O cantor Dino D’Santiago marcou presença no funeral de Carlos Pina, dono de uma barbearia na Penha de França, em Lisboa, que foi morto a tiro na passada quarta-feira juntamente com um casal de clientes. Foi através da rede social Instagram que o cantor revelou que conhecia a vítima, que descreveu como um “homem de sonhos, pai de seis filhos”, e que disse que estava em Cabo Verde quando “a notícia desabou como uma tempestade: uma tragédia pintada a sangue nas ruas” da capital portuguesa.
“Foi no dia 2 de outubro, e em plena luz do dia, pelas 13h25, numa pequena rua entre Santa Apolónia e a Penha de França, [que] o horror encontrou três almas inocentes e apagou-lhes o brilho para sempre”, afirmou Dino D’Santiago, antes de escrever que “o que aconteceu não é apenas uma tragédia de sangue”. “É o fruto envenenado da nossa indiferença, o reflexo dos vales do silêncio onde temos escolhido viver, confortáveis na nossa cegueira”, disse, em jeito de desabafo.
Na publicação, o cantor notou que “morreram três adultos e um filho que ainda repousava no ventre da sua mãe, mas a sociedade só soube falar em rótulos: ‘um barbeiro africano’, ‘uma grávida brasileira’, ‘um taxista'”. “E para que a discriminação fosse ainda mais grotesca, o assassino foi logo identificado como ‘um cigano’. Como se a tragédia pudesse ser explicada, como se as mortes pudessem ser justificadas com esses estereótipos”, acrescentou, antes de defender que “vivemos numa era de redes onde a palavra ‘social’ perdeu todo o sentido”.
“Ignoramos a verdade que grita diante de nós: que isto foi o resultado de uma mente doente, negligenciada durante anos. Um homem que caminhava perdido pelas ruas da cidade, enquanto todos nós desviávamos o olhar. O que se passou em Lisboa é um espelho do que acontece pelo mundo fora, onde o ódio se replica, seja pelo poder, preconceito, machismo, xenofobia ou por qualquer outro veneno que nos corrompe”, argumentou Dino D’Santiago. O músico termina o texto partilhado no Instagram a escrever que “cada tiro disparado” é “o sintoma de uma doença mais profunda”: “Nós, humanos, transformámo-nos no vírus mais letal deste planeta.”
Foi na passada quarta-feira ao início da tarde que um homem pegou numa arma e matou três pessoas, Carlos Pina, Bruno Neto e Fernanda Júlia, junto à barbearia “Granda Pente”, na Penha de França, em Lisboa. O suspeito da autoria do crime, com cerca de 30 anos, fugiu com ajuda de dois cúmplices e continua a ser procurado pelas autoridades.