Quando a saída de Hugo Viana para o Manchester City foi confirmada em termos oficiais pelos dois clubes, com o diretor desportivo a ficar em Alvalade até ao final da temporada fazendo ainda o próximo mercado de inverno e começando a partir daí a distribuir pastas pelas nova estrutura montada pelo Sporting, o nome de Rúben Amorim rapidamente foi associado também ao clube inglês. Nessa altura, como agora, não era algo que preocupasse os responsáveis leoninos. Primeiro, Pep Guardiola pode estar mais perto de renovar do que sair. Depois, caso o espanhol deixasse mesmo o Etihad Stadium, existiam outras opções além do português. Havia algo que ninguém parecia ter dúvidas: a par de Viana, Amorim ficaria pelo menos até ao final da época. No entanto, e em pouco mais de 24 horas, todo esse cenário inabalável corre o sério risco de ruir.

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“Futuro? Não vou falar do meu futuro, já vinha preparado para essa pergunta. Desde o primeiro dia disse que não ia comentar. Orgulho em ser associado a grandes clubes? Tenho muito orgulho em ser treinador do Sporting…”, atirou o treinador à hora de almoço, quando fazia a habitual conferência de imprensa de antevisão à receção ao Nacional desta terça-feira, a contar para os quartos da Taça da Liga. Aí, a hipótese de rumar ao Manchester United era tão forte como em todas as outras ocasiões em que foi apontado a clubes da Premier League. No entanto, e durante o dia, o contexto foi mudando. Num par de horas, o “jogo” mudou.

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Resolvida que está a situação de Erik ten Hag, que depois de mais uma derrota pelo Manchester United foi despedido do comando dos red devils, os responsáveis do clube anunciaram o nome de Ruud van Nistelrooy como técnico interino. Não ficaram por aí e avançaram de imediato para as alternativas possíveis para uma sucessão a meio da temporada. Alguns treinadores que antes tinham sido cogitados não entraram agora nas opções, tendo em conta as respostas que foram dando perante as abordagens informais de que tinham sido alvo noutros momentos, e Rúben Amorim transformou-se rapidamente no alvo número 1.

Três grandes razões levaram a esse foco no treinador português: 1) o trabalho que tem feito no Sporting ao longo de quatro anos e meio, não só pelas conquistas desportivas mas também pela capacidade de criar mais valias potenciando jogadores e acertando em cheio nas contratações que têm sido feitas sobretudo nas duas últimas temporadas; 2) os dados estatísticos da forma como Amorim coloca as equipas a jogar, numa espécie de estudo como aquele que levou Arne Slot a ser o escolhido para suceder a Jürgen Klopp no Liverpool; 3) a possibilidade de fazerem uma espécie de “movimento de antecipação” em relação ao rival City.

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Até a questão da cláusula de rescisão se tornou a partir daí uma dúvida. As duas cláusulas conhecidas no contrato de Rúben Amorim com o Sporting, que após a última renovação ficou alargado até junho de 2026, eram simples: 20 milhões de euros para um qualquer clube no estrangeiro, 30 milhões de euros para um clube rival em Portugal. O que surgiu entretanto? Uma possível terceira cláusula que permitisse sair por um montante de dez milhões de euros caso fosse para um “clube de topo”. Assumindo que o conjunto inglês que ocupa o 14.º lugar da Premier, ainda não ganhou na Liga Europa e atravessa uma da maiores crises das últimas décadas entronca nessa descrição, essa parte poderia ser a mais fácil de ultrapassar.

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Assim, a decisão passava exclusivamente para Rúben Amorim, tendo em conta que o Manchester United teria apenas de fazer o pagamento a pronto da cláusula – que faria com que os leões recebessem menos pelo treinador do que investiram no total da aquisição ao Sp. Braga entre cláusula, valores do IVA e atrasos na liquidação do montante total. Também aqui, havia uma perceção que pode não confirmar-se.

Depois de mais um mercado de transferências em que ficou em Alvalade, e tendo de novo uma proposta de renovação de contrato com melhores condições salariais para prolongar o vínculo que termina em junho de 2026, sempre existiu a ideia em termos internos de que esta poderia ser a última temporada de Amorim nos verde e brancos confirmado-se que haveria uma proposta suficientemente tentadora para sair após a época de 2024/25. O que poucos acreditavam, segundo soube o Observador, era que existisse um cenário real de possível saída a meio de uma campanha onde o Sporting procurava não só sagrar-se bicampeão como não acontecia há várias décadas mas também dar mais um salto em termos de ambições europeias. A própria situação do Manchester United, que se tornou um autêntico barril de pólvora pronto a explodir com qualquer treinador que passe pelo comando da equipa, não fazia antever a possibilidade. Contudo, ela está próxima.

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Quando foi informado pelo empresário sobre o real interesse do Manchester United, algo que aconteceu em paralelo com os contactos com os responsáveis do Sporting para conhecer todas as condições de uma possível saída a meio da temporada, Rúben Amorim teve o impulso quase espontâneo de perceber até que ponto era hipótese “aguentar” essa vaga até ao final da época para tentar ser bicampeão pelo Sporting e assumir desde início o comando dos red devils. Em Inglaterra essa hipótese foi levantada, caso vingasse no plano interno uma solução que apontasse para a apostar no interino van Nistelrooy até ao final de 2024/25, mas ganhou força uma troca imediata para segurar o possível esta temporada e ir preparando já a próxima.

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Não existindo esse cenário, que era o preferido do treinador, Rúben Amorim teria de tomar uma decisão de carreira: 1) ficar no Sporting, acreditar que conseguiria ter tanto ou mais sucesso desportivo do que nas últimas temporadas e esperar que outra porta da Premier League se voltasse a abrir; 2) perceber que depois de Liverpool, Chelsea e muito provavelmente Manchester City seria mais um comboio a passar que poderia não voltar a parar tão cedo. Nesta fase, apesar de ter um encontro com o Nacional esta terça-feira, o técnico está a fazer uma reflexão para tomar em definitivo uma decisão que será comunicada aos responsáveis dos dois clubes nas próximas horas. O United acredita que vai ter sucesso, sendo que pelo meio as condições salariais oferecidas são bem mais vantajosas do que aufere atualmente, o Sporting espera o contrário.

À semelhança do que aconteceu com Hugo Viana, que quando foi confirmado no Manchester City já tinha o novo organograma preparado para ser apresentado (com o regresso de Bernardo Morais Palmeiro ao clube como diretor geral e ascensão na hierarquia do diretor de scouting, Flávio Costa), a SAD verde e branca, em especial o presidente Frederico Varandas, foi pensando em possíveis sucessores para poder prosseguir e até potenciar tudo o que foi feito por Rúben Amorim. Nesse sentido, apesar de não ser o timing mais desejável, João Pereira, antigo jogador que liderou os Sub-23 e está hoje no comando da equipa B, é a opção mais forte para agarrar agora no conjunto principal caso seja necessário e com margem para poder fazer também o crescimento na função. Todavia, o objetivo a curto prazo é claro: respeitando a vontade de Rúben Amorim, até pela relação aberta que sempre existiu, fazer tudo o que for possível para impedir a saída nesta fase.