Há qualquer coisa na escrita inteligente e correções automáticas com o seu quê de verdade. Senão vejamos como experimentamos escrever “burguer” e somos rapidamente retificados para “burguês”. Bom, é certo que estes hambúrgueres têm pouco de confeção de plástico e preço low budget mas permitem aburguesar na comida de conforto — sem modas, estações ou prazos de validade. “É algo a que voltamos sempre, anual, sem tempo”, garante Miguel Lopes, um dos quatro responsáveis no terreno pelas operações e cicerone neste dia.

Depois do sucesso junto ao El Corte Inglés, o Ground Burger acaba de abrir portas na zona de Santa Apolónia, no espaço do antigo Cais da Pedra, onde em tempos também se serviram hambúrgueres e em 2022 Henrique Sá Pessoa liderava uma nova encarnação desta morada —  as alterações na decoração, aliás, são pouco substanciais e a vista desarmada pouco irá reportar de diferente. “Em 2015, antes de abrirmos o primeiro Ground Burger, vir para este espaço já era o sonho do nosso investidor. Já vinha muita ao Casanova e namorava esta casa”.

A nova sanduíche de frango frito em tamanho avantajado

Em Portugal desde 2010, o norueguês Gunnar Eng já correu mundo, e foi em Atlanta que há cerca de uma década se sentou em quase todas as mesas para fazer a prova dos nove dos burguers americanos. Ficou de tal forma rendido que alargou o raio de ação, continuando a trincar especialidades entre duas fatias de pão de outras nações, de forma a lançar o projeto de abrir uma hamburgueria na capital portuguesa. Foi numa das avenidas mais movimentadas de Lisboa que em abril de 2015 as iguarias artesanais e robustas do Ground Burguer se estreavam — e dir-se-ia que se impuseram face à explosão como cogumelos de conceitos e restaurantes de hambúrgueres pela cidade. “São Sebastião foi uma oportunidade na altura e o espaço oferecia boas condições, era muito transparente, único, permitia muito contacto com o exterior. Aqui também há muito esse in e out e contacto com o rio, replicando muito o que temos no primeiro.”, descreve Miguel Lopes. Depois da casa de partida e do Cais do Sodré, seguir-se-ia ainda a roulotte que o Ground Burger mantém na zona de Belém.

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A esplanada do novo espaço, mesmo à beira rio

Talvez a maior diferença neste novo espaço esteja no balcão à entrada, uma espécie de beer lounge com janela para a rua, afinal a cerveja artesanal é outro dos elementos chave desta casa, onde tudo é artesanal e feito dentro de portas — incluindo o pão brioche que os habitués das Avenidas Novas costumam vir comprar de propósito na morada original. Mas também poderíamos falar do recheio, dos pickles, ou do molho GB (para conjugar com os aros de cebolas) que leva até oito horas a fabricar, com mais de 3o ingredientes, legumes fumados e uns pozinhos de Jack Daniels, identifica Luís Figueira, responsável pela parte de bebidas do grupo.

Os hambúrgueres de sempre mantêm lugar cativo na carta

É no andar superior deste Ground Burger que nos guia pela arca do tesouro, que é como quem diz a câmara frigorífica onde repousam à temperatura certa os barris de cervejas que alimentam cada uma das 2o bocas disponíveis, sempre em rotatividade de oferta. Não chega? Nada tema, há até 190 rótulos de latas e garrafas nacionais e sobretudo internacionais para pedir à carta. Por semana, saem à volta de 300 litros de cerveja, “das mais clássicas como a Stone até produtos americanos de nicho.”, elenca Luís.

Os onion rings voltam a fazer parte da carta

Em relação ao menu, mantém-se a fórmula à base de 100% de carne Black Angus, que vem diretamente dos Estados Unidos e é moída no próprio restaurante, ou apostas como o veggie e o lobster burguer, para não falar dos Crush Doughnuts. Mas há novidades em relação ao primeiro endereço. Para começar, os tais onion rings, que voltam a estar disponíveis em Santa Apolónia, depois de terem sido introduzido em 2015  e ficado depois circunscritos ao reduto Ground no mercado Time Out. Junte-se o mac n’ cheese (em dois tamanhos) que salta para a carta com seis especialidades de queijo, bem como uma sanduíche butter chicken fried (aviso à navegação: convém dividir porque é XL). Acrescente-se ainda a nova salada coleslaw, e o cookie de chocolate e avelãs. “Esta cozinha tem muito mais espaço e permite fazer outras coisas, acaba por ser mas fácil criar estes produtos novos que já estavam na cabeça há muito tempo mas faltavam as condições ideias”, explica Luís.

Mac n’ cheese ou mais uma item para reforçar a lista de iguarias com sabor norte-americano

E a receita para as filas e sala habitualmente cheia a uma passo da Gulbenkian? “Acho que é manter a qualidade as vários níveis, no produto e no serviço, acho que o sucesso vem daí. Somos muito genuínos no que fazemos.”, confia Miguel, sem receio de tendências marcadas por smash burgers e outras estrelas na cidade. “É um meio competitivo, sabendo sobretudo que em Lisboa vão abrindo tantos conceitos. É sempre desafiante mas saudável ao mesmo tempo.”

Se o divórcio absoluto com o rio e as esplanadas nesta língua de terra só tem sido evitado com as famosas “pizzas do Lux”, aka Casanova (já que tudo o resto foi fechando portas), temos boas notícias, para lá deste novo ponto para experimentar os hambúrgueres e para poder comer paredes meias com o Tejo, na zona exterior: aqui mesmo ao lado, o mesmo grupo do Ground Burger (que detém ainda as lojas de donuts da Crush Doughnuts, a One Pint, e ainda as pizzas e cervejas da Brew) vai explorar outros espaços deste complexo Cais da Pedra em regime de aluguer.

Uma panorâmica da sala

Preveem abrir no começo de ano o Dog Yard, um pouso com 12 lugares e versão take away para fãs de outra instituição norte-americana, os cachorros quentes — e a expectativa é que possam servir 24 horas por dia, proporcionando o mata-bicho perfeito para quem sai do vizinho Lux pela fresca. Na agenda está também outra abertura, um Ground Deli, uma loja americana de produtos de mercearia para consumo também no espaço, incluindo vinhos — e que acaba por render o também extinto Delidelux. Quanto à Bica do Sapato, outro clássico que ainda em 2019 acusava um destino incerto, o projeto (neste caso já em outras mãos) deverá seguir uma vertente mais fancy. “Esta zona estava fechada há muito tempo, queremos dinamizá-la”.

Ground Burguer Santa Apolónia, Av. Infante Dom Henrique 9, Lisboa. Aberto todos os dias, do meio dia à meia noite