamente os EUA (13 navios metaneiros), a Nigéria (11 navios metaneiros) e a Rússia (1 navio metaneiro)”, informou a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), no Boletim da Utilização das Infraestruturas de Gás.

Segundo os dados divulgados esta terça-feira, aquela descarga foi responsável por 4,9% do total das importações de GNL (1.093 de 22.504 gigawatts-hora).

Apesar de o terminal de GNL de Sines ter recebido maioritariamente navios metaneiros provenientes dos EUA, a Nigéria foi o maior fornecedor a Portugal, naquele período, representando 49,2% do total das importações, com o gás norte-americano a assegurar 45,9%.

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Em maio, o Expresso avançou que Portugal tinha voltado a receber uma descarga de gás natural liquefeito proveniente da Rússia, após mais de seis meses sem quaisquer importações de gás russo, citando dados da —  Redes Energéticas Nacionais e da Administração do Porto de Sines (APS).

A descarga foi feita pelo navio Boris Davydov, um metaneiro de 299 metros de comprimento com bandeira cipriota, que saiu do porto russo de Sabetta (na península de Yamal), e chegou a Sines ao início da manhã de 4 de maio, deixando o porto na manhã do dia seguinte.

O estudo “O atribulado divórcio do gás russo na Europa”, publicado em meados de julho, fruto de uma colaboração entre a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) e a norte-americana Brookings Institution, concluiu que a dependência energética da Europa em relação à Rússia mantém-se, mais de dois anos após a invasão da Ucrânia, com diferenças regionais no acesso à energia e nas medidas.

Para as autoras, Samantha Gross e Constanze Stelzenmüller, “a Europa continua, por enquanto, largamente dependente do gás importado, tendo-se limitado a diversificar os seus fornecedores e a aumentar a sua dependência relativa do GNL, que é mais caro”.

O estudo refere que a resposta da Europa, após a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, foi rápida “e inimaginável antes do conflito”, mas esconde diferenças regionais no acesso à energia e nas medidas tomadas, que dificultarão uma resposta política unificada no futuro.

Adicionalmente, as autoras apontam que a redução da procura e substituição por GNL tem representado graves prejuízos para as indústrias de uso intensivo de energia, subsídios controversos, políticas protecionistas e o aumento de tensões políticas entre países europeus.

“Esta é, por isso, uma trajetória incompleta e exposta a riscos futuros, tais como a contínua chantagem contra os países europeus que continuam a importar gás russo, o fim do acordo de circulação de gás ucraniano, uma eventual vitória de Trump nas presidenciais dos Estados Unidos, em novembro, ou a elevada volatilidade que é típica do mercado de GNL”, aponta a análise.

Antes da guerra na Ucrânia, mais de 40% do gás natural importado pela Europa vinha da Rússia, o seu maior fornecedor individual, sendo que alguns países europeus dependiam da Rússia para mais de 80% do seu aprovisionamento de gás, com a Alemanha como maior cliente de gás russo em termos de volume, importando quase o dobro do volume de Itália, o segundo maior.

Em 2023, a Europa ainda importava, globalmente, 14,8% do seu abastecimento total de gás da Rússia, com 8,7% a chegar através de gasodutos e 6,1% sob a forma de GNL.