Os desacatos na área metropolitana de Lisboa levaram o Presidente da República a emitir uma nota a apelar à calma, mas também a fazer declarações, por telefone e em direto, a três canais de televisão a alertar para o perigo de uma escalada de violência que, avisou, “tem um custo enorme”.

A principal preocupação de Marcelo Rebelo de Sousa nesta altura é que “se crie ou fomente ou alimente um clima de subida da violência”, o que “tem um custo enorme para a maioria esmagadora dos portugueses, e neste caso para a maioria esmagadora daqueles que vivem nesta área”, detalhou em declarações à SIC Notícias. Em causa estão os dois últimos dias de actos de vandalismo em alguns bairros da Grande Lisboa, na sequência da morte de um homem, na Cova da Moura, durante uma perseguição policial.

A última noite foi especialmente problemática, com o reforço do dispositivo policial em vários bairros desta área metropolitana. A situação fez com que o Presidente viesse apelar a que “nos vários concelhos”, as pessoas “resistam à tentação da violência”. “Os portugueses não querem instabilidade e violência” e “sabem que essa é uma escalada radical”. “Os portugueses são genericamente um povo sereno e tranquilo e pacífico”, afirmou garantindo que “a maioria da população é sensível a que as soluções pacíficas são sempre preferíveis aos afrontamentos violentos”.

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Na nota que tinha sido emitida pela Presidência ainda antes das declarações que fez à televisões, Marcelo tinha tinha explicado que estava a acompanhar situação “atentamente, em contacto com o Governo e os Presidentes das Câmaras Municipais da Amadora e de Oeiras”. E sublinhava que “a segurança e a ordem pública são valores democráticos cuja preservação importa garantir, em particular através do papel das forças de segurança”, mas também que essa garantia “tem de respeitar os princípios do Estado de Direito Democrático, designadamente os Direitos, Liberdades e Garantias dos cidadãos”. Concluía a dizer que “apesar dos problemas sociais, económicos, culturais e as desigualdades” da sociedade portuguesa, ela é “genericamente pacífica, e assim quer continuar a ser, sem instabilidade e, muito menos, violência”.

Depois, nas televisões repetiu que o trabalho de pacificação tem de ser feito localmente. “Tenho a certeza que a maioria da população é sensível a que as soluções pacíficas são sempre preferíveis aos afrontamentos violentos”, afirmou, considerando “muito importantes” os meios de prevenção, mas também que “a construção de uma sociedade pacífica e inclusiva começa na escola e na vida de todo os dias”.

Quando questionado sobre a resposta do Governo a esta situação, Marcelo falou de forma mais genérica para dizer que as instituições públicas “estão a ser lentas” na adaptação à velocidade mediática, referindo a rapidez com que circulam imagens e versões diferentes sobre um acontecimento. Hoje “não há tempo ilimitado para perceber compreender e reagir” e “prevenir”, diz, é também “estar atento a que hoje é preciso actuar num tempo rapidíssimo”.

Na CNN Portugal foi também questionado sobre se tenciona ir ao terreno e disse que o fará, mas que neste momento quis dar “primazia” ao Governo. “Estando o Governo na cimeira luso-espanhola, seria um gesto de sobreposição do Presidente da República em relação ao Governo o não deixar a oportunidade de o Governo, se o entendesse e quando o entendesse, hoje, amanhã, nos dias próximos, ter a primazia de ir ao terreno”.