O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, admitiu que o navio com bandeira portuguesa que foi proibido de aportar na Namíbia transporta, de facto, explosivos que serão utilizados em fábricas de armamento na Polónia, na Eslovénia e em Israel. A informação foi avançada pelo governante em entrevista à Renascença e ao Público.

Paulo Rangel disse que o “barco terminará o seu frete no mar Adriático (num porto no Montenegro e noutro na Eslovénia), e depois o material segue para outros barcos, ou via terra, para a Polónia e para a Eslováquia”. Metade do material vai para esses dois países, enquanto o restante “vai para Israel”. “É a informação que temos, depois de interrogado o armador, que tem respondido até agora com um grau de credibilidade que nos parece perfeitamente normal e aceitável”, apontou.

De acordo com o ministro, “as empresas que são o destino final todas elas fabricam armamento — sobre isso não há dúvidas —, embora com uma cláusula que exclui as armas de destruição maciça”. Questionado sobre se existem fundamentos para o Governo retirar a bandeira, Rangel disse que esta é uma “questão jurídica complexa” e adiantou que não foi ainda tomada qualquer decisão quanto a uma possível remoção do pavilhão português do navio.

“Estamos neste momento a analisar a situação e estamos em contacto com as autoridades, portanto, ao contrário do que se pensa, Portugal não está parado. Isto é uma questão jurídica muito complexa, não é uma questão simples. Não há nenhuma razão jurídica efetiva à data para retirar o pavilhão. Pode haver razões de índole política, com certeza”, salientou o ministro dos Negócios Estrangeiros.

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No dia 12 de setembro, a comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros aprovou, por unanimidade e a pedido do Bloco de Esquerda, a audição de Paulo Rangel sobre o mesmo navio. No requerimento entregue no Parlamento, o Bloco dizia que os explosivos RDX, que são transportados na embarcação, são “um dos principais componentes das bombas e mísseis israelitas”, que “têm sido apontadas a alvos civis, destruindo, por exemplo, escolas e hospitais na Faixa de Gaza, vitimando mortalmente mais de 40 mil cidadãos palestinianos, na sua maioria crianças e mulheres, e ferindo mais de 90 mil”.

Paulo Rangel deverá prestar esclarecimentos à Assembleia da República no próximo dia 15 de outubro.

Ministro dos Negócios Estrangeiros vai ser ouvido no Parlamento sobre navio de pavilhão português com explosivos