Um crédito à habitação no valor de 150 mil euros, com spread de 1%, irá em outubro passar a pagar uma prestação mensal de cerca de 710 euros – uma descida de mais de 100 euros em relação aos 819 euros que esse crédito custou, por mês, ao longo do último ano. O cálculo ilustra o impacto prático da queda das taxas Euribor, que no prazo a 12 meses fecharam o mês de setembro com uma média mensal abaixo de 3%.

A taxa Euribor desceu, nesta segunda-feira, nos prazos a três, seis e 12 meses para mínimos desde maio e março de 2023 e novembro de 2022, respetivamente. O que é mais relevante para a generalidade das pessoas com crédito à habitação (com taxa variável) é que as médias mensais, que servem para o cálculo das prestações a pagar nos meses seguintes, continuam em rota descendente.

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No mês de setembro, que termina nesta segunda-feira, a média da Euribor desceu em todos os prazos mais usados. A descida foi menos acentuada do que aquela que aconteceu em agosto e, além disso, continua a ter menos intensidade nos prazos mais curtos.

Assim, a média da Euribor em setembro desceu 0,114 pontos para 3,434% a três meses (contra 3,548% em agosto), 0,167 pontos para 3,258% a seis meses (contra 3,425%) e 0,230 pontos para 2,936% a 12 meses (contra 3,166%).

A partir deste valor, o economista Nuno Rico, da DECO Proteste, calculou alguns cenários que mostram a poupança real com prestações de crédito. Usando um caso de alguém que tem um financiamento de 150 mil euros (dívida que ainda falta pagar de um crédito que, no início, pode ter sido superior), a descida pode ser superior a 100 euros caso esse cliente tenha Euribor a 12 meses e esteja agora a ter a revisão da prestação (que acontece anualmente, no caso da Euribor a 12 meses).

Se esse cliente tiver um spread de 1% (que acresce ao indexante Euribor) e um prazo de 30 anos (os anos que faltam para acabar de pagar aquela dívida), a prestação mensal era até agora de 818,95 euros – esse foi o valor que esse cliente pagou mensalmente, desde outubro de 2023. Agora, na revisão da prestação, esta irá passar para 710,60 euros, ou seja, 108,35 euros de poupança.

No caso dos clientes com Euribor de prazos mais curtos – e que, por isso, têm revisões periódicas mais frequentes na sua prestação, as poupanças também podem ser relevantes. Numa Euribor a três meses o mesmo cliente pagava 780,21 euros e vai passar e pagar 754,16 euros. E na Euribor a seis meses, a mais utilizada em Portugal, a prestação era 795,63 euros (potencialmente desde abril de 2024) e, agora, se for mês de revisão, o custo mensal desce para 738,61 euros.

Euribor a seis meses passou a ser a mais usada em Portugal

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Com as alterações desta segunda-feira, o valor diário da Euribor a três meses, que baixou para 3,279%, continuou acima da taxa a seis meses (3,105%) e da taxa a 12 meses (2,747%).

A taxa Euribor a seis meses, que passou em janeiro a ser a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação com taxa variável, esteve acima de 4% entre 14 de setembro e 1 de dezembro de 2023.

Dados do Banco de Portugal (BdP) referentes a julho mostram que a Euribor a seis meses representava 37,1% do ‘stock’ de empréstimos para a habitação própria permanente com taxa variável. Os mesmos dados indicam que a Euribor a 12 e a três meses representava 34,2% e 25,4%, respetivamente.

No mesmo sentido, no prazo de 12 meses, a taxa Euribor, que esteve acima de 4% entre 16 de junho e 29 de novembro de 2023, caiu nesta segunda-feira, para 2,747%, menos 0,024 pontos do que na sexta-feira e um mínimo desde 3 de novembro de 2022.

A Euribor a três meses também desceu, ao ser fixada em 3,279%, menos 0,047 pontos e um novo mínimo desde 9 de maio de 2023.

A descida das taxas Euribor traz um alívio para as famílias que têm créditos à habitação com taxa variável. Porém, significa que os depósitos bancários têm tendência para oferecer uma remuneração cada vez menor.

A descida nos juros dos depósitos, aliás, começou logo no início do ano, quando se começou a perspetivar que as taxas de juro decididas pelo Banco Central Europeu (BCE) já não teriam grande probabilidade de continuar a subir e poderiam começar a descer gradualmente (como tem acontecido).

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