Foi apenas um ano de ausência, mas pareceu muito mais. O quarto lugar do Sporting na Primeira Liga de 2022/23 fez com que 2023/24 fosse uma temporada sem Liga dos Campeões, sem os milhões da Liga dos Campeões e sem as ilusões da Liga dos Campeões. Os corações, porém, voltavam a encher-se esta terça-feira. 

O Sporting regressava à Liga dos Campeões depois de ter sido campeão nacional pela segunda vez em quatro anos e tinha desde logo o desafio de um novo formato que obriga a mais jogos, mais deslocações e mais desgaste. Os leões recebiam o Lille na primeira jornada, antes de desafios como a visita ao Manchester City ou a receção ao Arsenal, e Rúben Amorim beneficiava de um momento positivo pautado pelas cinco vitórias em cinco jornadas do Campeonato e a liderança isolada da classificação.

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

Sporting-Lille, 2-0

Fase da liga da Liga dos Campeões

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Donatas Rumsas (Lituânia)

Sporting: Franco Israel, Debast, Diomande, Gonçalo Inácio (Matheus Reis, 13′), Geovany Quenda (Maxi Araújo, 73′), Morita (Daniel Bragança, 45′), Hjulmand, Geny Catamo, Trincão (Conrad Harder, 88′), Gyökeres, Pedro Gonçalves

Suplentes não utilizados: Diego Callai, Francisco Silva, Marcus Edwards, Nuno Santos, Iván Fresneda, Ricardo Esgaio

Treinador: Rúben Amorim

Lille: Lucas Chevalier, Thomas Meunier (Tiago Santos, 64′), Diakité, Aïssa Mandi (Ayyoub Bouaddi, 64′), Alexsandro, Edon Zhegrova, Mitchel Bakker (Gabriel Gudmundsson, 82′), Benjamin André, Angel Gomes, Osame Sahraoui (Rémy Cabella, 71′), Jonathan David (Mathias Fernandez-Pardo, 64′)

Suplentes não utilizados: Vito Mannone, Marc-Aurèle Caillard, Mohamed Bayo, Ousmane Touré

Treinador: Bruno Génésio

Golos: Gyökeres (38′), Debast (65′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Angel Gomes (21′ e 40′), a Jonathan David (40′), a Morita (45+1′), a Benjamin André (56′), a Ayyoub Bouaddi (72′), a Debast (86′); cartão vermelho por acumulação a Angel Gomes (40′)

“Vencer a Liga dos Campeões é viajar muito longe. O que queremos mostrar é que jogamos de forma diferente, vamos defrontar equipas que são, no mínimo, iguais a nós. Queremos mostrar que crescemos enquanto clube. Vou de acordo com o que sinto na equipa e sinto que está preparada para ser mais competitiva, jogar de forma diferente. O nível da nossa equipa mudou, temos mais internacionais, um jogador para crescer também tem de ter uma pressão diferente. Não faço ideia se vamos ganhar ou perder jogos, mas sei que estamos mais preparados para jogar na Liga dos Campeões”, disse o treinador leonino na antevisão da partida.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Rúben Amorim não podia contar com St. Juste, Kovacevic e Eduardo Quaresma, todos lesionados, e não surpreendia nas opções para o onze inicial: Debast surgia no trio de centrais, Quenda e Catamo eram os donos dos corredores e Hjulmand e Morita faziam dupla no meio-campo. Do outro lado, num Lille que leva duas vitórias e duas derrotas em quatro jornadas da Ligue 1, Bruno Génésio apostava em Jonathan David como referência ofensiva, com Angel Gomes e Benjamin André no setor intermédio, e deixava o português Tiago Santos no banco de suplentes.

O jogo começou algo lento e demasiado cerebral, com as duas equipas a estudarem-se mutuamente e a correrem poucos riscos. A bola era muito dividida na zona do meio-campo e o primeiro lance de relativo perigo apareceu já depois dos 10 minutos iniciais, com Morita a rematar ao lado de fora de área (12′). Logo depois, surgiu a primeira contrariedade para Rúben Amorim: Gonçalo Inácio ficou magoado depois de um choque, ainda tentou recuperar, mas teve mesmo de ser substituído e rendido por Matheus Reis.

O Sporting até pareceu reagir bem à alteração forçada, com Pedro Gonçalves a rematar ao lado à meia volta depois de ser lançado por Gyökeres (16′), mas a saída de Gonçalo Inácio acabou por fazer-se sentir. O Lille tinha mais bola e estava quase sempre inserido no meio-campo adversário, sem que os leões conseguissem soltar o ataque ou impedir que os franceses recuperassem a posse em zona adiantada. Ainda assim, a equipa de Bruno Génésio raramente conseguiu assustar Franco Israel, com Diomande a evitar um lance mais perigoso em que Jonathan David quase cabeceou na área (26′).

A aproximação da meia-hora fez bem ao Sporting e os leões conseguiram reveter a superioridade do Lille e chegar com outra frequência ao último terço. Trincão rematou ao lado depois de uma jogada coletiva deliciosa (27′) e Pedro Gonçalves teve a melhor oportunidade do jogo até então, ao aparecer na cara de Lucas Chevalier a permitir a defesa ao guarda-redes (28′). 10 minutos depois, surgiu o minuto horribilis do Lille.

Matheus Reis ganhou uma bola no meio-campo contrário e soltou um balão para a área, onde Gyökeres estorvou e esperou pela assistência de Pedro Gonçalves para receber, rodar e rematar à meia volta para abrir o marcador e estrear-se a marcar na Liga dos Campeões (38′). Logo depois, tudo ficou ainda pior para os franceses. Angel Gomes fez falta sobre o avançado sueco e viu o segundo cartão amarelo, deixando o Lille em inferioridade numérica à beira do intervalo e com toda a segunda parte por disputar.

Rúben Amorim voltou a mexer logo ao intervalo e tirou Morita, que já tinha cartão amarelo, para lançar Daniel Bragança. De forma natural, o Sporting tinha mais bola e maior presença no meio-campo adversário, com o Lille a tentar adaptar a pressão alta à inferioridade numérica, mas não era por isso que estava confortável no jogo. Quenda e Catamo tiveram boas ocasiões para marcar, com um cabeceamento ao lado (49′) e um remate que também falhou o alvo (57′), mas os leões perdiam a bola com alguma facilidade e não conseguiam explorar a profundidade que os franceses até permitam.

Bruno Génésio fez substituições a cerca de 25 minutos do fim, lançando Tiago Santos, Bouaddi e Mathias Fernandez-Pardo, mas não evitou algo que poucos poderiam antecipar: Daniel Bragança recebeu à entrada da grande área e viu pelo canto do olho a arrancada de Debast, que atirou uma autêntica bomba de primeira para aumentar a vantagem leonina e marcar o primeiro golo da carreira (65′).

O Sporting poderia ter arrumado com o jogo logo depois, num lance em que Quenda atirou ao lado numa recarga a defesa de Chevalier após remate de Bragança (70′), e Rúben Amorim acabou por tirar o jovem ala para lançar Maxi Araújo, provocando a mudança de Catamo para o lado direito. Por essa altura, o Lille teve a primeira jogada de aparente perigo, com Rémy Cabella a rematar contra Debast e a bola a sair por cima da baliza de Franco Israel (75′), e o guarda-redes uruguaio ainda teve tempo para brilhar com uma defesa enorme com o pé face ao mesmo Cabella (88′).

Até ao fim, Rúben Amorim ainda estreou Conrad Harder, que fez a estreia absoluta através da Liga dos Campeões. O Sporting venceu o Lille em Alvalade e entrou no novo formato da competição europeia a ganhar e a conquistar desde já os primeiros três pontos na liga a 36 equipas, mostrando exatamente aquilo que o treinador pretendia: que agora, quatro anos depois da chegada de Amorim a Alvalade, a turma passou claramente de ano. E Viktor Gyökeres, de forma indubitável, é o delegado.