Quando assumiu de forma interina a presidência do Benfica após a demissão de Luís Filipe Vieira no âmbito da operação Cartão Vermelho, e na antecâmara da marcação de novas eleições no clube, Rui Costa optou por manter grande parte do anterior elenco nos três órgãos sociais do clube – algo que na altura lhe valeu algumas críticas, pela vontade dos associados em verem promovido um “corte” com o passado. Luís Mendes foi uma das exceções. Por um lado, era alguém com grande proximidade ao número 1 das águias; por outro, iria assumir as pastas das finanças, o que na teoria iria retirar espaço a Domingos Soares Oliveira, outro dos nomes muito sócios ao anterior líder. Luís Mendes foi também um dos primeiros a sair.
Administrador da SAD do Benfica Luís Mendes renuncia ao cargo
“Luís Mendes sai de forma muito surpreendente para mim. Não sou eu que tenho de explicar, ele é que devia estar aqui a explicar o Orçamento. Luís Mendes não saiu por causa dos Serviços e Fornecedores Externos. Entrou em choque com a política desportiva das modalidades amadoras, por exemplo. Não há desunião na Direção, estamos todos aqui a dar a cara ao contrário de um dirigente que saiu. Luís Mendes terá todo o direito à palavra e de vos explicar porque saiu do Benfica. É difícil explicar uma coisa que veio da cabeça de Luís Mendes na terça-feira quando comunicou a saída. Não havia qualquer indício de que ele não estaria aqui hoje. Estamos aqui a dar a cara, era o que ele devia ter feito”, comentou Rui Costa na Assembleia Geral do clube em junho, poucos dias depois da demissão do vice-presidente e administrador da SAD.
Durante alguns meses, Luís Mendes preferiu remeter-se ao silêncio. Iria falar no início de setembro mas toda a turbulência no plano desportivo, com a saída de Roger Schmidt depois do empate em Moreira de Cónegos, a entrada de Bruno Lage e o fecho do mercado de transferências, levou a um compasso de espera. Agora, esta quinta-feira, véspera de mais uma reunião magna do clube na sequência da Assembleia Geral de sábado de aprovação da revisão estatutária que terminou com a demissão do líder da Mesa, Fernando Seara, falou em entrevista ao jornal Record. E falou sem poupar ninguém, em mais um capítulo no atual contexto mais conturbado do Benfica em termos institucionais quando o clube está apenas a um ano de novas eleições.
“Saí do Benfica em primeiro lugar porque não estava de acordo com o modelo de governance que estava a ser seguido. Gente não executiva a mandar nos destinos do clube é regressar ao tempo dos dinossauros. Por outro lado, estava muito em desacordo com o rumo económico que o clube está a levar e com a política desportiva. Rui Costa? Neste momento não o considero um bom presidente para o Benfica. Tem vindo a demonstrar uma grande incapacidade de decisão e isso é fatal. E aquilo que estou a afirmar é transversal à opinião do universo benfiquista. Se fosse hoje, Rui Costa perderia eleições para qualquer candidato. Até para Vieira? Perderia para qualquer candidato”, referiu o antigo dirigente dos encarnados.
“Exigi a saída do chefe de gabinete de Rui Costa, Nuno Costa, e também o afastamento de Jaime Antunes do Conselho de Administração da SAD. Além de ser o anterior chefe de gabinete de Vieira, o que não abona a seu favor, Nuno Costa era uma pessoa que andava permanentemente a meter-se nos assuntos da SAD, a criar entropia, a tentar substituir-se ao presidente nas tomadas de decisões ou até, muitas vezes, a condicionar a tomada de decisão do presidente. Jaime Antunes é um individuo fortemente destrutivo, que está de forma permanente a arranjar complicações. Divergências com Fernando Tavares? Foi acusado e pronunciado [na operação Lex], eu demitia-me imediatamente. Não respeita ninguém, não respeita o orçamento e é o responsável pelos resultados negativos que o clube apresentou este ano”, apontou.
Luís Mendes abordou também a presença de figuras próximas de Luís Filipe Vieira no Benfica. “O que é que é isso do vieirismo? Eu ouço às vezes a falar no vieirismo e acabo por não compreender bem aquilo que é o vieirismo. Luís Filipe Vieira fez coisas bem feitas no Benfica, assim como fez coisas mal feitas. A questão aqui, que é importante, são todas aquelas pessoas que transitaram dos mandatos de Luís Filipe Vieira para o presidente Rui Costa. Essas é que são o problema, isso é aquilo que tem que ser erradicado. Como Jaime Antunes? É um dos vice-presidentes que transita”, referiu também o antigo número 2 da Direção.