Carlos Tavares liderou (com muito sucesso) a PSA, antes de lhe ser confiada a difícil tarefa de fazer funcionar a Stellantis, em 2021. Nestas novas funções, qual equilibrista, cabe-lhe apresentar resultados e conciliar interesses de diferentes partes. Por um lado, os dos franceses da antiga PSA (Peugeot, Citroën, DS e Opel), com a família Peugeot à cabeça, por outro, os dos italianos e americanos da antiga Fiat Chrysler Automobiles (FCA), sendo que estes últimos se ancoram essencialmente no poderio da família Agnelli (os donos da Fiat) e nos fundos de reformas do antigo grupo Chrysler. Acontece que a “facção” norte-americana da Stellantis, que é o 4.º maior grupo automóvel a nível mundial, está a pedir a demissão do gestor português.

Accionistas processam Carlos Tavares e Stellantis por redução de lucros

Depois de vários semestres a evoluir favoravelmente, os resultados da Stellantis pioraram 48% nos primeiros seis meses de 2024, o que levou Carlos Tavares a apontar o dedo às marcas norte-americanas, acusando-as de fazerem parte do problema. Simultaneamente, o homem-forte da Stellantis admitiu pretender encerrar (ou vender) os construtores que, no universo das 14 marcas que compõem o grupo, não atingissem lucros ou a rentabilidade esperada. Ora, parece que nem a acusação, nem a solução apresentada para estancar os maus resultados terão agradado aos accionistas norte-americanos da Stellantis que, juntamente com os concessionários locais, acusam a administração do grupo de má gestão e pedem a cabeça do CEO português.

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Afinal, Stellantis não vende (ou encerra) nenhuma das 14 marcas

O chairman da Stellantis, John Elkann, garantiu à Bloomberg que a posição de Tavares dentro do grupo não está sob ameaça iminente e disse ainda que as suas decisões não desagradaram de forma alguma os accionistas. Contudo, a rede de concessionários dos EUA acusa Tavares de ter provocado uma rápida degradação das marcas norte-americanas e de não realizar acções específicas para reduzir o inventário. A par disso, criticam o facto de o CEO ter levado a cabo muitos despedimentos e responsabilizam-no pela redução da produção nas fábricas norte-americanas, medida que visou a Chrysler e a Dodge.

Por seu turno, a Stellantis mantém a defesa da estratégia implementada, sublinhando que “a revisão dos objetivos em períodos tão conturbados é um imperativo no sector automóvel”. Segundo o grupo, “o importante é melhorar o índice de satisfação dos clientes e o desempenho da empresa, sem comprometer o cumprimento das regras impostas pelo regulador, especialmente as referentes ao CO2”.