Suzanne Armstrong e Susan Bartlett foram encontradas numa casa em Melbourne, na Austrália, depois de terem sido brutalmente assassinadas com uma faca. Na mesma casa estava uma criança sem qualquer ferimento mas gravemente desidratada e traumatizada – estaria há vários dias sozinha com os cadáveres, já que as mulheres não eram vistas havia três dias. O crime ocorreu em 1977 e, quase 50 anos depois, o principal suspeito do crime poderá, finalmente, ter sido capturado.

O caso, que chocou a Austrália e inspirou inúmeros livros e podcasts relacionados com investigação policial, ficou conhecido por “assassinatos de Easey Street”, o nome da rua de Melbourne (bairro de Collingwood) onde o crime ocorreu.

As autoridades nunca largaram a investigação, ao longo de décadas. Foi investigado um jornalista especializado em crime, que vivia ali perto. Também foi considerado suspeito um conhecido desportista da região e, ainda, um homem associado ao crime organizado de Melbourne. Além destes, a polícia investigou, também, inúmeros criminosos sexuais que, tal como todos os outros suspeitos, acabaram por revelar-se pouco mais do que becos sem saída na investigação.

A dada altura foi, até, oferecida uma recompensa de um milhão de dólares australianos (600 mil euros) a quem tivesse novas informações sobre o caso, que pudessem ajudar as autoridades a encontrar o responsável.

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Choro incessante da criança alertou vizinha

As duas mulheres, que viviam juntas na pequena casa arrendada, tinham idades semelhantes – 27 e 28 anos. A criança, um menino chamado Gregory, era filho de Suzanne Armstrong e tinha celebrado o primeiro aniversário poucos meses antes. Estaria a dormir no berço no momento em que o misterioso homicida esfaqueou as mulheres várias vezes e fugiu do local do crime.

O choro incessante da criança acabou por levar uma vizinha a contactar as autoridades, levando à descoberta do homicídio. “Foi o local do crime mais horrendo que é possível alguém encontrar”, recorda Peter Hiscock, um detetive, na altura com 30 anos, que trabalhou décadas neste caso. Ao jornal Herald Sun, o detetive (aposentado) nunca esqueceu o momento posterior em que um médico-legista contou o número de golpes que as mulheres sofreram.

O autor do crime deixou, porém, uma rasto de ADN que, graças ao avanço desta tecnologia, permitiu em 2015 reabrir o caso com a identificação de um suspeito: um homem com cidadania grega e australiana que, hoje, tem 65 anos. Mas quando soube que estava a ser investigado pela polícia, o suspeito voou para a Grécia.

Para confirmar (ou descartar) essa identificação por ADN foi pedida uma nova amostra, mas o homem resguardou-se no facto de a legislação grega ter um prazo limite de 20 anos para se iniciarem processos de investigação criminal contra alguém. Esse prazo tinha expirado cerca de 10 anos antes, pelo que o homem recusou colaborar e tornou-se, assim, um fugitivo à Justiça australiana.

Mas nesta quinta-feira, depois de ter sido ativado um mandado de detenção internacional, o suspeito foi detido no aeroporto de Roma, na quinta-feira, depois de aterrar num voo proveniente da Grécia, onde vivia, para passar férias em Itália.

Este foi um homicídio absolutamente horroroso, frenético e violento“, recordou neste sábado o comissário da polícia de Melbourne, Shane Patton. A expectativa das autoridades é que, estando o homem detido em Itália, possa haver um processo de extradição bem sucedido, para que o homem seja julgado na Austrália – um processo que, em caso de condenação, poderá ajudar a que se perceba, finalmente, o que motivou o crime.

A criança acabou por ser criada por uma tia, irmã de Suzanne. Gayle, a tia, disse à imprensa que criou Gregory como se fosse seu filho – e, “nos últimos anos, ele encontrou o seu pai [biológico], visita-o regularmente e hoje têm uma relação próxima”. “Ele está bem“, garante a irmã da mulher assassinada em 1977.