O secretário-geral comunista declarou hoje que o PCP tem “um preconceito ideológico de fundo” na defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS), em resposta ao primeiro-ministro, que defendeu que a saúde “não se gere com preconceitos ideológicos”.

“O problema do preconceito ideológico é o contrário: é daqueles que acham que podem destruir o Serviço Nacional de Saúde público, aí é que está o preconceito ideológico. (…) Connosco, há um preconceito ideológico de fundo na defesa do Serviço Nacional de Saúde público, gratuito e universal e que garanta o acesso a todos”, afirmou aos jornalistas Paulo Raimundo, depois de intervir numa sessão para assinalar os 45 anos do SNS, na Amadora.

O líder comunista respondia assim à mensagem divulgada pelo chefe do Governo, Luís Montenegro. “Que ninguém duvide, todos os dias trabalhamos para o melhorar. Para nós, a saúde não se gere com preconceitos ideológicos. Para nós, o SNS existe para servir as pessoas, para que ninguém fique eternamente em listas de espera para uma consulta ou uma cirurgia. Para que todos possam ter acesso a um médico de família”, referiu o primeiro-ministro.

Raimundo criticou que o setor privado receba “oito mil milhões de euros”, “mais de metade” do orçamento para a saúde. Para o PCP, o principal problema da saúde “é a falta de profissionais”.

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“Precisamos de respeitá-los, de valorizar as carreiras, aumentar as condições de trabalho e aumentar os salários”, defendeu, destacando que o PCP propõe uma majoração em 50% do salário dos profissionais de saúde para a dedicação exclusiva ao SNS.

“Não venham dizer que não há dinheiro. Quem tem oito mil milhões de euros, que sai do bolso de todos, para transferir para os grupos privados que fazem da doença um negócio, também tem para tomar esta medida. É uma questão de opção política”, disse. Durante a sessão, Raimundo anunciou que nos próximos dias, o PCP vai apresentar três propostas para responder aos problemas da saúde.

“Garantir o acesso gratuito de medicamentos a todos os maiores de 65 anos, aos doentes crónicos e pessoas com carências económicas”, adiantou, sobre uma das iniciativas.

Outra proposta pretende a “alteração do estatuto do SNS para repor a sua génese, para repor a universalidade dos cuidados como foi consagrado há 45 anos”, com “gestão pública, democrática e com autonomia das unidades do SNS e a valorização dos vínculos e de condições de trabalho dos profissionais, incluindo a opção de dedicação exclusiva”. Por fim, o PCP quer “acabar com este caminho da privatização, do chamado ‘modelo C’ das unidades de saúde familiar”, que devem voltar a ser “garantidas a partir do serviço público, com investimento do setor público”.

“Estamos perante um dos maiores ataques que temos visto ao Serviço Nacional de Saúde. O atual Governo acelera, e de que maneira, as opções erradas do Governo anterior”, criticou. Raimundo destacou que, “apesar das dificuldades todas”, o SNS “continua a assegurar a esmagadora maioria dos cuidados de saúde à esmagadora maioria da população”.

“Não pergunta quanto dinheiro temos na conta, qual é a doença que temos, para saber se trata ou não, qual é o numero da apólice do seguro, e, já agora, também não pergunta qual é a cor da pele, qual é a etnia, qual é a religião”, comentou.

O secretário-geral comunista falava junto ao Centro de Saúde da Amadora, perante algumas dezenas de apoiantes, que empunhavam cartazes em que se lia mensagens como “Investir nos equipamentos e meios de diagnóstico”, “Médicos de família para todos”, “Público é de todos. Privado é só de alguns” e “Contra o desvio de recursos para o privado. Defender o SNS”.

Antes, alguns cidadãos, incluindo uma profissional de saúde, deram conta de problemas que afetam o setor, como o fecho das urgências, a falta de funcionários e de médicos de saúde e a incapacidade de resposta do serviço público.