O grupo parlamentar do Partido Socialista pediu esta sexta-feira ao Presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas que marque uma audição à Presidente do Instituto Camões, para explicar a estratégia do ensino de português no estrangeiro.
Este pedido de audição à presidente do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, Florbela Paraíba, surgiu após o deputado socialista Paulo Pisco ter participado “numa reunião em Paris, onde foi abordado o acompanhamento do ensino de português em França, com diversas entidades”, e onde se discutiu “a situação do ensino da língua”, desde o ensino primário ao universitário, contextualizou o deputado, eleito pelo círculo europeu, à Lusa.
“[Na reunião] questionei quantos alunos não tinham resposta para frequentarem cursos e fiquei surpreendido com a dimensão do número, porque 10.000 pedidos para frequentarem aulas, ou para a abertura de cursos é demasiado”, prosseguiu.
O deputado socialista ressalvou que, no passado, os números de pedidos já eram elevados, mas que agora têm uma dimensão ainda maior.
“Isto significa que há uma procura muito superior à resposta e tem de haver uma adequação”, salientou.
“A língua portuguesa, em todas as suas vertentes e dimensões, é um dos elementos da política externa portuguesa, e deve ser valorizada, mas, com este tipo de insuficiências que existem na estrutura do ensino da língua, não se pode afirmar que estamos a valorizá-la, como retoricamente sempre afirmamos”, lamentou.
Tendo em conta a dimensão da língua portuguesa – que é a quinta mais falada do mundo – “tem de haver, por parte do Estado, uma resposta adequada” e “uma estratégia para a língua portuguesa” em todos os graus de ensino, daí o requerimento apesentado, disse.
O deputado disse que, apesar de em França existir uma presença assinalável, com 16.000 alunos a aprenderem português nas diferentes modalidades de ensino — que incluem o ensino paralelo, titulado pelo Instituto Camões —, esta dimensão ainda está “aquém do potencial que poderia ter”, devido à presença que a comunidade portuguesa tem neste país.
Assim, o PS quer saber, na audição, quais são as estratégias para resolver este tipo de expectativas que existem na comunidade portuguesa.
“Foram lançadas experiências piloto em Bordéus e Estrasburgo, com ensino à distância, para que fossem agregados alunos que estão dispersos pelo país, pois, em França, existem portugueses de Norte a Sul, de Este a Oeste”, afirmou.
“Além do ensino tutelado pelo Instituto Camões, existem outro tipo de problemas que têm a ver com o apoio aos cursos e aos leitores [professores] nas universidades, porque há uma necessidade de haver uma diversificação maior relativamente às atividades associadas aos cursos de português, para que os alunos sintam essa motivação”, declarou.
Um dos indícios que existe é que este ano não houve nenhum candidato para leitor nos cursos de português nas universidades, porque “as condições, em termos de carreira e salariais, provavelmente, não são atrativas”, e isso é preocupante, declarou.
Na audição requerida, o PS quer saber “qual o rumo que o Instituto Camões quer dar agora – com a sua nova direção – à língua e quais são as respostas que tem a dar aos problemas identificados”, acrescentou.
Paulo Pisco considerou, ainda, “fundamental que o acordo no âmbito do ensino, assinado nos anos 70 — mesmo com alguns acrescentos posteriores — pelas duas nações, seja revisto” e que haja “um empenhamento diplomático para que o estatuto da língua portuguesa seja reconhecido pelas autoridades francesas”.