Era o primeiro grande teste de Bruno Lage. Depois de três vitórias folgadas no Campeonato e outra na Liga dos Campeões, o treinador do Benfica era verdadeiramente colocado à prova esta quarta-feira, em pleno Estádio da Luz, contra o Atl. Madrid. Não tanto pelo resultado, onde os encarnados nunca poderiam ser considerados favoritos — mas por aquilo que podiam ou não fazer ao longo de 90 minutos. 

O Benfica chegava à partida depois da goleada imposta ao Gil Vicente, no fim de semana, mas também depois da vitória na Sérvia contra o Estrela Vermelha que permitia ter já três pontos conquistados na espécie de campeonato que é agora a primeira fase da Liga dos Campeões. Do outro lado, estava um Atl. Madrid que também ganhou na primeira jornada, mas que vinha de um dérbi fisicamente exaustivo e mentalmente desgastante que terminou em empate contra o Real Madrid.

Ficha de jogo

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Benfica-Atl. Madrid, 4-0

Fase da liga da Liga dos Campeões

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Serdar Gözübüyük (Países Baixos)

Benfica: Trubin, Alexander Bah (António Silva, 86′), Tomás Araújo, Otamendi, Álvaro Carreras, Florentino, Kökçü (Leandro Barreiro, 86′), Fredrik Aursnes, Di María (Benjamín Rollheiser, 71′), Pavlidis (Zeki Amdouni, 60′), Aktürkoğlu (Jan-Niklas Beste, 71′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, André Gomes, Arthur Cabral, Andreas Schjelderup, Gianluca Prestianni, Issa Kaboré, Adrian Bajrami

Treinador: Bruno Lage

Atl. Madrid: Oblak, Giménez, Axel Witsel, Reinildo, Samuel Lino, Marcos Llorente (Nahuel Molina, 33′), Koke (Conor Gallagher, 45′), Rodrigo De Paul (Javi Serrano, 45′), Griezmann (Alexander Sørloth, 45′), Julián Alvarez (Giuliano Simeone, 60′), Correa

Suplentes não utilizados: Juan Musso, Antonio Gomis, Thomas Lemar, Clément Lenglet, Rodrigo Riquelme, Javi Galán, Gerónimo Spina

Treinador: Diego Simeone

Golos: Aktürkoğlu (13′), Di María (52′, gp), Alexander Bah (75′), Kökçü (84′, gp)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Fredrik Aursnes (23′), a Javi Serrano (70′), a Giménez (83′), a Correa (90+5′)

“Testes têm sido todos os jogos, porque não há margem de erro em nenhuma das competições em que estamos inseridos. É provar no relvado. Existem três coisas fundamentais: sermos equipa, termos a melhor versão de cada um dos nossos atletas em campo e ambição de vencer. Para nós, o que quero é que mantenham o mesmo sentido coletivo, a ambição de vencer. Queremos mais uma vitória, mas se não conseguirmos continua tudo na mesma. Temos de fazer um crescimento de forma sustentada e o mais importante é a equipa entrar com ambição de vencer. Isso nunca nos pode faltar”, disse o treinador encarnado na antevisão da partida.

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Neste contexto, e ainda sem contar com Renato Sanches e Tiago Gouveia, Bruno Lage surpreendia ao deixar António Silva no banco, apostando em Tomás Araújo ao lado de Otamendi e promovendo o regresso de Alexander Bah ao onze. No Atl. Madrid, onde Le Normand era baixa por ter sofrido um traumatismo cranioencefálico contra o Real Madrid, Diego Simeone apostava em Marcos Llorente e Samuel Lino nos corredores, com Correa e Julián Alvarez a fazerem companhia a Griezmann no trio ofensivo.

Os primeiros instantes do jogo permitiram perceber desde logo que o Benfica não iria oferecer a iniciativa ao Atl. Madrid, colocando as linhas bastante subidas e apresentando uma reação à perda de bola que encaixava com uma pressão alta muito eficaz e neutralizava o adversário. Os encarnados poderiam ter inaugurado o marcador ainda dentro dos dez minutos iniciais, com Pavlidis a rematar contra Witsel (6′) para depois cabecear para uma enorme defesa de Oblak (6′), e o golo acabou mesmo por aparecer.

Ainda dentro do primeiro quarto de hora, a pressão alta do Benfica deu frutos. Os encarnados recuperaram a bola em zona adiantada e Aursnes aproveitou a desorganização defensiva do Atl. Madrid para encontrar Aktürkoğlu à entrada da grande área: o turco recebeu, enquadrou-se e atirou rasteiro na cara de Oblak para voltar a marcar (13′). De forma natural, os colchoneros procuraram reagir ao golo sofrido, com o Benfica também a juntar os setores, e Samuel Lino assustou com um remate à meia-volta que saiu ao lado (19′).

Ainda assim, a exibição do Benfica mantinha-se muito positiva. Os encarnados construíam a três, com Bah a subir na direita assim que a equipa tinha a bola e Álvaro Carreras a ficar mais fixo perto de Otamendi e Tomás Araújo. Aktürkoğlu tinha claras missões defensivas, para ajudar o lateral espanhol a controlar as subidas de Marcos Llorente, e Aursnes era o responsável pelo apoio a Bah no lado contrário, libertando Di María e pressionando Samuel Lino, que foi o elemento mais esclarecido do Atl. Madrid durante a primeira parte.

Diego Simeone foi forçado a mexer à passagem da meia-hora, trocando o lesionado Llorente por Molina, e Lino ficou muito perto de empatar com um cruzamento que saiu muito puxado à baliza e acabou por bater na barra de Trubin (37′). Já nos descontos, apesar de os colchoneros terem beneficiado de um período de maior domínio na ponta final da primeira parte, Pavlidis esteve muito perto de aumentar a vantagem ao acertar no poste na cara de Oblak (45+3′). Ao intervalo, porém, o Benfica estava a vencer o Atl. Madrid na Luz.

Diego Simeone fez três substituições logo ao intervalo e tirou Koke, De Paul e Griezmann para lançar Conor Gallagher, Sørloth e Javi Serrano, mudando por completo o meio-campo e colocando um avançado de maior propensão para a exploração da profundidade. Com menos de dez minutos disputados, porém, o cenário ficou ainda melhor para o Benfica: o árbitro da partida foi chamado ao VAR para analisar um lance entre Gallagher e Pavlidis na área, assinalou grande penalidade e Di María, na conversão, aumentou a vantagem (52′).

O Atl. Madrid ficou completamente desorientado com o segundo golo sofrido e permitiu um período de autêntico caos na partida, com os encarnados a beneficiarem de uma vertigem que levou Pavlidis a cabecear para defesa de Oblak (54′) e Di María a ver o guarda-redes esloveno roubar-lhe o bis (55′). A dada altura, e com Bruno Lage a pedir isso mesmo na linha técnica, o Benfica começou a colocar algum gelo no jogo e a procurar gerir a vantagem sem permitir que o encontro partisse.

Simeone voltou a mexer à passagem da hora de jogo, trocando Julián Alvarez por Giuliano Simeone, e Bruno Lage respondeu ao trocar um esgotado Pavlidis por Amdouni. O Atl. Madrid ia tentando reagir, mas o Benfica mantinha-se muito concentrado e com uma reação à perda da bola assinalável, permitindo muito pouco espaço ao adversário e banalizando avançados como Correa, Sørloth e Simeone.

Rollheiser e Beste entraram nos encarnados nos últimos 20 minutos e Bah ainda foi a tempo de marcar, cabeceando ao segundo poste na sequência de um canto cobrado pelo lateral alemão (75′). Já perto do fim e com os colchoneros completamente derrotados e perdidos em campo, depois de Reinildo fazer falta sobre Amdouni na área, Kökçü converteu mais um penálti e fechou a goleada (84′). Bruno Lage ainda lançou António Silva e Leandro Barreiro, colocando Tomás Araújo na direita, e já nada mudou até ao fim.

O Benfica goleou o Atl. Madrid na Luz, impondo a primeira derrota da temporada aos espanhóis, e leva agora duas vitórias em duas jornadas da Liga dos Campeões. Numa noite europeia perfeita, Bruno Lage passou com distinção no primeiro teste desde que substituiu Roger Schmidt e, entre exibições memoráveis de Álvaro Carreras, Aursnes ou Aktürkoğlu, mostrou que o segredo esteve no trabalho de casa — e na importância de perceber que era crucial não dar um centímetro de espaço à equipa de Diego Simeone.