Tudo apontava para aquela decisão, nem por isso a decisão foi de encontro ao que era apontado. Por um lado, e sabendo-se que haveria sempre uma ideia concreta em relação ao futuro de Roger Schmidt no comando do Benfica este sábado, a mesma acabou por surgir num timing inesperado. Por outro, e ao contrário do que é normal, aquilo que foi comunicado à CMVM foi um “início de negociações para a cessão do contrato de trabalho desportivo com efeitos imediatos” e não uma rescisão com o técnico. Ainda assim, e para que não subsistissem dúvidas, Rui Costa, presidente dos encarnados, fez questão de começar uma conferência de imprensa uma hora depois do anúncio a reforçar que o alemão “já não era treinador”. Porquê isso?

A reação do treinador que ganhou um Campeonato e uma Supertaça na Luz não foi a melhor depois de ter recebido a notícia. Mais: de acordo com o que foi sabendo o Observador, Roger Schmidt aceitaria “melhor” uma saída no final da última temporada, caso fosse entendimento dos responsáveis que tinha chegado ao fim um ciclo e que era o melhor cenário para o Benfica, do que nesta fase, algo que foi manifestado junto do líder dos encarnados juntando argumentos como o facto de estarmos ainda em agosto no início das competições, de o plantel carecer de cobrir algumas lacunas e de haver jogadores importantes lesionados ou a voltarem de lesões. No entanto, era uma decisão tomada na Luz. E a procura do sucessor também não demorou.

Mesmo não havendo um desenho final daquilo que o Benfica terá de pagar ao técnico germânico pela sua saída, entre a possibilidade cada vez mais frequente em clubes grandes de continuar a liquidar o vencimento mensal até assumir um novo projeto desportivo para evitar uma indemnização milionária, a estrutura das águias não demorou a colocar-se no terreno em busca de um novo treinador com essa garantia de que, ao contrário do que acontecera em 2022 (depois de quase uma década e meia sem estrangeiros, com Quique Flores a ser o último), seria português. Entre hipóteses sondadas ou ventiladas, um nome ganha força.

Ainda antes da rescisão de Schmidt, ao final da manhã, Leonardo Jardim, antigo treinador do Sporting, foi o primeiro nome a circular nos bastidores. Após sair do Al-Rayyan do Qatar em junho, o técnico de 50 anos não abraçou nenhum projeto e poderia até voltar a Portugal uma década depois de deixar Alvalade rumo ao Mónaco mas o Benfica teria dificuldades em chegar aos valores pedidos pelo treinador que esteve nos últimos anos no Médio Oriente (antes do Qatar, passou pelo Al Hilal da Arábia Saudita e pelo Al Ahli dos EAU). Outro nome também há algum tempo falado era o de Abel Ferreira, treinador com mais sucesso na história do Palmeiras, mas o técnico não irá deixar o Brasil antes de dezembro, inviabilizando o cenário.

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Sérgio Conceição, ex-treinador do FC Porto, foi também apontado à Luz sem que existisse uma sondagem nesse sentido por parte dos responsáveis benfiquistas. Rui Costa chegou a ser companheiro de Seleção do antigo extremo, que conhece há vários anos, reconhece aquilo que conseguiu fazer ao longo de sete anos no comando dos azuis e brancos mas também sabe a ligação estreita do técnico ao rival e tudo aquilo que esse contexto poderia trazer a nível de anticorpos na Luz, do plano interno à própria massa adepta, sendo que o próprio técnico prefere dar continuidade à carreira com um projeto fora do Campeonato português.

Quase de forma natural, Bruno Lage surge assim como a hipótese mais forte para suceder a Roger Schmidt, não se tendo falado como aconteceu noutros anos em nomes como Marco Silva (Fulham) e Paulo Fonseca (AC Milan). Depois de meia temporada de sonho em 2018/19 quando substituiu Rui Vitória, com uma longa série de vitórias consecutivas que valeram o título e uma goleada por 5-0 frente ao Sporting na Supertaça a abrir 2019/20, o técnico chegou a ter sete pontos de avanço em relação ao FC Porto, perdeu toda a vantagem com a paragem devido à pandemia pelo meio e acabou mesmo por sair antes do final da época, ficando Nelson Veríssimo no comando técnico por opção de Luís Filipe Vieira mas apenas de forma interina.

Depois dessa saída da Luz em 2020, Bruno Lage teve o primeiro projeto como número 1 no estrangeiro na Premier League via Wolverhampton, terminando na décima posição na primeira época de 2021/22 e saindo depois no arranque da segunda por falta de resultados. Além dessa passagem por Inglaterra, o treinador esteve também no comando do Botafogo depois da saída de Luís Castro para o Al Nassr, não conseguindo segurar a vantagem do conjunto do Rio de Janeiro na frente e sendo dispensado três meses depois. 11 meses depois, o regresso ao ativo está mais próximo e logo numa casa que conhece há muitos anos.