Primeiro os nomes das pessoas que gostaria de ter no seu funeral, depois a lista de figuras que não queria que se apresentassem nesse dia, agora os primeiros excertos do novo livro. Pinto da Costa voltou nos últimos dias ao Dragão, neste caso ao Pavilhão para assistir ao triunfo do voleibol feminino frente ao Clube K por 3-0, mas é no espaço público que tem reassumido um protagonismo que terá como ponto alto a apresentação de “Azul até ao fim”, que irá decorrer no domingo, na Alfândega do Porto, numa sessão aberta ao público.

Agora, numa passagem conhecida do novo livro, Pinto da Costa faz duas revelações… que acabaram por ser revertidas um ano depois. A 17 de março de 2023, o antigo presidente dos azuis e brancos decidiu não só que não iria apresentar uma nova candidatura ao cargo e que não iria renovar contrato com Sérgio Conceição. Pouco mais de um ano depois, não só o líder eleito pela primeira vez em abril de 1982 avançou com nova corrida às urnas (que viria a perder contra André Villas-Boas) como prolongou o vínculo do treinador por mais quatro anos dois dias antes do sufrágio, fazendo com que houvesse uma rescisão desse mesmo acordo depois do final da temporada para que Vítor Bruno pudesse assumir a função de número 1.

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“Hoje tomei uma decisão. Vou cumprir o meu mandato até maio de 2024 mas depois não me recandidatarei. Dediquei a minha vida ao FC Porto, e vivi momentos felizes e inolvidáveis. Mas tudo tem um fim, e se Deus me der vida e saúde terminarei a minha missão com 42 anos de presidência e 86 anos de idade. Tenho a consciência de que ‘lancei’ para o sucesso muita gente. Desde empresários, treinadores, jogadores e dirigentes, tenho imenso orgulho no seu sucesso”, conta Pinto da Costa na parte do livro agora conhecida.

“A minha última aposta como treinador foi Sérgio Conceição, então treinador do Nantes. Contra a vontade de muitos, assumi essa contratação, na certeza de que triunfaria, como felizmente triunfou. Mas, porque faço da lealdade uma condição essencial para conviver, depois das declarações de Sérgio Conceição após o jogo FC Porto-Inter, não tenho condições de pensar em renovação, e depois desta desilusão, disse a mim mesmo: basta! Vou sair de consciência tranquila e continuarei a fazer o melhor que possa pelo amor da minha vida – o FC Porto”, acrescenta o antigo líder dos azuis e brancos na mesma página do livro.

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“Muitas vezes andamos aqui às voltas daquilo que é o meu silêncio, do ruído que existe no futebol e tudo o que temos feito aqui parece que depois é zero… Tudo o que fazemos com 30% do plantel da equipa B, outros 40% que vieram de equipas médias como Santa Clara, P. Ferreira, Famalicão, Rio Ave e depois o mérito é zero, falam do Otávio, do Taremi que se atira para o chão, do Sérgio Conceição que é um arruaceiro, enfim… Daí o meu silêncio… Desculpem o desabafo mas é preciso mais de toda a gente do futebol português. Com aquilo que tem, e foram cinco anos e meio muito difíceis no FC Porto, com anos de fair play financeiro, sem poder ir buscar nenhum jogador e vender só para equilibrar, o trabalho é mesmo muito pouco reconhecido, perdoem-me o desabafo…”, disse nesse dia Sérgio Conceição, na sequência de um empate sem golos do FC Porto frente ao Inter no Dragão que deixou a equipa de fora da Liga dos Campeões nos oitavos.

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Em paralelo, e num outro âmbito, Pinto da Costa recordou a noite da Assembleia Geral suspensa que para muitos se transformou numa espécie de “início do fim” para o antigo líder. “Acorreram cerca de 2.000 associados. O local escolhido, como em todas as assembleias gerais, o anfiteatro no Piso -3, foi pequeno, e tivemos de mudar para o Pavilhão Arena. Ainda antes do seu começo previ o que podia acontecer. O André Villas-Boas chegou, saiu da fila, falou para as televisões e foi embora, para Lisboa, onde ia, pela manhã, participar num evento. Vinha acompanhado por um agente da PSP e pelo conhecido sportinguista ‘Dr. Agulhas’. Isto foi tudo considerado uma provocação, até porque o agente da PSP empurrou violentamente um associado que invetivou André Villas-Boas. Estava lançado o rastilho”, descreveu.

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“Iniciada a Assembleia Geral, o Presidente Lourenço Pinto deu-me a palavra. Disse da minha independência da comissão dos estatutos, da isenção da mesma e da minha reprovação de três artigos. Fui ouvido sem qualquer contestação, em completo silêncio e respeito. Depois falaram o Dr. Miguel Brás e o Dr. Hugo Nunes. Enquanto iam explicando como se chegou a esta versão final dos estatutos, se não houve silêncio total, foi possível terminarem as suas intervenções. Quando o Henrique, conhecido por ‘Tagarela’, falou, iniciou-se o caos”, acrescentou num capítulo com o título “Assembleia Geral – Uma vergonha”.

Antes, uma reportagem da TVI tinha revelado alguns dos nomes que Pinto da Costa gostaria de ver no seu funeral: “Gostava de ter ao meu lado o António Henrique, que é o padrinho da Joana [Pinto da Costa], o Pedro Pinho, o [Adriano] Quintanilha, o Fernando Póvoas, o Luís Gonçalves, o António Oliveira, o Hugo Santos, a Sandra Madureira, o Fernando Madureira, o Caetano, o Marcos Polónia”. “Não quero mal a ninguém mas porque tanto prejudicaram a paz dos meus últimos dias não gostaria que lá estivesse alguém da atual direção do clube. Nenhum dos ex-jogadores que sempre estiveram comigo e me traíram (por exemplo, Helton, Maniche, Eduardo Luís, André, Sousa). Poderia acrescentar mais nomes, como Antero Henrique, Raúl Costa, Joaquim Oliveira, Tiago Gouveia, Pedro Bragança, mas não é preciso, porque estou certo que não terão ‘lata’ para lá ir”, soube-se por um outro excerto colocado nas redes sociais.