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Uma desaparecida chamada Wanda

É a primeira série alemã na Apple TV+ e apresenta-se como um cruzamento entre thriller, policial e comédia. "Where's Wanda?" tem oito episódios e dois já estão disponíveis.

"Where’s Wanda?" é um delírio em volta dos documentários criminais que ficaram populares na última década e explora o imaginário em várias frentes
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"Where’s Wanda?" é um delírio em volta dos documentários criminais que ficaram populares na última década e explora o imaginário em várias frentes

Frédéric Batier

"Where’s Wanda?" é um delírio em volta dos documentários criminais que ficaram populares na última década e explora o imaginário em várias frentes

Frédéric Batier

Ninguém sabe onde está a Wanda. Mas quem é ela? Wanda (Lea Drinda) é uma adolescente de dezassete anos que um dia desaparece numa pequena cidade alemã que tem todos os traços de pequena localidade — preconceitos e clichés incluídos. Wanda, em voz-off, faz um excelente trabalho a apontar esses detalhes que, tantas vezes, damos como tão garantidos que até nos esquecemos da sua existência. Um deles salta à vista: o símbolo local, uma criatura mítica que, uma vez por ano, aparece na floresta e rapta uma criança. A cidade até festeja esse dia, com uma parada. Já dá para adivinhar em que dia Wanda desapareceu, certo? Até porque ela saiu de casa vestida à capuchinho vermelho. E essa história não se conta sem um lobo mau.

Mas há aqui um detalhe importante: Where’s Wanda? é uma comédia. Aqueles que preferem caixinhas muito pequeninas irão chamar-lhe uma “comédia negra”. Deixemos isto na gaveta maior, porque a forma que apresenta e o objeto que trabalha é maior do que a ideia simples de fazer pouco de algo mórbido. Outro detalhe: a série, criada por Oliver Lansley e Zoltan Spirandelli, é a primeira da Apple TV+ falada em alemão. Lembram-se de Dark? A Apple quer fazer o mesmo jogo que a Netflix. O que faz sentido, porque há mesmo qualquer coisa aqui.

Por ser uma produção distante da indústria americana, permite-se gozar com modelos muito populares dali oriundos, evitando os módulos de sátira ou de potencial auto-reflexão muito habituais. Parte do divertimento em ver Where’s Wanda? é perceber o como e o porquê do que está a gozar. Não que reconhecê-los seja fundamental, só que tem mais piada — tem sempre mais piada — se sentirmos o zeitgeist da coisa.

[o trailer de “Where’s Wanda”:]

Quando ficamos a saber da Wanda desaparecida, logo ao início, conhecemos os pais, Carlotta (Heike Makatsch) e Dedo Klatt (Axel Stein), a fazerem-se passar por empregados da companhia de eletricidade local para entrarem na casa das pessoas com a desculpa de que vão substituir algo obrigatório quando, na realidade, estão apenas a instalar câmaras de vigilância ilegais. Metido ao barulho está ainda Ole (Leo Simon), o irmão surdo de Wanda.

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A razão porque estão a fazer isto é o detalhe maldito de Where’s Wanda?. Após uma participação na televisão que corre muito mal, os Klatt ficam com a semente na cabeça de que ao fim de 100 dias, diz a estatística, é quase impossível encontrar uma pessoa desaparecida. Estão no dia 70, sentem a contagem decrescente e decidem fazer o trabalho de detetives. Uma pista recente cria a ideia de que se Wanda foi raptada, ela está numa área específica da cidade.

O que os leva a essa área é uma peça de roupa encontrada num contentor de doações. Têm um mapa da cidade na cave e vão selecionando potenciais casas suspeitas. Quando olhamos para o mapa pela primeira vez, vem à cabeça uma espécie de “Onde Está o Wally?” com temas bem reais e sombrios. Mas Wanda não é um bonequinho num cenário, é uma adolescente desaparecida que pode ou não estar numa daquelas casas. Onde está a graça? No facto de os pais nunca terem ponderado que a filha não esteja numa daquelas casas. Ou que tenha sequer sido raptada.

Where’s Wanda? é um delírio em volta dos documentários criminais que ficaram populares na última década e explora o imaginário em várias frentes: todas as casas escondem qualquer coisa, especialmente se procurarmos muito; amadores a fazerem investigação criminal não é a melhor das ideias; ou mais uma mulher branca desaparecida.

"Where’s Wanda?" subtrai aos poucos os elementos da rapariga desaparecida e alimenta-se da comunidade, daquela pequena cidade

Frédéric Batier

Por ser uma série alemã, não sente a necessidade de mostrar constantemente e de forma óbvia que está a fazer humor com estes temas — como fazem, por exemplo, produções como Only Murders In The Building (Disney+). E permite-se também gozar livremente com o imaginário suburbano alemão de classe média. Estamos no território de ideias feitas, dos lugares-comuns, nada naquele imaginário se sente novo ou fresco. Mas isso é bom, porque o humor não se sente forçado, até tem, de certa forma, um elemento de recompensa, por entregar aquilo que se espera.

Where’s Wanda? subtrai aos poucos os elementos da rapariga desaparecida e alimenta-se da comunidade, daquela pequena cidade. Mais uma vez, os segredos daquelas casas são lugares comuns, que, à medida que se acumulam, funcionam como um intensificador para a pergunta constante que vai na cabeça do espectador desde o início: e se os Klatt escondem também algo para lá do óbvio?

Estamos habituados a séries que se alimentam deste tipo de situações para revelar os podres de uma pequena sociedade. Há, no fundo, sempre um jogo de chantagem entre quem vê e as personagens. Só que em Where’s Wanda? não existe esse duelo e os podres, que não são bem podres, ficam entre nós e os Klatt. É um belíssimo desafio de contenção. Para começar a descobrir nos dois — de oito — episódios já disponíveis, com novos a chegarem todas as quartas-feiras. E não se preocupe se não se sentir chocado pela forma leve como Where’s Wanda? se revela uma comédia.

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