A Savannah Resources, empresa mineira proprietária do projeto de exploração de lítio em Boticas, prevê iniciar os trabalhos da segunda fase do programa de perfuração nas próximas semanas. Estes trabalhos inserem-se no estudo de viabilidade definitivo do projeto e aguardam a atribuição de uma servidão administrativa do Estado que permita à empresa ter acesso a terrenos que não detém e que são considerados essenciais para a preparação deste projeto.

A informação consta do comunicado dos resultados do primeiro semestre da empresa onde é também referido que o “processo burocrático para a conclusão do processo de servidão administrativa foi infelizmente mais demorado do que o previsto, o que obrigou a um ajuste de calendário”.

Esta demora atrasou a conclusão do DFS (estudo de viabilidade definitiva) para o segundo semestre de 2025, prevendo a empresa que o licenciamento ambiental (do projeto de execução) possa acontecer “numa data próxima”. “O comissionamento e a primeira produção do projeto decorrerão ainda assim o mais cedo possível ao longo do ano de 2027”. A Savannah tinha a expetativa de iniciar a produção de espodumena (a partir do qual se extrai o lítio) em 2026.

Apesar de ter de recorrer a uma servidão administrativa para aceder aos terrenos privados, a Savannah diz que “o programa de aquisição amigável dos terrenos continuará aberto e disponível para aqueles que dele quiserem beneficiar”.

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Citado no comunicado, o presidente executivo Emanuel Proença afirmou: “Sempre foi nosso desejo poder completar acordos de compra ou arrendamento com todos os proprietários num prazo que tivesse permitido um início mais precoce desta fase de trabalhos. No entanto, embora já tenhamos adquirido para cima de uma centena de terrenos e continuemos a adquirir mais, não foi ainda possível chegar a acordo com todas as partes. Recorremos por isso à figura de servidão administrativa temporária para acesso aos terrenos, um processo comum em projetos industriais como o nosso”.

Os projetos de exploração de lítio em Boticas e em Montalegre têm suscitado persistente oposição local. A exploração em Boticas recebeu a aprovação ambiental no ano passado, num processo de licenciamento que foi um dos visados nas buscas realizadas em novembro de 2023 ao abrigo da Operação Influencer. Não se conhecem desenvolvimentos deste inquérito judicial.

A Savannah anunciou em junho uma parceria estratégica com a AMG Critical Materials que é proprietária de uma refinaria de lítio na Europa que abriu recentemente a sul da Alemanha. Ao abrigo desta parceria recebeu um investimento de 16 milhões de libras (19 milhões de euros), correspondente a cerca de 16% do capital,  e um acordo de compra e venda de parte de produção. De acordo com o quadro legal português, pelo menos uma parte da produção deve ficar em Portugal para o tratamento industrial (refinação) de modo a a reter no país o elo da cadeia de maior valor acrescentado.

O lítio é muito procurado para a produção de baterias. A espodumena de lítio é uma das fontes deste minério. A Savannah espera vir a produzir o suficiente para mais de meio milhão de baterias de veículos elétricos em Portugal todos os anos.

A Galp Energia tem um projeto de mais de mil milhões de euros para construir uma refinaria em Setúbal, em parceria com a Northvolt. No entanto, a parceria que chegou a existir entre a Galp e a Savannah para o escoamento do lítio produzido em Boticas desfez-se. A empresa mineira indica que há um acordo de cooperação com a AMG para estudar uma fábrica piloto de feldspato/espodumena em Portugal, bem como de uma refinaria de carbonato de lítio em Portugal ou Espanha. A Savannah diz que mantém o controlo de mais de metade da produção prevista o que lhe dá margem para trabalhar com outros parceiros.

Neste comunicado são anunciadas alterações no conselho de administração da Savannah, empresa australiana cotada em Londres, com a nomeação de um novo presidente, Rick Anthon, e a indicação de Diogo Silveira para a vice-presidente.