Depois do Bloco de Esquerda ter pedido a demissão da Ana Paula Martins e de outros partidos da oposição terem apelado à reflexão do primeiro-ministro sobre se mantém a confiança na ministra da Saúde (o Chega pediu mesmo uma remodelação), dois ex-titulares daquela pasta dizem à Rádio Observador que a demissão não é a melhor solução.
Em declarações à Rádio Observador, Ana Jorge acredita que a situação atual não é menos grave do que a que levou à demissão de Marta Temido: “Não é muito diferente, mas é pior”, defende a antiga ministra que lembra que “o número de mortes é superior”.
Ana Jorge: “Ministra deve agir de imediato, mas a responsabilidade é de todo o Governo”
Marta Temido demitiu-se, em 2022, na sequência da morte de uma grávida que aguardava para ser transferida do Hospital de Santa Maria para São Francisco de Xavier, em Lisboa.
Ana Jorge, que foi afastada do cargo de provedora da Santa Casa da Misercórdia de Lisboa por decisão do Governo de Luís Montenegro, considera que o Executivo deve responsabilizar-se pelas consequências da greve do INEM. Nove pessoas morreram à espera de assistência.
E deve resolver analisar, com a maior rapidez possível, as falhas que levaram à morte de nove pessoas, numa altura em que o INEM teve menos de uma dezena de técnicos a atender as chamadas de emergência em todo o país. “Ministra da Saúde tem de agir de imediato”, diz.
Para a antiga ministra “não é possível resolver os problemas do INEM a curto prazo”, no entanto aponta medidas para mitigar os constrangimentos, como “acabar com as horas extraordinárias dos técnicos, revisão de carreiras e dos processos de emergência médica”. Um serviço que não pode viver de remendos, diz Ana Jorge.
Adalberto Campos Fernandes. “Trituração de ministros não resolve os problemas”
O antigo ministro Adalberto Campos Fernandes, considerou esta sexta-feira no programa “Direto ao Assunto” que a demissão da ministra da Saúde não vai resolver os constrangimentos no INEM, relacionados com a morte de nove pessoas. O antigo governante diz que a pasta da Saúde é das mais difíceis de gerir, e acredita que a saída da líder da tutela pode prejudicar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) numa altura em que o inverno se aproxima.
Adalberto Campos Fernandes explicou ainda que os problemas do instituto do INEM já são antigos, apela a uma renovação estrutural no serviço de emergência médica, e defende que é preciso investigar com profundidade o que aconteceu nos últimos dias
No entanto, acrescentou o ex-ministro do Governo de António Costa, que é o primeiro-ministro quem deve avaliar as condições para a continuidade de Ana Paula Martins, assim como a própria ministra.