O antigo Presidente moçambicano Joaquim Chissano lamentou este sábado que as “forças progressistas” de Portugal que eram contra o fascismo não tenham sido favoráveis a uma rápida descolonização, mostrando que “não tinham pressa com as independências”.

“Em Portugal, mesmo as forças mais progressistas não tinham assim tanta pressa em discutir a independência”, declarou Chissano.

O antigo chefe de Estado e veterano da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, falava durante as cerimónias centrais das comemorações do 50º aniversário dos Acordos de Lusaka, assinados em 7 de setembro de 1974 entre aquele movimento independentista e o então Governo português.

Os referidos acordos levaram ao fim da guerra colonial em Moçambique e à formação do governo de transição que conduziu à independência do país africano em 1975.

Joaquim Chissano, que foi o primeiro-ministro do governo de transição, declarou que “as forças progressistas” que exigiam o fim do fascismo insistiam numa solução que garantisse a “igualdade e direitos humanos” nos povos dos territórios colonizados por Portugal.

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Chissano avançou que António de Spínola, que assumiu a Presidência de Portugal após o golpe de Estado que derrubou o governo fascista, era contra a independência de Moçambique e só aceitou a autodeterminação do país em resultado dos efeitos nefastos da guerra colonial.

“Houve no seio da comunidade portuguesa, mas, sobretudo, dos próprios soldados portugueses, a conclusão de que não valia a pena continuar a massacrar povos [nas colónias] e, então, exigiam mudanças em Portugal”, enfatizou.

Joaquim Chissano, Presidente de Moçambique entre 1986 e 2005, assinalou que as novas autoridades portuguesas saídas do golpe que derrubou Marcelo Caetano começaram por mostrar relutância em aceitar a independência imediata de Moçambique, defendendo um período longo de “preparação” para a emancipação do território. “Diziam que era preciso preparar o povo para a independência, que seriam necessários, num mínimo, uns 20 anos”, enfatizou Chissano.

A delegação de Portugal nas negociações com a Frelimo chegou a propor um referendo na população moçambicana, para se pronunciar sobre a independência, prosseguiu. “´Não se pergunta a um escravo, se quer liberdade`”, disse o antigo Presidente moçambicano, citando o seu antecessor, Samora Machel, que usou essa expressão durante as negociações com Portugal.