A Índia admitiu esta quarta-feira que as relações diplomáticas com a República Popular da China estão gravemente afetadas pelo avanço militar de Pequim, há quatro anos, no território reclamado entre as duas potências vizinhas.
Com vários pontos de fricção e uma grande presença de tropas dos dois países na linha de fronteira, “o desafio é ver como resolvemos as nossas diferenças porque, neste momento, as relações (entre a Índia e a China) estão significativamente muito perturbadas”, reconheceu o Ministro dos Negócios Estrangeiros indiano, Subrahmanyam Jaishankar.
A posição do ministro dos Negócios Estrangeiros indiano foi manifestada durante um debate que decorreu na terça-feira à noite no Asia Society Policy Institute, em Nova Iorque, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas.
As declarações do membro do Governo de Nova Deli surgem numa altura em que decorrem negociações entre os dois países, na sequência de um violento impasse fronteiriço, em 2020, que a Índia diz ter sido desencadeado pelo avanço ilegal de Pequim em território disputado.
O avanço da República Popular da China provocou a reação da Índia levando a um confronto fronteiriço nos Himalaias ocidentais: tratou-se do pior conflito entre os dois países vizinhos em 45 anos e que causou a morte de pelo menos 20 soldados indianos e 76 feridos.
Desde essa altura, e na presença de um grande destacamento de tropas, a situação tem-se mantido tensa, apesar das numerosas rondas de negociações no sentido de fazer diminuir as tensões e reduzir o número de militares na região.
“Temos uma história difícil com a China (…) Apesar dos acordos explícitos que tínhamos com a China, vimos em plena Covid (em 2020) os chineses deslocarem um grande número de forças, violando esses acordos, para a Linha de Controlo Real (LAC, como é chamada a fronteira de facto)”, explicou o ministro indiano.
Resolver as diferenças é uma prioridade para a Índia, disse ainda o ministro dos Negócios Estrangeiros.
“Se o mundo deve ser ‘multipolar’, a Ásia tem de ser ‘multipolar’ e, por conseguinte, esta relação pode influenciar não só o futuro da Ásia, mas também, dessa forma, o futuro do mundo”, afirmou.
Jaishankar considerou que a relação entre a Índia e a República Popular da China é “singular”, na medida em que são os dois únicos países com mais de mil milhões de habitantes, “com periferias sobrepostas”, incluindo uma fronteira comum.
A Índia e a República Popular da China mantêm um confronto histórico em relação a algumas regiões dos Himalaias, como Aksai Chin, zona administrada por Pequim e que é reclamada pela Índia.
O último confronto ocorreu no início de abril, quando Pequim alterou unilateralmente o nome de 11 locais na região de Arunachal Pradesh, controlada por Nova Deli e reivindicada pela República Popular da China.