Uma professora deu aulas de Matemática durante mais de 30 anos sem, segundo o jornal Público, alguma vez ter tido habilitações que a qualificassem nesse sentido. Depois da descoberta, o Ministério da Educação expulsou a professora do ensino no ano passado e está a exigir-lhe 350 mil euros em tribunal.

Além de lecionar, foi ainda co-autora de manuais escolares e era amplamente apreciada pelos pais pelo bom desempenho no ensino de Matemática.

Um representante dos pais disse mesmo que “a grande maioria dos encarregados de educação reconhecia-lhe um desempenho excelente. Conseguia levar os bons alunos a melhorar os resultados e os menos bons a melhorar também o seu desempenho”. No entanto, a professora é agora suspeita de “ludibriar o Ministério da Educação” através de “certificados de habilitações falsos” que lhe permitiam dar aulas. Paula Pinto Pereira defende-se e alega que concluiu um bacharelato, uma licenciatura e um mestrado.

Deu aulas pela primeira vez no final dos anos 80 como professora provisória, enquanto ainda frequentava o curso de Ensino de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Mas durante os oito anos em que estudou em Lisboa, a professora apenas conseguiu aprovação a nove disciplinas, três do bacharelato e seis da licenciatura, segundo inspetores que investigaram o percurso académico de Paula Pinto Pereira.

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No que toca ao primeiro certificado apresentado pela professora à secundária do Barreiro em 1988, a Inspeção-Geral da Educação refere-se ao documento como “falsificado, porquanto nessa altura apenas tinha concluído três disciplinas e, no documento, alegava a conclusão de 12″. Depois de denúncias anónimas, estima-se que a professora nem tenha tirado o bacharelato, já que para a obtenção desse grau precisaria de concluir 23 cadeiras.

A Universidade da Madeira reconstituiu o percurso da suposta ex-aluna e refere nunca ter passado ali ninguém com o nome de Paula Pinto Pereira. A única habilitação verdadeira da professora foi concluída na Universidade Aberta e ilegalmente, já que a docente só poderia frequentar o dito curso depois de concluir o bacharelato.

Chamada a dar justificações, a professora de Matemática insiste que é licenciada e que concluiu o mestrado na Universidade da Madeira, com suposta tese defendida na Universidade de Cambridge.

Paula Pinto Pereira está a ser investigada pelo Ministério Público por suspeitas de burla qualificada.

Após a descoberta deste caso, o jornal Público contactou sem sucesso o Ministério da Educação para mais dados sobre o número de casos de professores que falsificaram certificados de habilitações. Ainda assim, o Ministério admitiu fragilidades no “sistema de informação”, acrescentando a incipiência no registo biográficos dos professores.

O Ministério que tutela a Educação em Portugal dá ainda outra justificação para o sucedido: “A docente manteve-se durante vários anos em exercício de funções no mesmo estabelecimento de ensino, estando, por isso, menos exposta a mecanismos e momentos de análise e verificação de documentos”.