A consultora Capital Economics considerou esta segunda-feira que a seca no Brasil pode motivar uma subida da inflação se a produção agrícola for afetada e uma degradação da dinâmica da dívida pública se o governo intervier.

“De uma perspetiva macroeconómica, há vários canais através dos quais a economia brasileira deverá ser afetada, como problemas logísticos devido aos níveis baixos dos rios em setores como a extração de petróleo e gás, mas talvez o mais óbvio impacto seja na produção agrícola, que representa 6% do PIB do Brasil”, escrevem os analistas numa nota sobre a seca neste país lusófono, na qual salientam que Mato Grosso é importante para a produção de milho, soja e algodão.

Se a produção agrícola for afetada, apontam os analistas no comentário enviado aos investidores, e a que a Lusa teve acesso, “isso provavelmente vai originar uma subida da inflação alimentar, num contexto em que os indicadores preliminares já sugerem que os preços vão aumentar nos próximos meses, o que poderá também afetar os preços dos combustíveis devido à forte dependência de combustíveis baseados no etanol”.

A seca no Brasil pode também ter um outro impacto relacionado com a disponibilização de eletricidade, escreve a Capital Economics, referindo que em 2021 o Brasil conseguiu evitar o racionamento de energia, mas lembrou que em 2001 e 2002 teve de limitar o consumo de eletricidade em 20%, o que originou uma perda de 1% do PIB na segunda metade de 2001.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A seca terá também efeitos a nível de governação se o governo decidir subsidiar alguns produtos ou aumentar os subsídios às famílias mais vulneráveis”, exemplificam os analistas, apontando que “apesar de esta eventual ajuda poder melhorar a economia, iria piorar a dinâmica da dívida soberana numa altura em que o défice orçamental já se está a agravar e está a caminho de ficar muito acima da meta do governo”.

Cerca de 58% do território brasileiro enfrenta os efeitos daquela que é considerada a pior seca dos últimos 50 anos no país, incluindo incêndios e devastação de culturas, de acordo com dados do Governo apresentados no princípio deste mês.

Os incêndios florestais registados no Brasil nos primeiros nove meses de 2024, os maiores para o período nos últimos 14 anos, afetaram diretamente 18,9 milhões de pessoas, segundo um relatório divulgado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), no qual se aponta que os prejuízos são estimados em mais de dois mil milhões de reais (cerca de 331 milhões de euros).