Conhecido pelo seu habitual abanar do indicador depois de contrariar os ataques de adversários ao cesto, Dikembe Mutombo, um dos melhores defesas em mais de 70 anos de NBA, morreu aos 58 anos, vítima de um tumor no cérebro, anunciou a Liga de Basquetebol norte-americana (NBA) esta segunda-feira.

“Dikembe Mutombo era, simplesmente, maior que a vida”, escreveu o comissário da NBA, Adam Silver, nas suas redes sociais. E não só pelos seus 2.18m de altura, que o tornaram “num dos melhores jogadores defensivos na história do basquetebol”, mas também pela sua reconhecida atitude filantrópica que assegurou melhores condições de vida para centenas de jovens que queriam escapar às condições que o próprio teve de enfrentar.

Natural de Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo, Dikembe sonhava ser médico e o basquetebol não estava sequer no seu radar de interesses. Praticou futebol e artes marciais, mas a sua estatura física despertava a atenção de quem com ele lidava. Com 2.18m, Mutombo, encorajado pelo seu pai e irmão, pegou numa bola de basket pela primeira vez aos 16 anos. Rapidamente chamou à atenção aos profissionais que sobrevoavam o mundo à procura de uma jovem estrela que pudessem “roubar” para as prestigiadas universidades norte-americanas e integrar os plantéis da competição universitária da NCAA. John Thompson, ex-jogador dos Boston Celtics e, na altura, treinador da Universidade de Georgetown, foi o grande vencedor da corrida pelo jovem africano.

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Foi apenas no terceiro ano ao serviço dos Hoyas que colocou o seu nome no mapa dos jovens prodígios com um possível futuro na liga de basquetebol mais prestigiada do mundo. Nessa época, Thompson colocou-o ao lado do caloiro Alonzo Mourning, também atual membro da “Hall of Fame”, criando uma dupla temível para qualquer elenco que os tivesse de enfrentar. A alcunha era “Torres Gémeas”, pois Mourning media 2.08m, e os dois estiveram muito perto de atingir o sucesso do torneio “March Madness”, a célebre competição que reúne as 64 melhores equipas universitárias do país.

Em 1991, no draft anual da NBA, durante o qual foram escolhidos os 54 maiores nomes da competição universitária e do jogo a uma escala mundial (atualmente são 60, pelo aumento do número de equipas na competição), os Denver Nuggets, com a quarta escolha, permitiram a Dikembe Mutombo chegar à NBA. Ao longo de 18 anos, quase 1.200 jogos e uma passagem por seis equipas diferentes, o poste vindo da República Democrática do Congo eternizou o seu nome na história da liga, acumulando um grande palmarés individual, a que ficou a faltar apenas o icónico troféu Larry O’Brien, atribuído à equipa vencedora do campeonato. No entanto, individualmente, poucos fizeram aquilo que o “Hall of Famer” Mutombo fez.

Com quatro prémios de melhor defesa do ano, Dikembe é um de três jogadores na história da liga a atingir este feito. Por três ocasiões diferentes, liderou em desarmes de lançamento, tendo acumulado perto de 3.300 ao longo da sua carreira, o que o coloca no segundo lugar desta métrica desde a génese da liga há 77 anos.

Fora de campo, Mutombo deixou igualmente um legado. Em 1997, criou a Fundação Dikembe Mutombo, focada na construção de hospitais e cuidados de saúde na região central do continente africano. Em homenagem à mãe, em 2007, financiou a construção do Hospital Biamba Marie Mutombo, em Kinshasa, o primeiro novo hospital a ser construído na capital em 40 anos. Foi igualmente eleito o primeiro Embaixador Global da NBA, com o objetivo de promover iniciativas relacionadas com a modalidade por todos os cantos do mundo.

Segundo Adam Silver, Mutombo “adorava o que o jogo de basquetebol podia fazer para ter um impacto positivo nas comunidades”, especialmente na sua região natal. “Era sempre muito acessível em todos os eventos que frequentava — com o seu sorriso contagiante, a sua voz grave e estrondosa, e o abanar de dedos característico que o tornaram querido pelos adeptos de basquetebol de todas as gerações”, reiterou Silver, na sua nota de pesar pelo gigante.

A sua atitude face ao jogo influenciou dezenas de jogadores africanos, como o ex-MVP e uma das caras da liga, Joel Embiid, que não se poupou nas palavras dirigidas à sua referência na modalidade. “É um dia triste, especialmente para nós africanos”, disse o camaronês em declarações à ESPN, reforçando a sua importância para o basquetebol.