Ballerina shoes, calças estilo pijama às riscas ou aos quadrados e flower clips a prenderem o cabelo. Com um estilo claramente inspirado nas portuguese girlies, esperavam ansiosamente poder explorar os artigos que Rita Montezuma, Vicky Montanari, Caetana Botelho, Mafalda Patrício e Inês Isaías reuniram dos seus armários para venderem neste colorido e caótico mercado.
A quarta edição desta venda teve lugar este domingo no espaço da instituição de solidariedade Dona Ajuda, na zona do Rato, em Lisboa, e juntou centenas de pessoas, maioritariamente raparigas na casa dos 20 anos. Com abertura prevista para as 11h00, as primeiras 50 tiveram oportunidade de entrar mais cedo, às 10h40, depois de mais de meia hora de espera na fila, e ver em primeira mão toda a seleção das portuguese girlies.
Do vestuário ao calçado, por lá havia também bijuteria, fatos de banho, óculos de sol malas e até mesmo produtos de skincare. Quanto aos preços, esses variavam consoante a peça, mas iam desde os 2 euros aos 200, com marcas como a Sezane, Levis, Tommy Hilfiger, Mochi, H&M, Parfois, Zara, Isabel Marant, Scalpers e Puma. “Gastei 560 euros. Nem sei bem de quem são [cada peça] mas gostei tanto“, comentava uma adepta do estilo enquanto mostrava às amigas os sapatos, vestido, gabardina, calças e camisolas que tinha comprado.
Quando o segundo slot de 50 entrou — cerca de uma hora depois do primeiro —, já o caos estava instalado. “Estamos no meio da guerra. Salve-se quem puder”, iam comentando, ao mesmo tempo que se tentavam desviar umas das outras. Pelas mesas, a confusão também era evidente, com a roupa desdobrada e as portuguese girlies a organizarem tudo por categoria a cada momento que conseguiam.
Apesar da grande afluência, e de classificar o evento como “caótico”, Vicky Montanari, autora do vídeo que no ano passado deu origem à tendência portuguese girlies no TikTok, confessa ao Observador que esta quarta edição estava muito melhor organizada do que as duas primeiras. “Não tínhamos controlo sobre a quantidade de pessoas que entrava nem quem comprava o quê”, comentou. Assim, em colaboração com a Dona Ajuda, o Wardrobe Sale das portuguese girlies tinha o custo de dois euros por pessoa — que revertiam para a associação —, controlo de entrada e saída e identificação de cada peça por cor: verde (Vicky), rosa (Rita), azul (Caetana), amarelo (Mafalda) e laranja (Inês).
Quem por lá andava parecia perceber o sistema: “Já vim cá da última vez. A Vicky é a etiqueta verde”, comentou uma rapariga enquanto experimentava algumas peças de roupa escondida atrás de um charriot. Sem sítio onde provar os artigos, por cima da própria roupa, as fãs das portuguese girlies iam testando algumas peças ao mesmo tempo que lamentavam os casacos e vestidos dos quais gostaram mas já tinham dona. “Hei de conseguir aquele vestido”, afirmou uma jovem às amigas entre risos, garantido que ia ficar atenta.
Ao final do dia, entre as 17h00 e as 18h00, os artigos que sobraram ficaram todos com 50% de desconto. Como se escolhe o que colocar à venda? “São as coisas que tenho em casa mas que já não uso, apesar de gostar de tudo. Teria de alugar um armazém para ficar com toda esta roupa“, confessou Vicky Montanari. Ao Observador, a Dona Ajuda confirmou que a quarta edição deste mercado contou com cerca de 800 pessoas, o mesmo número que na edição passada conseguiur fazer reverter 1600 euros para a associação.
O estilo portuguese girlie (“rapariga portuguesa”, em tradução livre) ficou viral no ano passado quando Vicky Montanari partilhou um vídeo no qual, inspirada nos tutoriais que ensinam a vestir como uma “rapariga de Copenhaga”, explicava a receita: juntar umas calças coloridas a um top com que aparentemente não combinam; calçar sabrinas, ugly shoes ou ténis; acrescentar um casaco com personalidade, flores no cabelo, um colar, uma carteira colorida e óculos de sol.
A par de todo o sucesso, vieram as críticas. No vídeo de Vicky (e nas várias inspirações que se seguiram), acumularam-se comentários que acusavam o estilo de não representar, de facto, como se vestem as mulheres portuguesas.
“Portuguese girlie”. Que tendência é esta, que tomou o TikTok de assalto e gerou controvérsia?