Para Luís Marques Mendes, “a política ajudou a incendiar” a situação na última semana, marcada por tumultos na zona de Lisboa, na sequência da morte de Odair Moniz há precisamente uma semana na Cova da Moura. No seu espaço habitual de comentário aos domingos na SIC, Marques Mendes defendeu que “o problema da segurança existe” e que deve haver “mais polícia na rua”.

“O que eu acho péssimo é colocar o carro à frente dos bois”, começou por dizer, em referência às declarações feitas durante a semana por responsáveis partidários, nomeadamente do Chega e do Bloco de Esquerda. “O comportamento do Chega é o pior de todos”, sublinha. Para Marques Mendes, as declarações do líder parlamentar, Pedro Pinto, e de André Ventura, sobre as quais foi aberto um inquérito pela PGR, foram “uma coisa do outro mundo, que não se diz nem a mesa do café, nem a brincar, muito menos na televisão por parte de um dirigente político. No plano humano é a indecência institucionalizada e no plano político é piromaníaco. Não é aceitável”.

PGR abre inquérito a declarações de Ventura e Pedro Pinto sobre morte de Odair Moniz

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O comentador também teceu críticas ao partido de Mariana Mortágua. “O Bloco de Esquerda não me parece que tenha estado muito bem, a considerar logo desde início que isto é uma atitude de racismo. Tudo tem de se apurar com justiça e com rigor. Se houver circunstancias graves devem ser punidas”, defendeu.

Ainda assim, para o comentador, a maior parte dos partidos agiu com “sentido de responsabilidade” face aos acontecimentos da semana. Os desacatos que se seguiram à morte de Odair Moniz, atingido a tiro por um agente da PSP, “não têm desculpa possível. Não são protestos, são crimes”. Na visão de Marques Mendes, “a perceção pública nos primeiro dias é que o Estado falhou e as forças de segurança não foram eficientes nem na ação nem na comunicação”.

O comentador deixou elogios à manifestação que teve lugar este sábado em Lisboa, organizada pelo movimento Vida Justa, “em que as pessoas de forma cívica, sem revolta, mostraram a sua indignação e a sua solidariedade.

Sem incidentes e transformadas em batalha política. As duas manifestações em Lisboa uma semana depois da morte de Odair Moniz

Marques Mendes deixou ainda “duas reflexões” sobre segurança e sobre integração social. Citando números do último relatório anual de segurança interna, que “apontavam para um agravamento da situação”, Marques Mendes lembrou que “na altura, o comando nacional da PSP veio dizer que não devia haver mais policias na rua. E a ministra da administração interna veio dar cobertura a isso. Acho dois disparates”.

Face aos dados que apontam para o aumento do número de crimes, o comentador sublinha que “o problema existe” e para solucioná-lo “o que se impõe é uma maior visibilidade da policia na rua que ajuda a dissuadir o crime”, além de um reforço da videovigilância. “E mais ministra da Administração Interna”. Para o comentador, tem havido “falta capacidade de liderança”.

Na questão social, Marques Mendes deixou uma “sugestão” ao Governo. “Devia criar um órgão consultivo que integrasse ministérios, forças segurança, associações de moradores e autarquias para dialogarem sobre coesão social e integração em permanência e não só durante crises”.

Aumento extra de pensões deveria ser “ponderado”

Luís Marques Mendes também falou do aumento das pensões, que terá lugar em janeiro por via da fórmula legal. Assim, as pensões até 1019 euros terão aumentos de 3,1%. No escalão seguinte, de 1019 euros a 3056 o aumento será de 2,6% e acima de 3056 euros até 6111 a subida será de 2,35%. Entre 2024 e 2025, as pensões terão registado um aumento acumulado de 9,1%, acima da inflação acumulada nos dois anos, que é de 4,9%. Para Marques Mendes, continua a ser “pouco”.

O comentador lembrou que o anterior Governo decidiu, para as pensões mais baixas, aplicar um aumento extra de 10 euros. “Talvez pudesse ser ponderada agora uma hipótese semelhante”, defende Marques Mendes. “O excedente previsto da Segurança Social é muito grande este ano e combater pobreza deve ser uma prioridade, porque os pensionistas são dos mais vulneráveis da sociedade. Agora que começa o debate do Orçamento do Estado talvez fosse bom ponderar esta possibilidade”, registou o comentador.

Autárquicas vão ser “muito imprevisíveis”

O comentador antecipou ainda as eleições autárquicas de setembro de 2025, considerando que serão “muito imprevisíveis”. Para Marques Mendes, é provável que se note um “desgaste” do PCP, o “efeito Chega” que “vai concorrer em força”, apesar de o comentador prever que não conquiste câmaras, sendo ainda destaque o facto de um terço dos presidentes de câmara atuais atingir o limite de mandatos.

Os casos previsivelmente mais mediáticos serão seis, para o comentador da SIC. Em Lisboa, “a AD pode ter um reforço com uma coligação com a IL mas também pode haver uma frente de esquerda”. No Porto, termina a liderança de Rui Moreira e deverá voltar o “ciclo clássico” entre PS e PSD. Em Coimbra, o presidente da AD “tem obra a apresentar” mas o PS vai apresentar Ana Abrunhosa, que poderá ser uma candidata “forte”. Em Setúbal a CDU “corre o risco sério de perder”, tal como em Évora. E em Sintra Basílio Horta terá de sair por limite de mandatos, o que “vai ser um caso”, antevê Marques Mendes.