Foi a meio da tarde deste sábado que o litígio se consumou. Através de um comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o Benfica, pela via da sua SAD, informou “que iniciou negociações com o treinador Roger Schmidt para a cessação do contrato de trabalho desportivo com efeitos imediatos”. Pouco depois, em conferência de imprensa, o presidente Rui Costa assumiu que o clube pretendia ter “estabilidade” no início desta época, mas os cinco pontos perdidos em quatro jornadas levaram ao fim do trajeto do alemão.

“Agradeço [a Roger Schmidt] todo o esforço, os dois títulos alcançados e os jogadores desenvolvidos. Neste momento estamos a olhar para o futuro. Já estamos a trabalhar no novo treinador que, muito em breve, irão saber quem é. Comunicámos a decisão este sábado ao treinador e agora temos de tratar da indemnização com os agentes e o advogado de Roger Schmidt. O que mudou de maio para agora? Acreditámos e pensámos que o melhor para o Benfica era dar estabilidade e um voto de confiança. Estas quatro jornadas indicaram o contrário”, começou por dizer o presidente do Benfica na sala de imprensa do Benfica Futebol Campus, no Seixal, assegurando ainda que “houve um grande entendimento de Roger Schmidt” e a “relação humana não foi beliscada”.

Quanto ao futuro treinador, Rui Costa garantiu que o clube da Luz vai agir rapidamente e apresentar um nome durante a paragem para as seleções, na pior das hipóteses até ao fim da próxima semana. “Temos de apresentar rapidamente um novo treinador. Os Campeonatos Nacionais vão parar agora, por isso não vai haver nenhum treinador interino. Até ao dia de recomeçarmos os treinos — até ao final da próxima semana —, já iremos ter novo treinador”.

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Por fim, o presidente dos encarnados rejeitou estar a pensar nas eleições do clube, que decorrerão em outubro do próximo ano. “Trabalho arduamente para o bem do Benfica e assim continuarei a fazer. Já estou a preparar o futuro. O meu foco é essencialmente esse. Tenho plena convicção que podemos não conquistar títulos. Não construímos um plantel à imagem de Roger Schmidt. O treinador que chegar ao Benfica terá um plantel pronto para ganhar. Pretendemos trazer um treinador com o mesmo perfil em termos de sistema tático. Esta época não está perdida e está nas nossas mãos recuperá-la. Não penso em eleições e espero apresentar um treinador nos próximos dias”.

A notícia começou por ser um rumor, tornou-se uma hipótese real, chegou a um patamar de decisão inevitável após umas horas de reflexão na sequência do empate do Benfica em Moreira de Cónegos e duas reuniões que já estavam agendadas entre Direção do clube e administração da SAD. Pouco mais de um ano depois de ter sido campeão, Roger Schmidt está de saída dos encarnados depois de um início de época em que viu a equipa perder cinco pontos nas primeiras duas deslocações (0-2 em Famalicão, 1-1 com Moreirense) com apenas cinco golos marcados, no pior pecúlio da última década nas quatro jornadas iniciais do Campeonato.

A arte feita sem artistas esbarra num xadrez de cónegos difíceis de derrubar (a crónica do Moreirense-Benfica)

Apesar de ter tentado até ao limite segurar o técnico alemão, como foi mostrando em termos públicos nas intervenções que teve em dezembro de 2023 e em maio de 2024, Rui Costa, presidente dos encarnados que reagiu de forma visivelmente agastada ao golo sofrido frente ao Moreirense já na parte final da partida (não vendo na tribuna ao empate de Marcos Leonardo de grande penalidade no último minuto de descontos), considerou que o trajeto do germânico na Luz tinha chegado a um fim de linha, não só pelo que se via em campo mas também pela contestação das bancadas e pela própria opinião interna dos outros dirigentes.

Agora, ao mesmo tempo que serão tratados os últimos processos relativos ao fecho do mercado na próxima segunda-feira, a SAD tem em mãos vários possíveis cenários de substituição no comando técnico da equipa. O Observador sabe que, nesta fase, e numa ideia que já antes tinha sido ponderada, o próximo treinador do Benfica deverá mesmo ser português depois da aposta em Roger Schmidt que contrariou os anos anteriores (há 15 anos, desde Quique Flores, que o conjunto da Luz não apostava num técnico de fora).