Este artigo foi originalmente publicado no 16.º número da
revista DDD – D de Delta.
A década de 1960. Os primeiros passos
Diversificar para crescer. A filosofia, presente na Delta Cafés desde o primeiro momento, foi colocada em prática de forma gradual. Em fevereiro de 1961, Rui Nabeiro fundou a Delta Cafés com a convicção de que para singrar teria não só de fazer melhor do que a concorrência, mas também diferente. Foi assim que surgiu a icónica lata de café de cinco quilos em tons de verde, vermelho e amarelo. Hoje, réplicas desta lata – uma edição comemorativa dos 60 anos da Delta – podem ser adquiridas no Centro de Ciência do Café, em Campo Maior.
Ainda nos anos 60, o negócio da Sociedade Dómuz Lda, que desde 1933 fabricava licores, começa a correr mal. Rui Nabeiro conhecia um dos sócios e vê aqui uma oportunidade de diversificação. “Eles estavam um bocado saturados daquilo, mas a bebida tinha uma boa posição no mercado. Então comprámos”, recordava em 2021 à DDD.
O negócio é fechado a 3 de junho de 1972 e os licores passam a ser fabricados no mesmo sítio onde era produzido o Café Camelo, marca criada em 1937 pelo pai e tios de Rui Nabeiro e que estava mais direcionada para o mercado espanhol. Apesar das ligações familiares, só em 2002 é que a Cafés Camelo foi oficialmente integrada no Grupo Nabeiro, que, no país vizinho, comercializa ainda as marcas de café Barco e Cubano. Davam-se, assim, os primeiros passos de diversificação na Delta.
A década de 1970. A aposta no retalho
A década de 1970 é marcada por duas decisões estratégicas. Em primeiro lugar, aproveitando a rede de clientes e os canais de distribuição que Rui Nabeiro vinha construindo – alicerçados no facto de, ao contrário da concorrência, a Delta Cafés entregar o produto diretamente à porta do cliente –, surge uma parceria estratégica com a Central de Cervejas. “Fizeram uma sociedade para distribuir cerveja Sagres. Sempre dava uns trocos”, recorda Francisco Magno.
No dia 4 de maio de 1981, Magno entrou na Domuz para ser comercial. Tinha como funções contactar clientes de norte a sul para “aquela tipologia de negócio que corria paralela ao café”. Três anos mais tarde, transitou para a Delta Cafés, onde, passados todos estes anos, permanece, agora com o cargo de Provedor do Cliente. “Estávamos constantemente a receber inputs de diferentes negócios e avaliava-se sempre se teria interesse.”
A segunda decisão estratégica foi a de entrar nos supermercados. Foi em meados dos anos 70, e, na viragem da década, os produtos da Delta marcavam já lugar nas principais cadeias de retalho da altura, como eram o Pão de Açúcar, o Minipreço e o Feira Nova, com dois lotes de café de 250 gramas: o Lote Chávena e o Expresso Bar. Até aí, a Delta Cafés conquistara sobretudo cafés, restaurantes e hotéis, para o que muito ajudou a apresentação, na década de 1970, das primeiras chávenas de café em faiança, com um design que viria a tornar-se clássico.
A década de 1980. O novo distribuidor
A Delta Cafés começa a desdobrar-se em marcas que vão para lá do café convencional. Assim, a partir de meados dos anos 80, as misturas torradas (como a Mistura Peninsular) e as cevadas, presentes desde o início, passam a ter a companhia da gama de solúveis e dos descafeinados. Ao mesmo tempo, o Lote Chávena e o Lote Superior destacam-se nas prateleiras dos supermercados com as suas novas e impressionantes embalagens de um quilo.
Os esforços de diversificação não se limitam a novas gamas de produto, ainda que sejam de realçar a entrada dos lotes de café Gold e Platinum, referências que ainda hoje são os topos de gama da Delta Cafés. “No final da década de 1980, regressado do exílio em Espanha, o Senhor Rui comprou 80 carrinhas e contratou 80 vendedores para irem de porta em porta”, recorda Francisco Magno. “Enquanto esteve em Espanha, entraram as marcas italianas e as italianizadas”, refere. “É nessa altura que lança os lotes Gold e Platinum e vai com mais força atrás do canal horeca.”
Em Setúbal, a Delta abre um supermercado como já havia feito em Campo Maior, um armazém grossista que abastecia o Alentejo “de tudo e mais alguma coisa”. É ainda criada uma sociedade para distribuir gás doméstico em botijas, a Delta Gás.
Em 1989, a Delta atinge um marco importante: depois de batalhar pela atenção dos clientes nas estantes de norte a sul do país, regista pela primeira vez “vendas de uma tonelada de café puro por mês em supermercados”.
A explosão das marcas
A multiplicação da Delta Cafés prossegue a bom ritmo com novos produtos próprios e parcerias. Onde quer que se vendesse o café de Campo Maior, os comerciais tentavam colocar também os vinhos durienses da Quinta do Loureiro (em retalho e horeca). O mesmo era válido para a Cruzcampo, marca de cerveja com origem em Sevilha que encontrou na Delta Cafés o parceiro ideal para chegar às goelas dos portugueses.
No que diz respeito ao café, a década é marcada pelo alargamento da gama de cafés com os novos lotes de origens certificadas, a dar cor às estantes de supermercado. É o que acontece com os lotes Colómbia, Brasil, Timor, Angola e Moçambique. Francisco Magno recorda como o lançamento do café Colómbia coincidiu com o primeiro aniversário do Jumbo de Alfragide, ainda em 1989. “Durante um mês, oferecemos café a toda a gente que lá ia. Até rebentámos com as máquinas. Foi a nossa primeira grande ação.”
À entrada dos concorrentes italianos em Portugal, a Delta riposta com uma nova marca que tinha uma estrutura e vendedores independentes, a Café Belíssimo, que ainda hoje é um belo café. Foi em 1997. Já o Lote Chávena mantém–se e, “durante imenso tempo, com a mesma imagem”.
A década de 2000. Cervejas e chocolates
A família de marcas alimentares distribuídas pela Delta Cafés cresceu consideravelmente nesta década. A tudo o que foi mencionado nas páginas anteriores juntavam-se agora, de uma só vez, a distribuição dos chás Tetley, dos licores Limoncello e das cervejas Heineken. Contudo, quando, em 2008, a marca holandesa adquire a Central de Cervejas, o caminho da Heineken e da Sagres deixa de passar pela distribuição da empresa de Campo Maior.
Perdem-se umas cervejas importadas, ganham-se outras. Nomeadamente, a norte-americana Budweiser, logo no início da década, como também as alemãs Beck’s, Franziskaner, Löwenbräu e Spaten, e as belgas Stella Artois, Hoegaarden e Leffe. O portefólio de cervejas do grupo AB InBev – a que todas estas pertencem – representada pela Delta começou pequeno, “por volta de 2002 ou 2003”, mas foi crescendo, ganhando confiança, o que culminou com esta a entregar-lhe a representação em Portugal da cerveja mexicana Corona.
No campo da nostalgia, o tempo era o das guloseimas compostas por chocolate, natas e pão de ló que alguém batizou de Phoskitos. Continuando agora no campo do chocolate, a Delta tornava-se também o distribuidor oficial da bebida Cola Cao. Foram tempos doces.
O ano de 2007. Chegam dois trunfos
Há anos marcantes e depois há anos como o de 2007, em que o Grupo Nabeiro apresentou duas marcas cujo impacto, passados quase 20 anos, se faz sentir mais do que nunca: a Delta Q e a Adega Mayor.
Ainda antes de haver adega já se fazia vinho em Campo Maior, mas a inauguração da Adega Mayor, em 2007, mudou o paradigma. Rui Nabeiro sonhou com uma obra que tivesse o potencial de se tornar um marco arquitetónico. Álvaro Siza Vieira desenhou-a: uma adega moderna e original, de linhas simples e bem integrada na paisagem, como até então não existia em Portugal. Desde então, entre vinhos tintos, palhetes, brancos, rosés, espumantes e biológicos, já saíram da adega milhões de garrafas de marcas como Caiado, Adega Mayor Reserva, Maestro ou Pai Chão.
A história da Delta Q começa em 2005 num atribulado almoço no restaurante Martinho da Arcada, em Lisboa, do qual Rui Nabeiro saiu com cara de poucos amigos, depois de o terem questionado sobre a Delta “ainda” não ter cápsulas. Rui Miguel Nabeiro, que acompanhava o avô nesse almoço garantiu-lhe que ia “pegar no assunto”, e cumpriu. “A Delta sempre foi uma empresa que vendia café e se preocupava com a sua marca, mas este tema da cápsula e da inovação mais disruptiva não estava na agenda”, disse à revista DDD em 2022. Passados dois anos nascia a Delta Q, com o objetivo de levar o expresso perfeito para as casas dos consumidores, de forma simples e conveniente – e o sucesso não tardou. Nos primeiros cinco anos, entre 2007 e 2012, a Delta Q vendeu 500 mil máquinas e 325 milhões de cápsulas, tornando-se líder no mercado português – posição que ainda hoje detém.
A década de 2010. Por novos territórios
O Grupo Nabeiro continuou a avançar por territórios novos, sempre alavancado pelo café. Quando se começaram a introduzir as gamas complementares ao café, o negócio era denominado de “Produtos Complementares”. Só mais tarde, a partir de 2012, é que passou a designar-se esse portefólio de produtos como “Mais Marcas”. E muitas mais marcas entraram no Grupo Nabeiro a partir de 2010, ano em que a Adega Mayor lançou, por exemplo, a gama de vinhos Caiado.
Se há uma característica que define esta década, é a vontade de inovar continuamente e a capacidade de identificar talento e inovação e de a trazer para o seio do Grupo Nabeiro. Foi assim com as sodas artesanais, baixas em açúcar e produzidas localmente, da Why Not Soda. No inverno de 2018, a Why Not Soda venceu o concurso “From-Start-to-Table” da Startup Lisboa, tendo o CEO da Delta Cafés, Rui Miguel Nabeiro, como mentor. No final de 2019, a startup entrou para o Grupo Nabeiro através de uma parceria que tem dado frutos – e cinco novos sabores.
Por esta altura, quase se poderia fazer um piquenique à base de produtos do universo Grupo Nabeiro. Sede, pelo menos, ninguém teria: o vinho seria da Adega Mayor, os refrigerantes da Why Not Soda e as bebidas frias de café pronto a beber da Go Chill – que nasceu através do MIND, a plataforma de inovação interna do Grupo Nabeiro. E quem só quisesse beber água saciaria a sede com a melhor das encostas da serra da Gardunha, a das Águas do Alardo, que está na Delta desde 2019.
A década de 2020. No pico da diversificação
Por estes anos, diversificação rima cada vez mais com inovação. E rima com produtos novos como barras de cereais de café (Croffee), café com origem nos Açores (Impossible Coffee), cafeteiras do tipo Slow Coffee, café frio a pressão como se fosse uma imperial (Nitro Coffee) ou a salicórnia processada que se transforma numa alternativa – mais saudável – ao sal (Qampo).
Nesta década, a inovação de dentro do grupo começa a ser uma constante, com iniciativas como o MIND – Modelo de Inovação da Delta (para colaboradores), e o Diverge, o Centro de Inovação do Grupo Nabeiro responsável pelo desenvolvimento de produtos tecnológicos e alimentares. É deste centro que surgiram, por exemplo, as máquinas de café expresso Delta Q Mini Cool e Delta Q Clip. E foi daqui que o sistema inovador de extração de café, desafiador da gravidade, foi criado. O mesmo que em 2022 foi apresentado ao mundo como a máquina RISE Delta Q with Starck, com design do ilustre Philippe Starck.
Mas nem por isso o Grupo Nabeiro passou a fechar-se ao mundo, antes pelo contrário. Em 2020, em parceria com a Startup Nãm, a empresa de Campo Maior criou a NÃM – Urban Mushroom Farm, um projeto de economia circular que produz cogumelos a partir de borras de café recolhidas de clientes Delta. Nos primeiros dois anos, de 200 toneladas de borras de café a nãm conseguiu produzir 50 toneladas de cogumelos. Em 2022, o Grupo Nabeiro passou a representar as cervejas Corona. E em 2023, com a sua eficiente estrutura de distribuição, “acelerou” a startup de refeições veganas Plantz à Mesa.
2024. As novidades
A pensar em momentos de consumo em que ainda não estava presente, o Grupo Nabeiro apresentou três novas categorias de produto no seu evento anual de inovação, que este ano decorreu em maio.
É o caso dos gelados sem açúcar, leite ou natas da SWEE, uma startup apoiada pela Delta Ventures, que até já se podem comprar nos Estados Unidos. Como é também o caso do OOTIE, the Real Smoothie, que além de rimar, chega ao mercado até ao fim do ano com um combinado de 75% de sumo de fruta com bebida de base vegetal e aveia, disponível em Frutos Vermelhos com Colagénio e Manga Laranja.
Por fim, é ainda o caso dos Unboring Snacks by Qampo, um produto com origem no programa de inovação interno MIND. Trata-se de uma nova gama de snacks à base de vegetais e leguminosas, e de chips à base de grão-de-bico, com menos 60% de gordura.
Além destes novos comes e bebes, não faltaram novidades “para quem gosta do café de sempre, mas não gosta de beber sempre o mesmo café”, como disse Rui Miguel Nabeiro, antes de apresentar as novas cápsulas Delta Q com sabor a baunilha, caramelo e frutos silvestres e espumante.
A gama de solúveis também foi renovada com cafés para três novas ocasiões: o Imunidade, para fortalecer o sistema imunitário, o Proteína, para aumentar o desempenho físico, e o Energia, para potenciar e estimular o metabolismo. Continuando no tópico cápsulas, atenção ainda para a gama aQtive Coffees, com sabores a canela, guaraná e extrato de coco, e para a nova biocápsula e o seu blendda gama intensidade, o Impactus. O futuro é cada vez mais diverso.
Diversificar rumo ao topo
Top 10
“Guiados pela inovação, pelo desejo de diversificação e impulsionados pela nossa origem, todos os anos nos propomos ir mais além, e 2024 será também um ano repleto de desafios. Com uma forte aposta nas nossas marcas, com o empenho incansável da nossa equipa e o nosso compromisso inabalável, estamos determinados em expandir a Delta no mundo e chegar ao Top 10 das marcas mundiais de café. Hoje, ocupamos o 22.º lugar.”
Estratégia
“Continuamos a crescer de forma sólida e sustentável e, por isso, definimos quatro pilares essenciais para a nossa estratégia de crescimento: inovação, internacionalização, diversificação e sustentabilidade. Reforçamos o nosso posicionamento com o desenvolvimento de novos produtos, diversificando a nossa oferta e, ao mesmo tempo, fortalecendo as nossas marcas, não só no mercado português como nos mercados internacionais.”
Delta House
“Somos uma casa aberta a todos. Estamos em cinco continentes, em mais de 40 países, com mais de 60 marcas do setor alimentar. Ambicionamos a diversificação, continuamos a apostar em novas categorias de produtos, e em breve, todos poderão encontrar as nossas marcas em Delta House, um selo de qualidade Delta que agrega todas as marcas do Grupo e que sustenta a estratégia da empresa na área de distribuição alimentar.”
Crescimento
“Temos crescido a dois dígitos, e este ano esperamos um crescimento de 20% em Espanha, que vem sobretudo do bom trabalho no canal horeca (hotéis, restauração e cafés) e também no retalho, onde estamos a crescer com a introdução de mais novidades. Hoje, contamos com um amplo portefólio de marcas. Somos cada vez mais uma referência na distribuição de produtos alimentares. Para continuarmos a crescer, temos de apostar em diferentes momentos de consumo.”
Ilustração: Margarida Esteves