Até à terceira semana de junho, quando a Catalunha recebeu o Grande Prémio de Espanha, havia poucas dúvidas em relação ao filme do Mundial de 2024 na Fórmula 1. Em dez corridas, Max Verstappen ganhara sete vezes, acabara em segundo em Miami ao ser surpreendido por Lando Norris, deu a “goela” no Mónaco que não correu da melhor forma com um sexto lugar, foi forçado a desistir na Austrália. Resumo: só por algo muito estranho o neerlandês não iria ganhar pela quarta vez consecutiva o título. Agora, há um ponto que se mantém: o único adversário do piloto da Red Bull é a própria Red Bull. E se antes isso significava um elogio à marca austríaca, agora transformou-se uma autêntica dor de cabeça à procura de resolução.

“No início da temporada tínhamos um carro tão equilibrado como a McLaren tem agora. Conseguia bons desempenhos em todas as pistas e em todas as condições. Mas em algum momento enveredámos pelo caminho errado e o carro tornou-se numa cadela que só o Max consegue domesticar. Estamos melhor do que aquilo que mostram os nossos últimos resultados. Se não fosse a má paragem nas boxes em Spielberg, a colisão com o Hamilton na Hungria ou a penalização em Spa, o Max estaria agora numa melhor posição. Sergio Pérez? Quando as reações do carro voltarem a ser mais previsíveis, o Pérez também vai recuperar a sua velocidade”, assumiu Helmut Marko, consultor da Red Bull, em entrevista ao site Auto Motor und Sport.

Houve de facto alguns percalços nas corridas que se seguiram a Montmeló e que prejudicaram a hipótese de Max Verstappen liderar com outra margem mas aquilo que se viu a partir desse momento foi uma McLaren capaz de colocar Lando Norris a discutir o título (além de entregar a primeira vitória de sempre na Fórmula 1 a Oscar Piastri, na Hungria), uma Mercedes que lançou Lewis Hamilton para três pódios consecutivos com vitórias na Grã-Bretanha e na Bélgica e uma Ferrari a deixar alguns sinais de melhoria nos carros de Charles Leclerc e Carlos Sainz Jr.. Era isso que o neerlandês, a correr em casa, iria agora tentar travar.

No regresso após um mês de paragem na competição, o circuito de Zandvoort recebia a 15.ª corrida do ano e com a Red Bull a começar ligeiramente atrás dos principais adversários. Nos treinos livres de sexta-feira, a Mercedes e a McLaren dividiram os holofotes perante um Max Verstappen que não conseguiu rodar mais rápido de manhã e à tarde. Já na qualificação, este sábado, o neerlandês mostrou outro andamento mas nem por isso regressou às pole positions, ficando na segunda posição da grelha atrás de Lando Norris e com Oscar Piastri e George Russell na linha seguinte (Hamilton, após sofrer uma penalização, arrancava de 15.º). Agora, com apoio de milhares e milhares de adeptos vestidos de laranja por todas as bancadas, o neerlandês da Red Bull procurava o quarto triunfo consecutivo na corrida para igualar o registo do britânico Jim Clark.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O arranque foi uma rampa de lançamento para esse objetivo, com Verstappen a ser melhor do que Lando Norris na saída e a assumir a liderança com Russell a passar também Piastri para ficar na terceira posição. Nas voltas seguintes, o neerlandês foi consolidando a vantagem mas com um decréscimo da vantagem que deixava a dúvida sobre a possibilidade de ser uma gestão de pneus ou uma incapacidade de manter o ritmo para deixar o McLaren mais para trás. Na 17.ª volta, já com DRS disponível, Lando começou o ataque ao primeiro posto de Max e conseguiu mesmo passar para a frente de seguida, numa fase em que o piloto da casa se ia queixando à equipa de “pneus adormecidos”. Todos esperavam a primeira paragem nas boxes.

Quase por necessidade, quando já estava com mais de cinco segundos de atraso, Verstappen foi o primeiro a fazer essa paragem na frente, com Lando Norris a não demorar a seguir os passos do neerlandês para ter a possibilidade de conservar esse avanço que ganhara. Quando a corrida voltou a estabilizar, a meio da prova, o britânico estava na frente com sete segundos de avanço sobre o neerlandês, também com Russell à frente de Piastri, Carlos Sainz Jr. no encalço de Sergio Pérez e Hamilton a tentar recuperar mais posições enquanto Charles Leclerc, em terceiro, procurava criar o maior fosso possível em relação à concorrência. Na 40.ª volta, Piastri conseguiu finalmente passar Russell por fora e ficou a quatro segundos do monegasco.

Apesar de haver um novo duelo na Fórmula 1 entre Lando Norris e Max Verstappen que reúne todas as atenções, os 12 segundos de diferença entre ambos colocavam o enfoque noutras batalhas que iam ficando mais acesas: Leclerc e Piastri pelo terceiro lugar, Russell e Sainz pela quinta posição com Sergio Pérez ainda a tentar entrar nessa luta mais “desafogado” depois da segunda paragem de Hamilton, Pierre Gasly e Fernando Alonso pelo décimo posto. Era mesmo aí que iriam entroncar as atenções, tendo em conta a impotência de Verstappen em esboçar sequer uma aproximação a Lando e a necessidade de garantir também um avanço seguro em relação a Leclerc, que de forma discreta fez uma grande corrida para segurar o pódio.

Contas feitas, e num Grande Prémio onde a Mercedes acabou por desiludir perante aquilo que tinha feito antes da paragem (Russell terminou em sétimo, Hamilton ainda subiu até ao oitavo posto), Lando Norris somou a segunda vitória da época depois de Miami e encurtou para 70 pontos a diferença face a Verstappen, ao passo que Leclerc garantiu o sétimo pódio de 2024. Oscar Piastri acabou no quarto lugar, à frente de Carlos Sainz Jr. e Sergio Pérez, que voltou a não passar também de uma modesta sexta posição. Pierre Gasly e Fernando Alonso fecharam a zona dos pontos, ultrapassando na parte final Nico Hulkenberg. E com uma curiosidade: há mais de uma década que um carro da McLaren não conseguia ganhar um Grande Prémio em que partisse na pole position. Último a conseguir o feito pelos carros papaia? Lewis Hamilton… Mais: há 39 anos que a McLaren não tinha uma vitória em Zandvoort, que acabou com a volta mais rápida.