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"Pedro forever": San Sebastián aclama Almodóvar, o "pirata" que, sem o cinema, teria "caído em desgraça"

Com um Leão de Ouro ganho em Veneza, o cineasta espanhol viajou com a glória do novo "The Room Next Door" até San Sebastián. Aplaudido, estimado, adorado, lado a lado com Tilda Swinton.

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"Todos os filmes são movimento e nem todos podem ter a oportunidade como eu tive, de estar livres de uma indústria e de plataformas de streaming", disse Almodóvar

WireImage

"Todos os filmes são movimento e nem todos podem ter a oportunidade como eu tive, de estar livres de uma indústria e de plataformas de streaming", disse Almodóvar

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Aos 74 anos, Pedro Almodóvar, ícone pop do cinema mundial a partir de Espanha, parece não estar preocupado em mostrar a importância ou o valor que tem ao apresentar-se no festival de San Sebastián. Nem parece lembrar-se de todos quantos, ao longo dos anos, quiseram fazer parte do seu universo repleto de cor, humor e tragédia. Veio até ao País Basco para receber o Prémio Donostia por uma já longa — e contínua — carreira, ao mesmo tempo que aparece acompanhado do Leão de Ouro que venceu na última edição do festival de Veneza, com o filme The Room Next Door, a sua primeira produção em língua inglesa (que se estreia em Portugal a 5 de dezembro).

Como acontece com qualquer estrela de cinema, há uma agenda apertada para seguir, recheada de passadeiras vermelhas, sessões fotográficas e entrevistas. Mas Pedro Almodóvar, que nunca ganhou qualquer prémio por aqui e se estreou na secção Novos Realizadores em 1980 com Pepi, Luci, Bom y otras chicas del Montón, quis aproveitar cada momento.

[trailer oficial do filme “The Room Next Door” de Pedro Almodóvar:]

Enquanto vários jornalistas esperavam por uma entrevista com Mónica Bellucci, no Hotel Maria Cristina, o cineasta espanhol aceitou falsear um momento televisivo para um canal espanhol: o jornalista encontrava “por acaso” o realizador. Minutos depois, Pedro Almodóvar seguiria para a conferência de imprensa, completamente cheia, onde deixou uma espécie de resumo poético de um percurso com mais de 40 anos. Falou sobre tudo, sempre bem disposto, e até aceitou uma Concha de Ouro a brincar (prémio mais importante do festival), que lhe chegou pelas mãos de uma repórter.

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“Têm sido 24 horas de grande emoção. Se não fosse o cinema, tinha caído em desgraça.” Ei-lo, “homem barroco”, que mistura vidas marginais com linguagem de publicidade e que, finalmente, aceitou fazer um filme longe da sua língua e deixar-se namorar pela indústria norte-americana, romance que pode posicioná-lo, mais uma vez, rumo aos Óscares. Um dia de aniversário para nunca mais esquecer, que terá a sua coroação na gala em sua homenagem ao final do dia desta quinta-feira.

O filme, bem mais sério do que é habitual, conta a história de uma amizade feminina entre uma escritora (Juliane Moore) e uma antiga repórter de guerra (Tilda Swinton). A primeira descobre, por acidente, que a amiga está a morrer com um cancro terminal. A segunda, desafia a velha conhecida a ser a observadora da sua morte no quarto ao lado. A amizade tinha ficado lá atrás, mas o fim de vida transforma-se numa oportunidade para um debate profundo sobre a eutanásia.

Tilda Swinton e Julianne Moore, as protagonistas de "The Room Next Dor", o filme que deu a Almodóvar o Leão de Ouro em Veneza

Apesar de ter aceitado trabalhar com atrizes e outro sistema que não o espanhol, Pedro Almodóvar começou por fazer uma retrospetiva do seu trabalho, sempre autónomo, sempre em liberdade. “Nunca pensei no meu talento. Desde cedo percebi que tinha uma vocação muito forte sobre o que é o cinema. Todos os filmes são movimento e nem todos podem ter a oportunidade como eu tive, de estar livres de uma indústria e de plataformas de streaming. Desde cedo que na nossa produtora, a El Deseo, criada com o meu irmão Agustin, quisemos ir à procura de distribuidoras com maior sensibilidade para o cinema. E perdíamos, tal como eles, dinheiro. Mas queríamos essa autonomia e independência.”

Essa já não é, de todo a realidade, porque o cinema que criou é adorado e bajulado à volta do mundo, numa sucessão de gerações que renovadamente encontra em Almodóvar o homem-destino certo para satisfazer paixões cinéfilas. “Na verdade, não conheço esta geração de Tik-Tokers e de influencers. Talvez um dia faça um filme sobre eles.” Antes de rumar a 2024, presentado com o Leão de Ouro, voltou novamente atrás. Sem nunca mencionar a relação difícil que tem tido com o festival de San Sebastián, Almodóvar quis lembrar o seu ano de estreia no festival, no qual trouxe o seu primeiro melodrama que misturava cenas eróticas e a energia da chamada movida espanhola. “O filme tinha tantos defeitos que todos juntos se transformaram num estilo”, disse, enchendo a sala de risos por parte dos jornalistas.

Tilda Swinton, uma das protagonistas de The Room Next Door, também voou até San Sebastián. E voltou ao set de Almodóvar depois de terem trabalhado juntos em 2020, na curta-metragem Voz Humana. Apelidou o espanhol de “pirata”, tal como se descreve a si própria, pois ambos, apesar de tanta experiência na indústria do cinema, ainda se sentem “como amadores”. “O Almodóvar transformou-se numa peça central da minha vida quando conheci o seu trabalho nos anos 80, quando comecei. Ele é um pirata. Determinado, com visão pura, vê-se como um realizador jovem. O público quer muito ver esse sentimento de presença, de desejo pelo cinema. Pedro Forever [Pedro Para Sempre]”, rematou.

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Almodóvar recebe das mãos de Tilda Swinton o prémio Donostia, distinção de carreia atribuída pelo festival de San Sebastián

AFP via Getty Images

Os tais “defeitos” que o realizador apontou tornaram-se numa marca, mas com a fama veio também maior responsabilidade. Não só porque transpôs para a tela personagens como a prostituta transexual Agrado, em Tudo Sobre Minha Mãe ou um António Banderas (um dos seus atores mais recorrentes) transformado num homem instável que decide raptar uma antiga estrela pornográfica em Ata-me, mas também porque passou a existir uma crescente expectativa em relação ao seu projeto seguinte. E o próximo. E o próximo depois desse.

Mas a vida acontece: “A certa altura tive de escolher entre viver emoções fortes e a disciplina. Trabalhar em cinema pode ser muito solitário, podes viver rodeado por uma equipa muito tempo. Mas o tempo tem-me enriquecido. Não sei porque é que os jovens me seguem, mas a verdade é que cada vez que começo um filme, sinto que entro numa nova aventura”. Conta já com 23 dessas aventuras, ou filmes, e que, no fim de contas, lhe pertencem. “O facto de todas essas obras me pertencerem tem sido o melhor destes 44 anos”, referiu.

Sendo o seu cinema “político sem o ser”, Almodóvar não podia abandonar o Kuursal, onde decorreu a conferência de imprensa, sem falar sobre vários tópicos, desde a eutanásia, às políticas culturais de Espanha, passando pelas alterações climáticas. Uma das personagens secundárias de The Room Next Door é a de um escritor tornado conferencista das alterações climáticas que perdeu a fé na humanidade, interpretado por John Turturro. “O pior que pode acontecer a uma sociedade é quando a extrema-direita se encontra com o liberalismo mais selvagem. Se pudesse, votaria nas eleições dos Estados Unidos, por exemplo. Porque os meus filmes são políticos sem o ser. Têm algo em comum: a liberdade”.

Como a sua consagração está mais do que estabelecida e está numa idade em que não tem de ser politicamente correto, Almodóvar referiu ainda o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sanchez, que estará presente na gala marcada para o fim da tarde. “É um apoio à cultura porque nem sempre acontece. Apelidam-no de Senhor Bonito, portanto, há muito para lhe dizer a nível físico, mas também político. Logo decido o que fazer, se serei mais sério ou não”, disse.

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