O ano de 2024 está a ser simpático para Lewis Hamilton. Na despedida da Mercedes e com o lugar na Ferrari já assegurado, o piloto britânico conseguiu ganhar em Silverstone e em Spa e quebrar um longo jejum de vitórias no Campeonato do Mundo. Apesar de estar longe de lutar pelo título, somou outros dois pódios para além dos dois triunfos e nunca ficou fora do top 10 em todas as corridas que terminou. E sente-se melhor do que nunca.

“Honestamente, sinto que estou mais saudável do que alguma estive. Estou num sítio muito bom, fisicamente e mentalmente. O meu tempo de reação é mais rápido do que o dos pilotos mais novos. Acho que sou melhor piloto do que era aos 22 anos. Aí era só novo, energético e impiedoso, mas não tinha classe, não tinha equilíbrio. Não sabia jogar em equipa, não sabia liderar. Ser um bom piloto não é só ser rápido, é ser completo”, explicou o piloto, que completa 40 anos no próximo mês de janeiro e que em 2025 vai cumprir a 19.ª temporada na Fórmula 1, em entrevista ao The Times.

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Ainda assim, existe uma clara mudança de geração no Campeonato do Mundo. Lewis Hamilton tem mais de uma década de diferença para alguns dos principais pilotos, como Max Verstappen, Lando Norris ou o colega George Russell, e será substituído na Mercedes pelo jovem Kimi Antonelli, acabado de fazer 18 anos. O italiano nasceu em 2006 — nessa altura, o britânico estava a ser campeão mundial no GP2 Series e a garantir o passaporte de entrada na Fórmula 1.

Apesar das quase duas décadas de experiência ao mais alto nível, porém, Hamilton garante que continua a manter um ritual que o acompanha desde o primeiro dia: benzer-se antes de qualquer arranque, tal como fazia o ídolo Ayrton Senna. “Rezo antes de todas as corridas. Rezo para que todos terminem em segurança. Não tenho medo de morrer, mas nós conduzimos a velocidades loucas. Temos de respeitar isso. É por isso que tenho tanta consciência do tempo que passo com a minha família, com a minha mãe. E se é a última vez que a abraço? Nunca sabemos, nada é garantido”, atirou.

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A ligação com Ayrton Senna é conhecida e reconhecida. O piloto brasileiro é o ídolo absoluto de Lewis Hamilton, que tem uma conexão especial e alimentada com o Brasil e que homenageia Senna sempre que compete em Interlagos, com bandeiras, capacetes com pinturas especiais e outfits escolhidos a dedo. Na entrevista ao The Times, o britânico recordou o dia da morte do brasileiro, lembrando que escondeu a emoção do próprio pai.

“Estava com o meu pai, estávamos a trabalhar no kart. Lembro-me de me afastar um pouco e de chorar, de chorar muito. Não podia chorar em frente ao meu pai, ele não era esse tipo de homem”, explicou, revelando depois que teve “fases muito difíceis depois dos 20 anos”. “Depressão. Desde muito novo, desde os 13 anos. Lutei com a minha saúde mental durante toda a minha vida. Acho que era a pressão das corridas e problemas na escola, o bullying. Não tinha ninguém com quem falar”, completou, acrescentando que não faz terapia, mas que gostava de encontrar um psicólogo, e que faz meditação todas as manhãs há vários anos.

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O gatilho para encontrar essas ferramentas, contudo, não foi o melhor. Lewis Hamilton recorda que “a rolha saltou” em 2020, quando viu o vídeo do homicídio de George Floyd. “Fiquei de joelhos a chorar, toda a minha emoção saiu. Foi uma experiência muito estranha porque não me lembrava de chorar desde que era muito novo. Sabia que estava na hora, que tinha de falar mais. Há pessoas a ficar em silêncio, há pessoas que não têm voz, e eu tenho esta plataforma. Ganhar títulos é uma coisa fantástica, mas o que é que estava a fazer com isso? O que é que estava a fazer com o meu tempo neste planeta?”, questionou, terminando a entrevista com a ideia de que gostaria de construir uma família, mas ainda tem “algum trabalho para fazer”.