Muitos aplausos, agradecimentos mútuos, uma roda onde foi percetível pelos gestos que a cabeça tinha de sair obrigatoriamente levantada por tudo o que foi feito. O jogo 150 de Sérgio Conceição no Dragão, naquele que é mais um recorde do técnico nos azuis e brancos (e com a terceira melhor percentagem de sucessos, só atrás de André Villas-Boas e Vítor Pereira), terminou com uma simbiose até maior do que em algumas vitórias mas com o sabor agridoce de uma eliminação nos oitavos da Champions que acabou por ficar definida nos últimos dez minutos do encontro em Milão depois da expulsão de Otávio. Com isso, caiu por terra a hipótese azul e branca de chegar pela terceira vez em seis anos com o atual treinador aos quartos.

Grujic, podes chorar mas de cabeça levantada (a crónica do FC Porto-Inter)

Naquela que foi a terceira eliminação dos dragões com equipas italianas na Champions (Inter em 2005, Juventus em 2017 e Inter em 2023) e a primeira de Sérgio Conceição com transalpinos (antes eliminara a Roma em 2019, a Juventus em 2021 e a Lazio em 2022, neste caso a contar para a Liga Europa), o FC Porto ficou pela primeira vez em branco em encontros consecutivos da Liga dos Campeões desde 2018. No final, Sérgio Conceição mostrou-se orgulhoso do comportamento dos jogadores e do público mas, já na conferência de imprensa, teve um longo desabafo sobre o reconhecimento (ou a falta dele) de quem trabalha com armas diferentes, dando dois exemplos práticos. “O Danny Namaso entra, finta, aparece e cruza com três centrais de 1,90m. O Franco recebe, cruza para a área com três centrais de 1,90m quando podia ter tentado o remate… Posso dizer alguma coisa? Não, nada. Mas é a tal falta de traquejo…”, explicou.

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“Nos dois jogos fomos muito competentes, fomos superiores mas não fizemos o mais importante no jogo, que são os golos. Os jogadores estão de parabéns, fizeram um excelente jogo. O Inter só foi superior durante dez minutos em que ficámos com menos um jogador durante os 180 e tal ou 190 minutos que foram jogados. Fomos sempre superiores ao Inter, em todos os momentos do jogo fomos sempre uma equipa muito dedicada, estrategicamente muito capazes a perceber a forma de condicionar o adversário na sua dinâmica em posse e aquilo que tínhamos de explorar na equipa do Inter mas depois vê-se… Apesar de ser um clube histórico, e falo sempre do peso e da história, fazemos tudo para estar à altura mas tendo noção de que em certos momentos e alguns detalhes isso só vem com o traquejo dos jogadores, que conseguem num momento fazer um golo… Não estou a dizer que os nosso jogadores não tentaram mas não conseguimos. Parabéns aos jogadores, parabéns ao meu grupo de trabalho…”, referiu na flash interview da Eleven Sports.

“Medo e receio na primeira parte? Não, não estou nada de acordo com isso… Apanhámos o Inter que veio aqui jogar num bloco baixo, a tentar jogar no nosso erro e nas transições, a tentar aproveitar o espaço porque sabiam que queríamos fazer golos. Mesmo aí estivemos sempre muito equilibrados, não permitindo grande coisa à exceção de uma vez em que chegaram à nossa baliza com algum perigo e nós tivemos duas ou três ocasiões para fazermos golo. Fomos sempre uma equipa pressionante, intensa. É verdade que ao longo de 97 minutos, nos primeiros 15/20 andámos a tentar descobrir esse tal espaço que estava identificado. Nós conhecíamos bem o Inter, que desde que o Inzaghi é treinador não tem mudado, e é verdade que estava à espera de mais com a qualidade que tem a nível individual mas não, fomos superiores”, acrescentou.

“Eu também jogadores de peso mas pelo trabalho que fazem, pela dedicação que têm, mas depois há pequenos detalhes, pormenores… Em tudo o resto, sinto um misto de grande orgulho e frustração. Não direi revolta, porque não estou revoltado com nada, mas estou frustrado, estou triste… Se me permitem aqui desviar um bocado o meu discurso… Muitas vezes andamos aqui às voltas daquilo que é o meu silêncio, do ruído que existe no futebol e tudo o que temos feito aqui parece que depois é zero… Tudo o que fazemos com 30% do plantel da equipa B, outros 40% que vieram de equipas médias como Santa Clara, P. Ferreira, Famalicão, Rio Ave e depois o mérito é zero, falam do Otávio, do Taremi que se atira para o chão, do Sérgio Conceição que é um arruaceiro, enfim… Daí o meu silêncio… Desculpem o desabafo mas é preciso mais de toda a gente do futebol português. Com aquilo que tem, e foram cinco anos e meio muito difíceis no FC Porto, com anos de fair play financeiro, sem poder ir buscar nenhum jogador e vender só para equilibrar, o trabalho é mesmo muito pouco reconhecido, perdoem-me o desabafo…”, comentou na conferência.