Três mulheres terão decidido durante um almoço começar um museu de arte moderna em Nova Iorque e, em menos de um ano, o Museum of Modern Art (MoMA) abriria ao público. Como em tantas outras situações, as mulheres foram impulsionadoras de algo histórico, contudo não são os seus nomes que ficam a ecoar na história com o passar dos anos. No ano em que o museu celebra 95 anos de existência, decidiu fazer justiça às figuras femininas da sua fundação e publicar o livro “Inventing the Modern: Untold Stories of the Women Who Shaped The Museum of Modern Art”, no qual se conta como foram os primeiros anos do museu através das histórias de 14 mulheres que tiveram um papel fundamental na instituição.

Anunciada em abril e colocada à venda este mês de setembro, esta edição de capa rija custa 56 euros e está recheada de ensaios escritos por mulheres contemporâneas a celebrar as histórias das fundadoras, curadoras, patrona e diretoras de vários departamentos, principalmente entre os anos de 1929 e 1945. “Estas mulheres inventaram campos de trabalho e definiram papéis dentro do museu durante os seus anos críticos de formação. As suas histórias estão a gora a ser contadas, em muitos casos, pela primeira vez, e como resultado a nossa compreensão da história do museu é decisivamente transformada”, disse Ann Temkin, editora do livro e curadora de pintura e escultura no museu.

A capa do livro “Inventing the Modern: Untold Stories of the Women Who Shaped The Museum of Modern Art”

Entre estas 14 magníficas destacam-se três mulheres: Abby Aldrich Rockefeller, Lillie P. Bliss e Mary Quinn Sullivan que, por terem sido fundadoras, têm perfis separados. “Comecei a pensar em mulheres que eu conhecia em Nova Iorque, que se preocupassem profundamente com beleza e que comprassem quadros, mulheres que estivessem disponíveis e tivessem suficiente fé, para ajudar a começar um museu de arte contemporânea”, contou Abby Aldrich Rockefeller. E assim, terá sido num almoço em 1928 que estas três mulheres tiveram a ideia de fundar um museu de arte moderna em Nova Iorque. No ano seguinte o MoMA abriu no 12º andar alugado de um edifício de escritórios com uma exposição dedicada aos mestres modernos, com a aprovação das três, que convidaram A. Conger Goodyear para ser primeiro presidente. As três mulheres integraram o conselho de administração fundador do MoMA composto por sete pessoas.  Vale a pena notar que o museu abriu mesmo depois do grande Crash da Bolsa em Nova Iorque.

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Abby Aldrich Rockefeller (1874 – 1948) nasceu em Rhode Island, filha de um político norte-americano e casou com o filho do fundador da Standard Oil Company, John D. Rockefeller Jr., tiveram seis filhos. A sua formação contou com uma viagem pela Europa onde educou o gosto que viria a ser fundamental para a futura colecionadora de arte. No MoMA teve vários cargos ao longo dos anos, por exemplo, foi tesoureira, promoveu a criação de uma biblioteca de filmes e de um centro de arte para veteranos de guerra.

Dorothy Miller a instalar a obra “Black Widow” de Alexander Calder no The Abby Aldrich Rockefeller Sculpture Garden, em 1967 © 2023 The Estate of Dan Budnik

Lillie P. Bliss (19864 – 1931) nasceu em Boston e era filha de um comerciante de têxteis que passou a político e secretário do Interior na administração do Presidente McKinley. Lillie acompanhava o pai em algumas funções e assim conheceu muitos artistas e pessoas influentes. Foi colecionadora de arte e patrona de artistas franceses e norte-americanos. Quando morreu, parte da sua coleção de arte, cerca de 120 obras, iria para o museu em 1934. A doação tinha a rara permissão de que as obras fossem vendidas de forma a adquirir fundos para novas aquisições. Na mesma linha temática deste livro abrirá em novembro uma exposição focada em Lillie P. Blass e na sua coleção, uma vez que em 1934, há 90 anos, foi uma exposição com o seu legado que inaugurou a coleção do museu.

Mary Quinn Sullivan (1877 – 1939) nasceu em Indianapolis, estudou arte em Nova Iorque e em Londres, e até chegou a estar ligada ao ensino do tema. Ela e o marido formaram uma coleção de arte europeia e norte-americana e com antiguidades irlandesas. Quando ficou viúva, em 1932, abriu uma galeria e viria a vender parte da sua coleção em leilão.

A equipa do MoMA fotografada à porta do museu, em 1937 © The Museum of Modern Art, New York / Soichi Sunami

Falta ainda referir Margaret Scolari Barr, mulher de Alfred H. Barr Jr., o diretor fundador do museu. A Sra. Barr seria uma mulher muito culta e conselheira do marido, que viajou com o companheiro pela Europa para organizar uma conhecida exposição de artistas vivos e tratar dos empréstimos das obras. Ela terá até ajudado figuras como Marc Chagall e Max Ernst a fugir do continente europeu durante a II Guerra Mundial. “Eu faria o trabalho e ele iria assinar as cartas que eu escrevia no papel de escritório oficial dele no museu”, confessou Margaret Barr, citada no Artnet.

Alfred Barr queria que o museu estivesse “dedicado a ajudar as pessoas a perceber e a desfrutar das artes visuais” do seu tempo e que este fosse “o maior museu de arte moderna do mundo”, segundo se lê no site do museu. A verdade é que o público correspondeu e numa só década o MoMA mudou três vezes de localização, sempre em busca de uma casa maior até que em 1939 ficou na morada que ainda mantém, na 53ª rua de Nova Iorque, entre a 5ª e a 6ª avenidas no centro de Manhattan.