Intitulada A natureza aborrece o monstro, nome “pedido de empréstimo” ao escritor Luiz Pacheco (1925-2008), a exposição reúne 13 peças em instalação de vídeo/vídeo esculturas, na sua maioria criadas nos últimos 15 anos, segundo o curador da mostra, Bruno Marchand.

“Nestas peças, Alexandre Estrela liga a ideia de beleza da natureza à ideia de monstro, não como tema, mas como horizonte, integrando-lhes referências visuais e sonoras”, descreveu o responsável pela programação das artes visuais da Culturgest.

A mostra acontece quase um ano após a apresentação da instalação audiovisual Flat Bells no Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova Iorque, primeira exposição individual de um artista português naquela instituição norte-americana, sublinhou Bruno Marchand.

Nas salas da galeria, as peças de Estrela transportam alusões a fenómenos da natureza, a animais e ao mundo mineral, assim como ao comportamento humano, resultado dos desenvolvimentos recentes das suas investigações.

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A exposição abre com Tape Worm, a peça mais recente das 13, criada este ano, uma projeção de vídeo gerado por computador sobre ecrã de alumínio gravado, onde o “worm” semi-físico e semi-digital é gerado aleatoriamente, e vai passado por um ponto de leitura que cria uma colagem de sons em constante mudança.

A maior parte das obras “estão a interagir umas com as outras, ativando-se mutuamente”, como é o caso de Pockets of Silence (2015), que cruza uma história de camuflagem sonora de guerra inventada pelo fotojornalista Dante Vacchi — que acabou por se fazer mercenário —, com uma investigação de laboratório de neurociências do comportamento de Marta Moita, no Centro Champalimaud, sobre a transmissão social do medo através do silêncio.

Ao artista “interessam-lhe as experiências científicas, a disfunção da perceção humana, quando vemos algo não correspondente à realidade, e o uso do som para criar uma reação somática no espectador”, apontou o curador.

As obras recorrem a elementos visuais, sonoros e espaciais “para construir propostas sinestésicas que tanto revelam quanto destabilizam a nossa perceção, questionando a sua mecânica, os seus limites e a sua fiabilidade”, segundo a curadoria.

Outra das obras da mostra que sobressaem pelo uso do som é Redskyfalls (2019), composta por uma projeção em ecrã gigante de uma montanha usada pelo sistema operativo MacOS High Sierra, ligada ao sistema de deteção da atividade sísmica global.

Quando acontece algum terramoto em qualquer parte do mundo, a paisagem estereotipada da montanha muda em sincronia, e surge uma banda sonora violenta do altifalante que inunda toda a exposição.

Bruno Marchand indicou que esta exposição “foi construída como um cérebro com dois hemisférios”, e “é uma espécie de corpo vivo”, pulsando de acordo com os sons, as imagens e as ativações mútuas das peças de Alexandre Estrela.

A natureza aborrece o monstro também é a primeira grande individual do artista numa instituição portuguesa desde a sua apresentação em Serralves, em 2013, tendo desde então exposto em museus e centros de arte internacionais, como o Museu Rainha Sofia, em Espanha, o M HKA, na Bélgica, e o Museu Rufino Tamayo, no México, além do MoMA, em Nova Iorque.

Na sexta-feira é inaugurada, em simultâneo, a exposição Editoria Errância, da artista Isabel Carvalho, nascida no Porto, em 1977. Nesta mostra é apresentada uma seleção de cartazes, folhetos, livros, lenços e revistas, impressos em variados meios, expostos pela primeira vez em conjunto.

Os trabalhos destacam a atividade continuada da artista no universo das edições e publicações, que, segundo a curadora, Catarina Rosendo, “tem sido tão constante como a sua prática visual”, na qual partilha um universo de preocupações ecofeministas e queer, assim como um interesse pelos processos linguísticos de significação.

Artista, escritora, designer, editora e distribuidora, Isabel Carvalho envolveu-se desde cedo, a par da sua prática artística individual, “em projetos que têm vindo a diluir os limites entre a escrita e a imagem e a questionar a noção de autoria”, segundo a curadora.

Em 2007, fundou, com o designer gráfico Pedro Nora, a Braço de Ferro, editora que, até 2011, produziu dezenas de publicações, entre livros de artista e de contos, reflexões sobre design, condições de trabalho dos artistas e tecido institucional português.

Isabel Carvalho criou, em 2017, a revista Leonorana dedicada a explorar a expressão artística como forma de conhecimento, projeto que mantém ainda hoje.

Na exposição Editoria Errância, instalada no pequeno espaço da galeria 3 da Culturgest — onde se encontrava a antiga livraria —, foi colocada uma construção em degraus que o público poderá usar para sentar-se e consultar revistas da autora.