Jorge Nuno Pinto da Costa tem uma lista de “traidores” que não quer que estejam presentes no seu funeral. Por enquanto não diz quem são, mas revela que os nomes estão todos no livro intitulado “Azul até ao fim”, que vai lançar no próximo mês de outubro.
Na primeira entrevista após a derrota na recandidatura à presidência do Futebol Clube do Porto, na TVI, o homem que foi presidente dos dragões durante 42 anos falou sobre a doença, contou que manteve o diagnóstico em segredo e não o revelou nem à família durante vários anos. Garante estar “tranquilo” com a ideia de morte e está certo de que comemora pelo menos 87 anos no próximo dia 28 de dezembro.
Foi no dia 8 de setembro de 2021 que descobriu que tinha um cancro. Na altura não contou a ninguém. “Combinei com os médicos que o segredo ficava comigo, não queria que ninguém à minha volta estivesse preocupado ou a sofrer”, recordou, frisando que não só não alterou “nada” na vida como encarou o diagnóstico “como uma coisa natural”.
Pinto da Costa recusou-se a fazer quimioterapia e justificou a decisão: “Prefiro viver menos mas viver, do que durar mais e não viver.” Acabou por fazer radioterapia e notou “resultados positivos” porque “tinha uma dor e desapareceu”, mas tem consulta de reavaliação marcada para setembro e só nessa altura vai saber se tem de regressar aos tratamentos.
“Tranquilo” e consciente de que só nos devemos “preocupar com as coisas que podemos alterar”, Pinto da Costa falou abertamente da morte, afirmou que “é o que temos como certo desde que nascemos” e recordou uma vida em que fez “praticamente aquilo que quis”. Na entrevista à TVI, o ex-presidente dos dragões relembrou as palavras do irmão, o médico legista José Eduardo Pinto da Costa, que morreu em 2021: “Dizia-me que sempre fizemos o que quisemos e dizia: ‘Tu achas uma estupidez eu ter dedicado a vida aos mortos, eu acho uma estupidez teres dedicado a vida ao Porto’”.
O funeral que já está pago e as pessoas que não quer lá (e vai dizer)
Apesar da forma tranquila como falou sobre o tema da morte, Pinto da Costa reconheceu estar consciente da doença: “Espero ainda durar mais um tempo, mas sei que tenho um cutelo na cabeça.” E quando o dia chegar, tem tudo preparado. “Já paguei o meu funeral”, afirmou, argumentando que desta forma não anda ninguém a “empurrar” de uns para os outros. Quer o corpo na igreja das Antas, no Porto, e não quer “ninguém de preto” — “Tudo de azul”, sublinhou, insistindo que nem as gravatas pretas têm lugar.
E disse mais: “Há pessoas que não quero lá.” Perante a insistência da jornalista Sandra Felgueiras, deixou claro que não irá revelar quem para já, mas revelou que os nomes “estão no livro” que vai lançar em outubro. Admitiu que “ainda são algumas”, mas não respondeu se André Villas-Boas é ou não uma delas. Porém apresentou um critério: “São todos os que me traíram ao longo da vida” — e assegurou que essas pessoas estão “fartas de saber” quem são. E reiterou também que “só podem trair os que estão ao nosso lado, porque os outros são adversários”.
“Não quero que a minha família e os meus amigos sintam que estão rodeados de hipócritas. Quero que todos os que estão ali tenham um sentimento de saudade, de acreditar que vou para um mundo melhor”, justificou.
Pinto da Costa considera ainda que “ninguém pode dizer” que o ex-presidente do FC Porto, “em vida, tenha prejudicado alguém, pelo menos intencionalmente e com o [seu] conhecimento”.
A recandidatura e o contrato secreto que faria Pepe não terminar a carreira
Pinto da Costa explicou que na altura em que se recandidatou à presidência do FC Porto “não sabia tudo” o que sabe atualmente sobre a sua saúde, mas já tinha conhecimento do cancro e fê-lo de plena consciência. Aos olhos do ex-presidente portista, há duas razões que o levaram a avançar contra André Villas-Boas: “Fazer uma academia, e tinha isso em mãos com a câmara da Maia, e o sonho de voltar a ver o FC Porto campeão europeu e achava que para isso era fundamental manter o Sérgio Conceição.”
Pinto da Costa revelou que além de ter assinado um contrato com Sérgio Conceição — e que foi tornado público — também tinha um acordo com Pepe, com o intuito que ambos pudessem ficar mais um ano no clube. “O Pepe disse-me: ‘Se o presidente ganhar as eleições mete o contrato e eu jogo, se não ganhar, eu acabo a minha carreira”, contou — Pinto da Costa não venceu e Pepe anunciou o fim da carreira após o Euro2024.
A ideia da recandidatura, explicou, era ficar um ano e “provocar eleições” — recusando as teses dos críticos que o acusaram de querer sair e colocar alguém no cargo. O ex-presidente azul e branco reconheceu que “hesitou muito” em recandidatar-se por considerar que “estava tudo montado para que houvesse uma tendência para o outro lado”. Ainda assim, isso não o “intimidou”, porque ficaria com “mais preocupações” se sentisse que tinha de “abandonar” sem ir “à luta”. Agora que perdeu, deixou um desejo para a equipa de Villas-Boas: “Espero que eles façam o melhor que puderem e que seja bom para o FC Porto.”
A entrevista a Pinto da Costa na TVI, a primeira desde que deixou a presidência do FC Porto, tem uma segunda parte onde vai abordar outros temas, nomeadamente o atual treinador do clube, Vítor Bruno.