O protesto sonoro convocado através do manifesto “Por Lisboa, faz-te ouvir”, que decorreu em seis locais da capital portuguesa, ficou marcado pela chuva faltando apitos e buzinas à causa contra o “turismo descontrolado”.

Em declarações à Lusa, Sérgio Machado Letria, um dos signatários do manifesto, explicou que a ação de quarta-feira, a primeira do grupo de cidadãos, “convoca as pessoas a fazerem-se ouvir” chamando a atenção para uma cidade onde se possa viver, além de visitar.

O protesto foi convocado através de um manifesto contra o “turismo descontrolado”, subscrito por 80 pessoas e um movimento (Porta a Porta), que alerta para o impacto do “aumento desregrado do turismo”, ao mesmo tempo que reclama “uma cidade aberta, limpa, organizada, que receba e acolha”, no respeito por quem nela vive.

“Por Lisboa, faz-te ouvir!” é o lema do manifesto, que reclama: “Qualquer cidade deve ser um espaço para viver e visitar. Quando o primeiro dos termos é esquecido em detrimento quase em exclusivo do segundo, os desequilíbrios são muitos e insustentáveis”.

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“A verdade é que estamos a viver numa cidade que aqui parece que se esqueceu que também vivem nela pessoas e parece que está só virada para quem a visita. Não há aqui nenhuma posição contra o turismo e contra os turistas”, começou por explicar Sérgio Machado Letria.

Segundo o produtor cultural, há sim “uma posição contra este executivo da Câmara de Lisboa, e também dos anteriores, que enveredaram por um caminho de levar a cidade absolutamente virada para o turismo”.

De acordo com Sérgio Machado Letria, o movimento manifesta-se esta quarta-feira e, embora sem outras datas já marcadas, irá continuar a fazer pressão para que o executivo da Câmara Municipal de Lisboa, e o presidente Carlos Moedas em concreto, “tome medidas relativamente a este assunto”.

No manifesto, os subscritores consideram que o executivo da Câmara Municipal de Lisboa, liderado pelo social-democrata Carlos Moedas, não reconhece a “existência de um problema que urge resolver, através de medidas de contenção da carga turística na cidade”.

Entre outras medidas, o responsável apontou a regulação do alojamento local, a criação de regras para a construção de novos hotéis e também, por exemplo, ao nível do trânsito rodoviário e pedonal.

“Temos de aprender com outras cidades que sofreram com a pressão do turismo como Barcelona, Veneza ou Amesterdão e que já estão a tomar medidas concretas para inverter a situação”, considerou.

Entre os signatários do manifesto (que está aberto a novos subscritores) estão personalidades como a ex-deputada Heloísa Apolónia, o sociólogo e antigo líder da CGTP Manuel Carvalho da Silva, o economista Ricardo Paes Mamede, a historiadora Raquel Varela, os músicos Filipe Raposo, Cristina Branco e Mitó Mendes e as escritoras Luísa Costa Gomes e Tatiana Salem Levy.

Assinam ainda o documento, entre outros, o escritor e professor universitário Fernando Pinto do Amaral, o arquiteto Tiago Mota Saraiva, o encenador e dramaturgo Tiago Rodrigues, as atrizes Ana Brandão e Carla Bolito, os realizadores Fernando Vendrell e Miguel Gonçalves Mendes, os programadores culturais Cíntia Gil e Sérgio Machado Letria e o cartoonista Nuno Saraiva.

A crise na habitação decorre da “expansão desbragada e encorajada de um turismo descontrolado e da especulação imobiliária que surge como uma das suas primeiras consequências”, sustentam.

O protesto — convocado para esta quarta-feira, entre as 9h00 e as 13h00 — decorreu em seis locais da cidade em simultâneo: Praça do Município, edifício da Câmara de Lisboa no Campo Grande, Chiado, São Pedro de Alcântara, Portas do Sol e Avenida da Liberdade.