Oito em cada 10 docentes do ensino superior dizem sentir-se impreparados para ensinar alunos com necessidades educativas especiais, uma falha que o programa i-HETP quer colmatar com a disponibilização de conteúdos formativos agora abertos ao público.
David Sotto-Mayor Machado conhece bem as dificuldades de um estudante com necessidades educativas especiais. No primeiro ano da licenciatura, foi diagnosticado com um tumor na boca e, na sequência do tratamento, ficou com uma lesão no cérebro.
A experiência pessoal levou-o a dedicar-se mais tarde ao tema da educação inclusiva e foi no âmbito do mestrado na Atlântica — Instituto Universitário que desenvolveu o programa i-HETP (Inclusive Higher Education Training Program), apresentado esta quarta-feira.
“Tenho dedicado a minha investigação académica a projetos tecnológicos de apoio a estudantes com necessidades educativas especiais”, explicou em declarações à Lusa, acrescentando que, ao longo desse trabalho, ficou também clara a necessidade de formação quanto a metodologias pedagógicas.
Num inquérito realizado no ano passado, que envolveu 452 docentes universitários, a maioria portugueses, 82% dos inquiridos consideraram não estar preparados para ensinar um estudante com necessidades educativas especiais.
“Grande parte desses professores está especialmente preocupada se os estudantes tiverem uma incapacidade sensorial”, referiu David Sotto-Mayor Machado.
De acordo com os resultados do inquérito, apenas três em cada 10 professores disseram estar satisfeitos com a formação que receberam em relação a metodologias pedagógicas, estratégias e ferramentas para a inclusão dos estudantes com necessidades educativas específicas.
Partindo destas conclusões e dos relatos de associações e estudantes ouvidos, a equipa de investigadores coordenada por David Sotto-Mayor Machado desenvolveu o programa i-HETP, centrado na capacitação de professores universitários e pessoal não docente em metodologias de ensino inclusivas.
“Tentei esquecer a experiência pessoal”, explicou o investigador, acrescentando que as dificuldades relatadas revelaram a necessidade de ir além da formação pedagógica.
“Além de os nossos módulos conterem material relativo às metodologias pedagógicas e acessibilidades físicas — que são extremamente importantes, mas para as quais a sociedade, felizmente, já está muito mais consciente — abordamos outras questões como a inclusão do estudante no seu dia-a-dia“, referiu.
A fase piloto envolveu 504 utilizadores de oito países, a maioria em Portugal (252), mas também na Roménia (70), Espanha (57), Chéquia (36), Polónia (31), Itália (30). Turquia (26), Brasil (um) e Hungria (um).
“Depois desta fase piloto, o projeto vai continuar ‘online’, é possível ser utilizado por qualquer professor“, disse o coordenador do programa.
Com conteúdos sobre diferentes tipos de deficiências físicas, David Sotto-Mayor Machado sublinhou que um professor que receba uma turma com algum aluno com necessidades educativas específicas, poderá aceder à plataforma para ter “respostas às questões específicas que encontra”.
O programa é apresentado esta quarta-feira num simpósio, na Atlântica — Instituto Universitário, com a participação de investigadores e especialistas na área do ensino e acessibilidade. O objetivo, explica o coordenador, é “tentar chegar a um público ainda mais alargado”.