Não foi à primeira, não foi à segunda, também não foi à quinta. Num encontro que o Al Nassr não demorou a “inclinar” para si na estreia na Liga dos Campeões asiática em Riade frente ao Al-Rayyan, Cristiano Ronaldo foi tentando chegar ao golo e conseguiu à entrada do último quarto de hora, aumentando a vantagem dos sauditas para 2-0 à sétima tentativa que fez à baliza. Mais um golo, mais uma vitória do Al Nassr com marca do português, mais uma noite conseguida. No entanto, esta não era uma noite qualquer para CR7.

Em dez jogos, marcou em nove: Ronaldo prolonga grande momento na Champions asiática (e chega aos 904 golos)

O Siiiiii habitual ecoou no Al -Awwal Park depois desse momento mas, ao contrário do que é normal, veio de fora para dentro e não de dentro para fora. Porquê? Porque o festejo de Ronaldo também foi diferente do que é normal, terminando com os dois dedos apontados para o céu como o próprio explicaria depois da partida que terminou com o triunfo por 2-1 com aquele que foi o nono jogo a marcar em dez compromissos.

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“Fizemos uma exibição excelente, criámos muitas oportunidades. O golo de hoje teve um sabor diferente, adorava que o meu pai estivesse vivo pois hoje é o dia do seu aniversário. Continuo a adorar jogar futebol e sei que não me resta muito tempo nos relvados. O mais importante não é ser considerado o melhor jogador ou ganhar prémios, o importante é desfrutar e ser útil ao clube e à Seleção Nacional. Os recordes fazem parte de mim e estou habituado a batê-los. Sinto pressão desde o primeiro dia e creio que sentirei até ao último”, comentou o avançado de 39 anos na conferência de imprensa após o encontro em Riade.

Dinis Aveiro, que morreu em setembro de 2005, faria esta segunda-feira 71 anos, razão pela qual foi tão recordado por Ronaldo no festejo do golo frente ao Al-Rayyan. A data coincidiu também com a passagem de Luiz Felipe Scolari, antigo selecionador nacional, pela Arábia Saudita, tendo oportunidade de estar com o jogador que lançou na equipa principal em 2004 – e a quem teve de dar a notícia do progenitor, quando a formação portuguesa estava na Rússia para um encontro de qualificação para o Mundial de 2006.

“Esse foi um dia muito difícil. Foi o momento que criou um laço muito forte entre nós, um laço que ultrapassa a relação entre treinador e atleta. Quando a notícia chegou até nós, antes de um jogo contra a Rússia, ninguém sabia como contar-lhe e ninguém queria fazê-lo também. Então eu disse-lhes que faria isso porque sabia como era perder um pai, pois tinha perdido o meu uns anos antes. Foi muito triste mas é o tipo de momentos que nos faz criar uma relação de amizade verdadeira. No dia seguinte, o Cristiano fez um jogo maravilhoso e regressou a Portugal. Ele pediu para jogar. ‘Não posso fazer nada pelo meu pai hoje, então vou jogar amanhã e depois vou embora'”, contou numa entrevista em 2022.

“O Cristiano continua igual. Conversámos sobre o recorde, o golo 901, o 902. Eu disse-lhe: ‘Cristiano, pára com essa bobagem’. E ele disse-me: ‘Mister, vou fazer os meus golos quando tiver de os fazer. Não estou preocupado. Vão surgir mais dez, 20. Não estou preocupado com isso de ter de fazer 1000′. Disse-me que estava muito feliz, que a família estava a gostar muito. Conversámos sobre o Roberto Martínez, a quem o Cristiano faz grandes referências. Fiquei feliz. Foi bom ter conversado com todos eles. A Arábia Saudita está muito bem organizada, há um excelente trabalho físico e técnico. Tomara que continue assim. Foi espetacular. Fiquei muito contente porque também encontrei o Bento, que foi meu jogador no Athl. Paranaense. Falámos bastante com o Talisca, o Otávio, o Ângelo. Foi muito boa a conversa. Mas o principal é que todos os jogadores expressaram um sentimento de felicidade. Estão a jogar num clube altamente organizado. Vi um trabalho muito bem feito”, contou o ex-selecionador à imprensa brasileira.