“A Substância”

Distinguido com o Prémio de Melhor Argumento no Festival de Cannes, este filme da francesa Coralie Fargeat (Vendetta) rodado nos EUA, trabalha temas já muito minerados, como a superficialidade da indústria da imagem e a sua obsessão pela juventude e pela perfeição física, ou a objetificação do corpo da mulher (que a “feminista” Fargeat filma tal qual um homem…), em termos de sátira grotesca e de “body horror” extremo. Demi Moore é Elizabeth Sparkle, uma estrela de cinema em declínio que é despedida do seu programa televisivo de fitness por causa da idade. É-lhe então facultada (de graça, e não se sabe por quem nem porquê) a substância do título, que replica as células do corpo humano e cria, durante uma semana, uma versão mais jovem e melhor de si mesma, saída da sua espinal medula e chamada Sue (Margaret Qualley). Esta toma o lugar de Elizabeth no novo programa de fitness do viscoso produtor que a despediu (um caricatural Dennis Quaid), enquanto aquela hiberna. Só que Sue gosta de ser uma “estrela” e começa a prolongar o período de hibernação de Elizabeth por mais tempo do que o prescrito nas instruções da droga. E sempre que esta acorda, está cada vez mais velha e disforme. A Substância é um filme insistente e forçadamente estilizado, e superficialíssimo na sua condenação da superficialidade, perdendo o tino e acabando por se auto-destruir nos indescritíveis 20 minutos finais, em que a realizadora parece querer bater o recorde de “gore” em jato contínuo num filme de terror e acena na direção das fitas de Herschel Gordon Lewis, do massacre no baile do liceu de Carrie e de Society, de Brian Yuzna. E já agora, chamar a isto “cronenberguiano” é insultar David Cronenberg. Alguém devia ter lembrado a Coralie Fargeat que, como se diz no seu país, “Trop, c’est trop”.

“Um Café e um Par de Sapatos Novos”

Agim e Gëzim, dois gémeos albaneses idênticos, surdos-mudos e inseparáveis, que vivem juntos, recebem a notícia de que vão ficar cegos em breve devido a uma rara doença genética. A história passa-se na Tirana dos nossos dias, nesta co-produção luso-albanesa assinada por Gentian Koçi e em que os dois protagonistas são interpretados pelos atores gémeos portugueses Rafael Morais e Edgar Morais. Um Café e um Par de Sapatos Novos é um filme discreto e modesto, mas nem por isso desmerecedor da nossa atenção, sobretudo porque o realizador e os gémeos Morais conseguem transmitir a força dos laços fraternais que unem Agim e Gëzim, bem como o desamparo e o desespero que os atinge quando percebem a situação em que vão ficar, sem enveredarem por espalhafatos melodramáticos atrás e à frente da câmara.

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“O Conde de Monte-Cristo”

Pierre Niney sucede a nomes ilustres como Robert Donat, Pierre Brasseur, Jean Marais, Louis Jourdan, Gérard Depardieu, Richard Chamberlain ou Jim Caviezel, no papel de Edmond Dantès, em mais uma adaptação do inesgotável romance clássico de aventuras e vingança de Alexandre Dumas, realizada pela mesma dupla que filmou antes Os Três Mosqueteiros em duas partes, Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière. O Conde de Monte-Cristo é o filme francês mais caro deste ano, com um orçamento de mais de 40 milhões de euros, e já fez mais de oito milhões de entradas, sendo um dos grandes sucessos de 2024 e o terceiro mais lucrativo da atual temporada cinematográfica em França. No elenco surgem também Anaïs Demoustier, Pierfrancesco Favino, Laurent Lafitte, Bastien Bouillon e Anamaria Vartolomei.

“Anora”

Palma de Ouro no Festival de Cannes, este filme de Sean Baker (TangerineThe Florida Project), centra-se em Ani (Mickey Madison), uma dançarina erótica de ascendência uzbeque, com 24 anos, que vive e trabalha na zona de Brighton Beach, em Brooklyn, e tem relações sexuais pagas com alguns clientes. Uma noite, o dono do clube pede-lhe que tome conta de um cliente russo que fala mal inglês. Ele é o jovem Vanya Zakharov (Mark Eydelshteyn), o filho mimado, borguista e irresponsável de um oligarca russo, que está a estudar nos EUA. Vanya fica tão fascinado por Ani que a leva para a luxuosa casa dos pais, e a contrata depois em exclusividade por uma semana como falsa namorada. Durante uma ida a Las Vegas, Ani e Vanya casam-se num impulso. Anora foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.